Ghostface (Billy) - Hot

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   A monotonia corroía Billy como um ácido. O jardim da escola, um cenário de tédio insuportável, refletia a vacuidade que o consumia. Stu, com sua concentração infantil na centopéia indefesa, era uma imagem de normalidade que o irritava profundamente.  A calma aparente era uma máscara para a tormenta interna. 

   A lembrança do assassinato da ex-namorada, a manipulação perfeita que colocou a culpa no pai dela, era um triunfo amargo, um triunfo que não o satisfazia. A ausência da adrenalina do crime o deixava vazio, um vazio que só a violência poderia preencher. Mas o risco era calculado, uma equação fria de probabilidades. Outro assassinato, tão próximo do primeiro, seria um erro imperdoável. Ele precisava de algo mais...  sofisticado. Um jogo de gato e rato com o FBI, onde ele seria o predador implacável.  A ideia de esconder um corpo na floresta, atribuindo a culpa a um animal selvagem, surgiu como uma solução elegante, uma obra de arte macabra.  Mas a perfeição era necessária, cada detalhe planejado minuciosamente.

  A espera era torturante, mas necessária.  Ele observava os alunos, estudando suas rotinas, seus pontos fracos, escolhendo sua próxima presa.  A decisão estava tomada.

— Pega a mochila, e o livro de contatos. Preciso escolher a próxima vítima. —  A frieza em suas palavras era um véu que mal dissimulava a voracidade que o consumia. 

   Stu, absorto na árdua tarefa de exterminar uma centopéia teimosa, ergueu a cabeça, o sorriso habitualmente idiota estampado em seu rosto.  Mas a solicitude de Billy, tão casualmente cruel, quebrou a sua concentração.  A paciência de Stu esgotou-se num instante.

— Claro, meu rei! Gostaria de um cházinho para acompanhar?  TA ME CONFUNDINDO COM UM EMPREGADO É!!? Pelo menos pede por favor! — explodiu Stu, a indignação tingindo sua voz. A grosseria da solicitação feriu seu orgulho.  Billy revirou os olhos, impaciente, e desferiu um tapa na nuca do amigo, um aviso silencioso.

— Pega logo esse livro! — ordenou, cruzando os braços. Stu, resmungando, obedeceu, a irritação borbulhando sob a superfície da sua aparente subserviência.

De repente, um impacto. Uma mochila atingiu Billy em cheio na cabeça. Stu explodiu em gargalhadas. Billy ia protestar, a fúria se acumulando, quando uma voz suave o interrompeu.

— Desculpa.— disse uma garota, aparecendo meio nervosa, um sorriso sem graça nos lábios.  — Foram aqueles idiotas que não me deixam em paz. —   Ela explicou que um bando de valentões a importunava, e a mochila, lançada com violência, fora causada por eles.

Billy a examinou de cima a baixo, um olhar de desdém inicial, mas também uma curiosidade latente em seus olhos escuros.  Ele devolveu a mochila, a ação quase mecânica, mas a observação sobre ela o havia parado.  Algo em seu semblante, na fragilidade de sua postura, o intrigaria.

— Obrigada, e me desculpa novamente. — ela disse, o sorriso gentil, quase hesitante,  iluminando seu rosto.  Foi um sorriso genuíno, sem malícia, e Billy sentiu algo diferente, uma estranha sensação de calor que o fez desconcertar. Observando a garota ir embora para a cantina, deixou Billy meio atônito. A frieza habitual que o envolvia como uma armadura começou a rachar.  Ele ainda mantinha a máscara de tédio, mas por trás dela, um turbilhão de emoções inesperadas tomava conta: surpresa, curiosidade, uma atração inegável.

Stu, percebendo a mudança sutil na postura do amigo, resolveu intervir. 

— Billy?— chamou, cutucando-o no ombro.  Sem resposta.  Stu, com urgência, ligou uma música de Heavy Metal no volume máximo, bem próximo ao ouvido de Billy. — ACORDA!! — gritou.

O susto foi instantâneo.  Billy, sem pensar, desferiu um soco no rosto de Stu, que caiu no chão, o nariz inchado, mas sem ferimentos graves.  A violência repentina, o rompimento da tensão acumulada, pareceu libertar algo em Billy, uma explosão de frustração e confusão, misturada com a estranha sensação de admiração pela garota que o havia atingido com a mochila. A próxima vítima, pensou na garota de sorriso gentil. Com um sorriso cruel nos lábios, Billy teve uma ideia. O alvo agora havia mudado.

𝑰𝒎𝒂𝒈𝒊𝒏𝒆 𝑺𝒍𝒂𝒔𝒉𝒆𝒓𝒔 (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora