capítulo vinte e quarto

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A despedida do acampamento começou com os primeiros raios de sol atravessando as copas das árvores, iluminando suavemente o local onde tantas memórias haviam sido criadas. As malas estavam quase prontas, e o cheiro do café da manhã se misturava ao frescor da manhã.

Lavínia, ainda sonolenta, ajeitava o cabelo diante de um pequeno espelho portátil. Luiza, do outro lado da cabana, dobrava cuidadosamente suas roupas, com a expressão de alguém que já sentia saudades antecipadas.

— Lu, você acha que tudo vai voltar ao normal quando a gente chegar no colégio? — Lavínia perguntou, um pouco hesitante.

Luiza parou por um momento, ponderando.

— O que você quer dizer com "normal"? — respondeu, arqueando as sobrancelhas.

— Sei lá... as brigas, os ciúmes, o André me irritando toda hora... essas coisas. — Lavínia suspirou, cruzando os braços. — Aqui pareceu tão... diferente.

Luiza deu um sorriso compreensivo.

— Talvez porque aqui vocês tiveram tempo de se enxergar de outro jeito. Mas, Lav, a vida não é mágica. Se você quer que algo mude, tem que começar por você mesma.

Lavínia mordeu o lábio inferior, perdida em pensamentos. Não era fácil admitir, mas Luiza tinha razão.

Do lado de fora, André e Pedro já estavam prontos, ajudando Isa a organizar os equipamentos restantes. O clima leve do dia anterior parecia ainda pairar entre eles. Isa, que sempre gostava de ter o controle das situações, distribuía tarefas com eficiência, mas com um toque de bom humor que fazia Pedro sorrir a cada instrução.

André, por sua vez, observava tudo de longe, com as mãos nos bolsos, até que Lavínia saiu da cabana, com a expressão indecifrável de quem tinha algo importante a dizer.

— André, podemos conversar? — ela perguntou, ignorando por um momento o restante do grupo.

Pedro e Isa trocaram um olhar cúmplice, afastando-se sutilmente para dar espaço aos dois. André assentiu, acompanhando-a até um ponto mais isolado, próximo ao lago.

— Você sabe que eu odeio despedidas, né? — Lavínia começou, evitando o olhar direto.

— Sei. Mas o que você realmente quer dizer? — André perguntou, cruzando os braços, curioso.

Ela respirou fundo, tentando organizar as palavras.

— Acho que nunca disse isso antes, mas... eu gosto do jeito que você sempre tenta unir todo mundo. Mesmo quando a gente briga ou quando eu sou... complicada. Você faz parecer que tudo vai dar certo.

André arqueou as sobrancelhas, surpreso, mas logo sorriu de canto.

— É, você é complicada mesmo. — Ele provocou, recebendo um olhar fulminante de Lavínia. — Mas acho que gosto disso em você.

Ela revirou os olhos, mas não conseguiu conter o sorriso que escapou.

— Só queria que você soubesse. — Lavínia concluiu, virando-se para ir embora, mas André segurou sua mão antes que ela pudesse dar o primeiro passo.

— Ei. — Ele a puxou gentilmente para mais perto. — Acho que nunca te disse isso também, mas eu gosto de quem você é. Mimada, teimosa, e tudo mais. Porque, no fundo, você se importa com todo mundo, mesmo que tente esconder.

Lavínia ficou em silêncio por um momento, as palavras dele ecoando em sua mente. Então, sem pensar muito, ela o abraçou. Um abraço rápido, quase inseguro, mas o suficiente para fazê-los perceber que algo havia mudado.

— Só não se acostume. — Ela sussurrou antes de se afastar, fingindo indiferença, mas o sorriso em seu rosto entregava o contrário.

Quando os dois voltaram para o grupo, Isa e Pedro estavam rindo de algo que parecia banal, mas que trazia uma leveza difícil de ignorar. O acampamento estava oficialmente terminado, mas a jornada deles, tanto como amigos quanto como casais, estava apenas começando.

Ao entrarem no ônibus, Lavínia olhou pela janela, o reflexo do lago ainda visível à distância. Ela sabia que as coisas não seriam perfeitas, mas, pela primeira vez, sentiu que talvez estivesse pronta para enfrentar o que viesse. Afinal, com André, Isa e Pedro ao seu lado, tudo parecia possível

Continua..

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