Capítulo 48

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NARRADO PELA NATALIA

Acordei pontualmente as 06:00. Estava deitada sobre o peito de Luan, que ainda dormia divinamente. Levantei minha cabeça lentamente e fiquei o observando por alguns segundos, calmamente toquei seus cabelos com minhas mãos, mas com muito cuidado, pois não queria acorda-lo agora. Me levantei enrolada no lençol, peguei minha aliança que estava sobre o criado mudo e a coloquei novamente em meu dedo, olhei para Luan novamente e balancei minha cabeça em forma de reprovação, aquilo não deveria ter acontecido, sequei uma lágrima que corria por meu rosto e caminhei até o banheiro para tomar um banho.
Porto havia amanhecido bem gelado naquele dia, por isso acabei optando por uma calça jeans, uma blusinha branca de manga, uma jaqueta marrom de couro e uma botinha preta de cano baixo. Penteei meus cabelos e retornei para o quarto. Aproveitei que Luan estava dormindo e tomei a liberdade de pedir ao hotel que trouxesse o café da manhã para nós no quarto. Poucos minutos depois a campainha tocou:
-Seu pedido senhorita. Quer que eu arrume a mesa? -O garçom perguntou assim que abri a porta
-Muito obrigada, mas não será preciso... -Peguei a bandeja de suas mãos
-Como quiser senhorita. Com sua licença... -Ele saiu. Claro que eu não poderia o deixar entrar, já pensou se ele visse o Luan ali?
Tranquei a porta com cuidado e me dirigi com a bandeja até a mesa, para arrumar tudo direitinho para quando ele acordasse...

NARRADO PELO LUAN

Lentamente comecei a acordar, tateei minhas mãos na cama, mas não encontrei Natalia... Há não! será que ela havia ido embora?... Me perguntei levantando rapidamente, peguei minha calça que estava caída no chão e a vesti mais do que depressa. Ouvi barulhos vindo do outro cômodo, caminhei cuidadosamente até lá e a vi sentada na mesa com uma xícara de café nas mãos:
-Oie... -Me aproximei meio sem jeito
-Há... oi Luan... -Parecia um pouco preocupada
-Por que não está deitada? ainda está cedo... -Comentei me encostando na parede e a encarando
-Perdi o sono... -Falou bebendo um pouco de café- Está com fome? -Perguntou calmamente. Apenas me aproximei e sentei em sua frente
-Você está bem? -A olhei
-Vou ficar... -Desviou seu olhar para longe
-Você se arrependeu? -Murmurei
-Não Luan, eu não me arrependi... -Nossos olhos se encontraram- Só... só não deveria ter acontecido... -Colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha
-Nós nos amamos... -Peguei em sua mão
-Mas não podemos negar que as coisas mudaram... -Falou e só então eu pude perceber que a aliança estava novamente em seu dedo
-Então, você vai se casar? -Soltei sua mão e me encostei na cadeira
-É, eu vou... -Respondeu tímida
-É isso mesmo que você quer?
-Será o melhor a fazer...
-Por que? eu não sou bom o suficiente pra você?
-Não confunda as coisas Luan... você é um homem incrível! o melhor que já conheci... mas tem que entender que as coisas mudaram, nós mudamos... -Falava segurando minha mão- Mas não quero falar sobre isso e nem discutir com você, apenas quero curtir esse nosso último momento juntos... -Seus dedos acariciavam minha mão, quando uma lágrima rolou por seu rosto. Cuidadosamente a sequei com meu polegar e fiquei acariciando seus rosto. Ela sorriu docemente para mim, se levantou e se sentou em meu colo, onde encostou sua cabeça em meu ombro e se apoiou colocando seu braço em volta do meu pescoço. Apoiei minha cabeça na sua e a abracei fortemente, enquanto sentia o cheiro suave de seus cabelos:
-E eu sempre amarei você minha pequena... sempre... -Sussurrei em seu ouvido sentindo meu coração apertar. Em um gesto simples, ela entrelaçou sua mão na minha
-Sempre estaremos juntos meu menino... sempre e sempre... -Virou sua cabeça me olhando. Sorrimos juntos e nos calamos em mais um abraço forte...

NARRADO PELA NATALIA

Depois que Luan se arrumou, pedi que ele colocasse um casaco meu com capuz e um óculos preto, não queria que ninguém nos visse saindo juntos do hotel, eramos pessoas públicas, com uma imagem a zelar, mas minha maior preocupação no momento era fazer o Christian sofrer com tudo isso, poxa, ele sempre cuidou tão bem de mim, e além disso, Luan tinha a namorada dele, não queria que tudo acabasse por minha causa.
Fomos em silêncio o caminho todo. E depois de um trajeto de 20 minutos, chegamos ao cemitério. Percebi que Luan havia ficado incomodado com aquele ambiente:
-Vai ficar tudo bem... -Falei e ele apenas assentiu com a cabeça. Descemos e caminhamos até uma lojinha de flores que ficava ali na frente:
-Natalia! Que saudades de você minha filha! -O senhor dono da loja me cumprimentou. Desde que perdi meu filho, todos os fins de semana passava no cemitério para visita-lo, e sempre comprava as mesmas flores com ele, que com o passar dos anos, se tornou um grande amigo
-Olá senhor Leonor! -O abracei- Também estava com saudades do senhor! -Leonor deveria ter uns 80 anos, mas ainda tinha o mesmo rosto da época em que o conheci
-Quem é o rapaz ai? -Apontou para Luan
-Há... é um amigo meu de Lisboa...
-Hum, nunca o havia visto por aqui antes... prazer filho... -Cumprimentou-o
-O prazer é todo meu senhor Leonor!
-Como se chama meu jovem? -Perguntou e eu encarei Luan
-Ele... ele se chama...
-Luan, meu nome é Luan... -O olhei pasma e decidi mudar de assunto
-E então senhor Leonor, tem das minhas preferidas? -Falei observando as flores
-As suas sempre ficam guardadas querida... -Foi para trás do balcão e me entregou duas rosas brancas, acertei com ele e caminhei para dentro do cemitério com Luan. Como ainda estava cedo, não haviam muitas pessoas por ali...
-Por que brancas? -Luan perguntou com as mãos no bolso do casaco
-Rosas Brancas significam paz e harmonia, e isso é apenas tudo o que eu quero para mim e para ele... -Luan balançou a cabeça, como se concordasse comigo. Andamos mais um pouco e logo chegamos a um lugar gramado, com muitas árvores em volta, onde ficava o túmulo do nosso filho- É aqui... -Falei com a voz apertada. Luan tirou o casaco e o óculos e os entregou para mim, se aproximou do túmulo e colocou a mão sobre a lápide
-Rafael... -Luan passou os dedos sobre o nome que estava gravado na lápide- Você deu um nome lindo ao nosso filho... -Sorri e me aproximei de Luan o entregando uma rosa branca. Coloquei a minha sobre o túmulo e ele se abaixou fazendo o mesmo, quando se levantou seus olhos estavam cheios de lágrimas
-Por que ele teve que ir embora tão cedo? -Sentia a angústia presa em sua garganta. Preferi não dizer nada, apenas o abracei e deixei que chorasse sobre meu ombro.
Apesar de tudo, fiquei feliz quando olhei para o lado e em vez de uma, vi duas Rosas Brancas ali, como se fossemos nós dois protegendo nosso pequeno...

E Eu Sempre Amarei Você...Onde histórias criam vida. Descubra agora