Um aniversário um tanto estranho

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Annabelle acordou e percebeu que grandes olhos castanhos-claros a encaravam. Pulou da cama, assustada e percebeu que era apenas Jeanny tentando lhe pregar uma peça. Depois de sair correndo atrás dela pelo orfanato inteiro, finalmente percebeu que havia uma faixa pendurada desajeitadamente no teto da sala. Nela, escrito com giz de cera estava os nomes de Jeanny e o dela. Então ela se lembrou. Era seu aniversário! Estava pensando nisso há dias, e agora havia se esquecido...

Provavelmente sua cabeça devia estar ocupada demais lembrando de seu pesadelo.  Quando se lembrava daquelas palavras frias, ásperas como um sibilo de uma serpente, sentia arrepios. Mas Annabelle decidiu que poderia pensar nisso em qualquer outra hora, menos hoje.

Seu dia passou rapidamente. Infelizmente, não ganhou o gato que tanto havia pedido. No lugar disso, ganhou um ursinho de pelúcia. O presente que mais gostou foi o que Jeanny havia lhe dado. Conhecendo Jeanny como Annabelle conhecia, ela suspeitava que o presente fosse roubado, mas adorou mesmo assim. Era uma pulseira prateada com um pingente em formato de um gato. Colocou a pulseira na hora, a considerando algo como um amuleto da sorte.

Teria ido dormir bem, se durante o jantar, Lynnette não tivesse feito um comentário sobre Annabelle.

-Nossa! Faz onze anos que a pessoa mais estranha desse orfanato nasceu!

Annabelle não aguentava mais! Não aguentava mais a considerarem estranha pelo seu passado desconhecido. Não aguentava mais a acharem esquisita porque não tinha muitos amigos. Ela só queria poder viver sem julgamentos. Annabelle fixou seu olhar no colar que Lynnette usava e, por um instante, pensou em como seria bom se a garota sufocasse.

De repente, o cordão começou a ficar menor, até começar a apertar o pescoço de Lynnette. A garota começou a gritar, desesperada. Enquanto todas tentavam ajudar, Annabelle estava perdida em seus próprios pensamentos. Ela havia feito aquilo? Não era possível!

Independente de todas as suas dúvidas, de uma coisa Annabelle sabia: Não poderia fazer isso com uma garota por causa de um simples comentário. Annabelle se concentrou de novo no colar, mas dessa vez, pensou com todas as suas forças que ele deveria parar de machucar Lynnette.

Logo, Lynnette parou de gritar. O colar havia se quebrado e estava caído no chão. A garota olhou para todas que estavam no recinto, e parou em Annabelle. Annabelle teria sustentado o olhar e criado um conflito entre as duas naquele momento. Mas suas pernas cambalearam, e sua visão escureceu. Ela havia desmaiado.

Mais uma vez, estava no grande castelo com as quatro faixas coloridas no meio de um interminável cenário preto e branco. Mas havia uma diferença desde seu último sonho: Agora parecia muito mais real. Sentia como se realmente estivesse naquele lugar. Começou a andar em círculos, procurando alguma coisa ou alguém.

Quando estava cansada de tanto procurar, ouviu passos. E então, mais uma vez surgiu aquele garoto que se parecia com ela, e no seu último sonho havia se transformado em fumaça. Dessa vez, o garoto, que parecia ter uns dezessete anos, a olhou fixamente, e abriu um sorriso brincalhão.

-Parece que a minha beleza é hereditária...

Annabelle o olhava confusa, tinha tantas perguntas passando por sua cabeça, mas ela se concentrou na que mais queria uma resposta.

-Quem é você?

-Tudo ao seu tempo, Annabelle! Só preciso que esteja preparada?

-Preparada para que? -perguntou mais uma vez, tentando conseguir uma resposta.

-Para me vingar! Para seguir seu legado, e destruir todos os bruxos e trouxas que se rebelaram contra a minha dominação...

-Bruxos? -Annabelle estava perguntando por impulso, afinal, a cada resposta ficava mais confusa.

-A magia existe, querida! Você só tem aprender como usá-la! Por isso, preciso que fique pronta! Prepare suas malas, porque nessa madrugada, você irá receber uma visita. E finalmente, suas dúvidas acabarão...

O garoto começou a desaparecer, e Annabelle, desesperada por respostas, fez sua pergunta final.

-Qual o seu nome?

Uma voz ecoou pelas paredes: "Tom Riddle!".


Annabelle Riddle e a descendência do malOnde histórias criam vida. Descubra agora