XI. Aprenda a chamar quando precisar, por favor

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XI

DUPNTE

Dizer que as coisas estavam indo bem era uma mentira branca que Renjun se via repetindo automaticamente para todos que lhe perguntavam como estava. Era uma resposta imediata, que saía quase sem pensar, acompanhada de um sorriso robótico e mais palavras rasas.

No fundo, o que ele realmente queria fazer era gritar.

Como diabos você acha que eu estou, porra?!

Mas ele não podia fazer isso. Ele realmente não podia explodir ali. Não quando estava completamente só, à mercê de estranhos, sem ninguém para quem pudesse correr. Não havia um único rosto familiar, ninguém para quem pudesse correr em busca de apoio ou proteção, ou que ao menos lhe acolheria quando as coisas ficassem instáveis.

Quando saiu de casa, Renjun acreditou que daria conta. Ele realmente acreditou que poderia lidar com tudo aquilo. Só que não estava sendo exatamente a situação mais confortável de se passar. Conforme os dias passavam, a ilusão de controle se desmanchava, deixando para trás apenas o vazio e a sensação de fracasso.

Renjun tinha bastante consciência de seu medo irracional de ficar sozinho. Sua mãe também sabia, e talvez fosse por isso que não reclamou quando ele apareceu em casa, ainda um pré-adolescente, com um gatinho branco nos braços, ambos com os olhos chorosos pedindo para que Yuling permitisse a ficada do mais novo membro da família. "Por favor, mãe, deixa ele ficar..."

Yuling apenas suspirou naquele dia, sabendo que não teria coragem de dizer não. E desde então, Nana se tornou uma âncora, uma presença estável na vida de Renjun, junto com a própria mãe. Entre os dois, ele sempre teve um lar, sempre teve certeza de que eles o acolheriam a qualquer momento.

Mas agora eles estavam longe. E ele estava apavorado.

Ele vinha se acostumando com o sentimento angustiante que não o deixava respirar direito, que fazia seu peito doer, como se estivesse preso em um lugar pequeno demais. Renjun se sentia como uma criança de novo, perdida em um mercado lotado, chamando pela mãe e ficando sem resposta.

Ele queria gritar. Queria correr até eles, até sua mãe ou Nana, ou qualquer coisa que fosse um fragmento de segurança, de lar. Queria ser abraçado, envolvido, amparado. Mas, ao invés disso, estava ali, sozinho.

Agora estaria dividindo quarto com alguém que notoriamente não estava disposto a fazer algo melhor da relação estranha deles, e se via constantemente andando atrás de pessoas que precariamente conhecia como um cachorrinho perdido.

Ele nem mesmo entendia como ficou tão dependente da presença de outras pessoas para funcionar.

Não que não fosse grato pelo esforço dos outros. Ele era, e muito. Chenle estava lentamente se tornando um suporte no qual ele sentia que poderia confiar. Jisung, Minjeong, e Mark eram prestativos e amigáveis. Jaemin e Jimin eram simpáticos à sua maneira. Ainda assim, mesmo com suas presenças sendo reconfortantes, Renjun não conseguia associá-las à sensação de segurança. Ainda não.

Acompanhando-o o dia inteiro pela escola, Jeno estava se mostrando extremamente simpático. Com pessoas espalhadas para todos os lados, desde pré-adolescentes até quase adultos, o colégio aparentava ter mais vida do que na última visita. Mais vida significava mais olhares, no entanto. Ainda era a segunda semana de aula deles, havia diversos alunos chegando atrasados de viagens, de compromissos, ou simplesmente se matriculando as pressas. Esses últimos eram poucos, afinal, raras pessoas conseguiam entrar em um colégio como o Daehan de um dia para a noite.

Diário de Um Príncipe Não Muito EncantadoOnde histórias criam vida. Descubra agora