Capítulo 8: Eles ouvem tudo.

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Alita Crosswell

A noite estava silenciosa, e o som suave das ondas quebrando contra o casco do navio preenchia o ar. Ajustei o manto ao redor dos ombros e subi os degraus que levavam ao convés. Todos estavam dormindo. A lua cheia iluminava a vastidão do oceano, e o céu estava repleto de estrelas, brilhando como diamantes sobre uma tapeçaria escura.

Caminhei até a amurada, inspirando profundamente o cheiro salgado do mar. Perder-se naquela imensidão estrelada era uma forma de escapar, ainda que brevemente, do que me esperava ao amanhecer.

— Uma noite perfeita, não acha?- A voz grave e serena quebrou o silêncio. Me viro rapidamente, encontrando aqueles olhos cinzas que tinham um brilho a mais de noite. Aaron estava encostado contra o mastro principal.

— Capitão!- Não consegui esconder minha surpresa.— Ainda acordado?

— Digo o mesmo.- ele esboçou um leve sorriso parando ao meu lado. O silêncio nos acompanhou por um tempo, até eu ficar inquieta e quebra-lo.

— Aqui tem muito mais estrelas.- volto meu olhar para o céu.— Às vezes elas são mais acolhedoras do que paredes e tetos. Elas fazem o mundo parecer maior.

O vento sopra mais forte, balançando os cabelos de ambos. Sinto um arrepio, não de frio, mas de algo novo: um despertar para uma realidade que nunca experimentei.

— Sabia que segundo as histórias dos piratas, as estrelas não são meramente pontos de luz no céu, mas os olhos dos antigos arautos primordiais.- ele se apoia na borda olhando para imensidão.— Esses arautos foram encarregados de vigiar e proteger a criação, espalhando sua luz para guiar os caminhos do mundo. Diz-se que, durante a formação do universo, cada estrela foi acesa com uma fagulha da essência do Criador, e seu brilho contém fragmentos dos segredos da existência.

— Eles acreditam que cada estrela está ligada ao destino de alguém ou algo no mundo. Elas são vistas como mapas divinos que narram as histórias do passado, do presente e do futuro. A movimentação das constelações, os alinhamentos e até mesmo o brilho de uma estrela são interpretados como sinais do destino que se desenrola.

— Mas e pra você? O que elas são pra você?- a pergunta saiu quase como um sussurro. Ele hesita antes de me olhar e responder.

— Elas são companheiras silenciosas. Sempre presentes, mesmo na escuridão mais profunda.- diz se virando pro horizonte.— Meu pai costumava falar que o silêncio das estrelas fala mais do que qualquer coisa.

— Eu acho que elas te julgam menos.- O capitão riu baixo, um som profundo e reconfortante.

Ficamos em silêncio depois disso, apenas observando o oceano e o céu estrelado. A noite parecia eterna, como se o mundo tivesse decidido dar-lhes aquele momento único. Não era preciso mais palavras; apenas a companhia um do outro e o brilho distante das estrelas eram suficientes.

 Não era preciso mais palavras; apenas a companhia um do outro e o brilho distante das estrelas eram suficientes

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