Capítulo 2 - Recordações

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- Boa noite senhores e senhores! É uma alegria imensa estar com vocês! Este é o nosso primeiro Baile de Máscaras e toda a renda arrecadada hoje será em prol da ampliação da Escola Comunitária Casa Engraçada. - Elisa sorriu alegremente e continuou:

 - Como todos sabem, a Escola Casa Engraçada é um lugar onde crianças e jovens têm reforço escolar, aulas de violão, de balé, além de cursos técnicos profissionalizantes à noite. Na noite de hoje faremos o leilão de danças com 12 dos mais belos jovens e damas do bairro. - Todos os presentes começaram a aplaudir.

 - Então, sem delongas, vamos iniciar o leilão. - Ouviram-se gritinhos e assovios por todo o salão. Elisa desceu do palco, que havia sido armado no final do salão em frente às duas portas da entrada principal, e começou a organizar a fila de homens e mulheres que cederiam uma dança para objeto do leilão.

O leilão iniciou e foi sucesso total. Quando chegou a vez de Jane, vários cavalheiros ofertaram lances, mas nenhum pôde competir com o lance de Charles. O mínimo iniciou com R$ 1.000,00 e finalizou com R$ 30.000,00. Foi o maior lance da noite. Jane ficou superanimada e Charles a olhou e sinalizou algo como se dissesse: "eu falei que você dançaria somente comigo esta noite!" Jane ainda não acreditava, parecia um sonho existir alguém tão amável e simpático como Charles. Parecia um sonho! Será que a Cinderela finalmente faria seu príncipe a enxergar?

Elisa saiu de fininho após o término do leilão. Todos se perguntaram o porquê dela não estar no meio das moças que leiloaram uma dança. Mas a verdade é que apesar de ninguém perceber, há algum tempo ela estava se sentindo triste e vazia. Aquela conversa com Charlote fez Elisa lembrar coisas que ela pensava ter superado. Coisas que faziam parte de um passado distante, mas que ainda assombravam o seu presente.

- Preciso seguir em frente, passado é passado, não sou mais aquela garota ingênua que acreditava em tudo e em todos. Aprendi a duras penas - Pensava Elisa.

Ela se afastou da multidão e se viu sozinha em uma sala escura e silenciosa. Surgiram então lembranças do dia em que vira Darcy pela primeira vez, o que fez ela se perguntar:

- Por que estou pensando nele? Não entendo - Por mais que tentasse não conseguiu cortar a cena que surgiu em sua mente do dia em que Charles a pediu que fosse à empresa para discutir sobre o apoio ao projeto da ONG:

William Darcy ainda não havia sido apresentado a Elisa, no entanto estava falando dela com Charles. Elisa pensava e ficava cada vez mais chateada. Ela ouviu quando Darcy falou para Charles que ela não era bonita o bastante para tentá-lo. Que ideia! Por que eles estavam conversando sobre ela? Por que ele se achava tão superior? Por que ela iria querer tentá-lo? Eles nunca se falaram. Até aquele momento ela nunca o havia visto pessoalmente, o conhecia apenas de capas de revistas de negócios. Elisa se impressionou quando percebeu que mesmo depois de tanto tempo aquelas lembranças ainda a irritavam.

Naquele dia, ela saiu da sala sem que Charles e Darcy pudessem vê-la e desde então tentou evitá-lo de todas as maneiras possíveis. Não entendia porque esta parecia ser uma missão tão difícil, pois daquele dia em diante Darcy parecia gostar de frequentar os mesmos lugares que ela.

Elisa tentou desfazer-se das lembranças desagradáveis que tinha de Darcy, afinal, ele não merecia ocupar tanto espaço em seus pensamentos. Se fosse parar para analisar, não estava de todo sozinha. Claro que ela não se atreveria a contar para ninguém, mas algumas horas do seu dia, quer dizer, da sua madrugada estavam ocupadas por altos papos com um amigo que conheceu na internet.

Há uns cinco meses atrás, por acaso, num destes clubes de leitura do Facebook, após uma discussão sobre "Inferno", o novo livro de Dan Brown, um dos membros do grupo começou a puxar conversa com ela. No início ela ficou insegura e pouco à vontade, mas depois de duas horas intensas discutindo sobre os livros de J.R.R. Tolkien e finalizando com os seriados e filmes de ficção científica, parecia que ela havia encontrado sua outra metade, pelo menos no gosto pela leitura e por filmes.

Durante todo este tempo eles nunca haviam se encontrado pessoalmente. Linus sempre se mostrou uma pessoa legal, inteligente, simpática, com conversas agradáveis, ricas de conteúdo. A conversa fluia bem entre eles. Na verdade, era como se ele a conhecesse, e muito! No início ela achou curioso o nome dele, pois a fez lembrar imediatamente do casal Linus e Sabrina, não do filme de 95, mas o de 54 , com Audrey Hepburn, porém, depois de algum tempo conversando, ele a informou que o nome faz referência ao melhor amigo de Charlie Brown. Sim, aquele das HQs. Ela concluiu que aquele não era seu verdadeiro nome, mas não quis perguntá-lo sobre isto, pois de alguma forma confiava nele e não queria perder aquele elo que havia entre os dois.

Elisa teve seus devaneios interrompidos pela sensação de que havia mais alguém ali, então resolveu retornar ao salão principal, onde um grupo de músicos tocava jazz, soul e pop rock.

Alguns minutos depois, um homem alto passou por ela capturando sua atenção. Ele parecia familiar, mas de onde o conhecia? A máscara que ele usava revelava muito pouco do seu rosto.

Enquanto procurava em sua memória a lembrança de alguém com aquele porte físico, foi pega de surpresa ao sentir uma mão sobre seu ombro. Era ele. 

- Boa noite senhorita. A dama me concede esta dança?

- Eu o conheço? - Elisa perguntou confusa.

- Talvez queira conhecer. Vamos dançar? - O desconhecido abriu um belo sorriso, estendendo-lhe a mão.

Sem palavras, Elisa se juntou àquele homem misterioso, sensual e ao mesmo tempo familiar. A música era  "All I do is dream of you", tocada e cantada pelos músicos no estilo de Michael Bublé. Não era uma balada romântica, mas a letra sugestiva fez os cinco sentidos de Elisa ficarem em alerta. O charmoso mascarado, de olhos azuis, olhou-a nos olhos e tomou-a nos braços. Quando a mão dele tomou sua cintura, o seu corpo estremeceu. Eles nada falaram, apenas dançaram. Elisa se viu sem palavras, o que raramente acontecia. Havia uma energia entre eles. Foi como se o seu corpo estivesse até aquele momento desligado, aguardando o toque daquele homem mascarado para ser ativado. Ela pôde sentir o seu perfume: era uma mistura de capim silvestre e ervas. A música terminou, o mascarado se despediu com um beijo leve nas costas da sua mão e se afastou. Foi impossível não pensar em como seriam aqueles lábios acariciando os seus.

Elisa se sentiu tão envolvida que nem percebeu os aplausos vindos de todas as partes do salão de dança. Ela e seu misterioso parceiro haviam atraído a atenção de todos os presentes, inclusive da Sra. Bennet, que tentou correr em direção a ela, mas foi interrompida pela mãe de Charlote que queria saber quem era o homem que dançava com Elisa.

- O que está acontecendo comigo? Nunca me senti assim antes! - Pensou Elisa.  - Nem mesmo quando acreditei ter encontrado o amor de minha vida, o homem dos meus sonhos... Quem é aquele homem? - Elisa procurava organizar seus pensamentos se afastando do salão, quando Charlote a alcançou.

- Elisa! Arrasou amiga! O que foi aquilo? Quem é aquele gato? - Perguntou Charlote.

- Não faço a menor ideia - Disse Elisa enquanto vasculhava com os olhos toda a extensão da grande sala à procura do charmoso mistério que tanto lhe atraiu, mas da mesma forma que surgiu, ele desapareceu.


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