Capítulo 3 - Sr. Darcy

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William Darcy sempre acreditou que se algum dia tivesse uma esposa, ela seria de uma família tradicional como a sua. Imaginava uma mulher elegante, de fino trato, que se movimentasse com classe pelos círculos sociais que frequentariam. Inteligente sim, mas não precisava ser nenhuma especialista ou superdotada. Ela seria uma mulher nascida e instruída para ser uma senhora Darcy. Entretanto, ele ainda não via motivos para casar, pois  seu tempo era dedicado ao trabalho e à sua irmã, Aiana. 

Verdade seja dita, um homem jovem e cheio de energia tem sempre uma boa companhia, mas nenhuma das mulheres que passaram pela vinda de William foram tentadoras o suficiente para fazê-lo pensar em casamento.

Por provocação do destino no entanto,  e como diz Louise L. Hay, o amor aparece onde menos se espera e quando não se está procurando por ele. E foi numa cafeteria que o destino resolveu lhe pregar uma peça: um sorriso cativante e um par de olhos curiosos cruzaram seu caminho.

Foi numa manhã de inverno, ventava muito. 

Quando resolveu voltar ao Brasil não imaginava que poderia sentir tanta falta da sua rotina matinal: Acordar cedo, malhar, banhar-se, tomar um bom café e partir para mais um dia de trabalho. Estava acostumado a se virar sozinho em Nova York, desde que Aiana o abandonara para ir à Inglaterra estudar há pouco mais de 3 anos. 

No Brasil, estava no apartamento que fora dos pais e nele, três funcionários que sempre foram leais à família Darcy e os quais ele conhecia deste criança: Carmem, Joaquim e Inácia não mediam esforços para agradar o pequeno Darcy, agora homem feito. Darcy ainda não havia se ambientado com a atenção carinhosa que recebeu quando retornou para o Brasil. Então, até que Aiana chegasse para passar as férias, ele tentaria manter sua rotina anterior e aos poucos, criaria uma nova.

Charles havia lhe indicado o endereço de uma cafeteria e depois de uma semana perdido em meio à tanto mimo sentiu-se aliviado por, aos poucos, estar recuperando seus velhos hábitos matinais. Claro que tudo mudaria quando sua irmã chegasse, mas por enquanto, um expresso com creme era tudo o que precisava naquele momento.

Diferentemente das cafeterias que frequentava em Nova York,  " O Pretinho" era um ambiente tranquilo, sem filas, com várias mesas e onde tomar café não se resumia a apenas tomar líquido feito com grãos de café, mas provar um bom cuscuz, uma tapioca e muitas outras comidas típicas de diversas regiões do Brasil. William se acomodou em uma mesa próxima à uma área de leitura que lá existia, tratava-se de um ambiente para aqueles que buscavam o silêncio e a companhia de um bom livro. 

Foi no canto daquela sala, sentada em uma poltrona, segurando um livro e sorrindo sozinha imersa em sua leitura, que Willian a viu pela primeira vez. Dali em diante, ir à cafeteria todos os dias parecia inevitável e toda a sua habilidade para conduzir grandes negociações pareceu inútil para desvendar o que despertava a necessidade vê-la diariamente. Decidiu que não seria atraído a uma armadilha, por isso resolveu procurar informações sobre aquela leitora compulsiva, que às 7 hs da manhã já devorava páginas e páginas de livros. 

Descobriu que ela trabalha em uma editora e dedica seu tempo livre à uma ONG localizada no bairro onde vive desde seus 10 anos de idade. De origem humilde, sempre trabalhou e quando concluiu a graduação passou algum tempo no sul do Brasil, retornou há 2 anos e desde então vive apenas para o trabalho na editora e na ONG. A origem humilde ele até superaria, mas a família dela é um tanto espalhafatosa, sua mãe é excêntrica e suas irmãs mais novas sempre estão metidas em alguma encrenca, seu pai se dedica apenas ao trabalho como entomologista, deixando a condução da família nas mãos da esposa.

Definitivamente, ela não poderia fazer parte de sua vida. 

Certo dia, conversando com Charles, William foi obrigado a negar qualquer interesse que pudesse ter pela leitora compulsiva:

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