Mundo Afora

3- Como Encarar a Fera

 Você deve estar se perguntando: "Por que uma garota com vinte anos na cara, que já faz faculdade e tudo o mais, tem que pedir permissão pra ir viajar para a mãe?". A resposta é: minha mãe é muito, MUITO preocupada, e também sofre de hipertensão, então, é claro que eu não quero que ela tenha um treco por minha causa.

 Fernanda, a minha melhor amiga e fiel escudeira, está me ajudando com dicas de como encarar minha mãe e fazer tudo dar certo. Ela e eu, sentadas em cima da minha cama, procurando vários argumentos para que minha mãe não se preocupe.

 – Ah, explica pra ela que não tem nada que temer. Que a agência que você vai escolher é segura e tal. Que, qualquer problema, tem um monte de gente pra te ajudar – diz a Fernanda.

 – Não é tão simples assim, criatura! – Eu digo, já um pouco cansada daquela conversa. – Minha mãe é tipo: MUUUUITO preocupada. Acho que nada que eu diga vai acalmar os nervos dela.

 Fernanda solta os cabelos negros e os amarra novamente, em um coque mais apertado. Me surpreendo com o quanto ela se parece com a Branca de Neve.

 – Sei lá, Chris. Se a sua mãe confia em você, ela não vai ficar assim TÃÃÃO preocupada.

 – É, talvez você tenha razão – digo, pensativa.

 – E me conta mais sobre aquele tal homem do mercado – diz ela, com um sorriso malicioso no rosto.

 – Ah, para, tá? – Me estresso um pouco. – Não foi nada demais, ué. A gente só bateu os carrinhos e deu. Ele só me ajudou a botar tudo de volta no carrinho.

 – Humm – murmura ela, semicerrando os olhos. – Tá, me engana que eu gosto.

 – É sério – digo, com as sobrancelhas arqueadas, mas não muito convincente. – Tá, ele meio que tentou jogar charminho pra cima de mim, mas eu não deixei isso se prolongar.

 – Mas bem que você queria, né? – Diz ela, com o sorriso malicioso no rosto de novo.

 – Chega, Fê. Vamos mudar de assunto.

 – Vamos – diz ela, empolgada. – Afinal, tá chegando suas férias e você precisa planejar tudo pra ir viajar!

 – UHU! – Digo, me lembrando que tenho VÁRIAS coisas para programar.

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 Depois que a Fê foi embora, me preparei psicologicamente pra falar com a minha mãe. Antes disso, fiz um agradinho, pra deixar ela contente. Lavei a louça, tirei o pó, varri a casa, etc.

 Então, tava na hora. Hora de encarar a fera e rezar pra ela não ter um treco do coração. Fiz a carinha mais meiga que consegui e me sentei ao lado dela no sofá. Minha mãe tava concentrada assistindo ao Animal Planet, então, fiz uma voz bem doce e meiguinha, e digo:

 – Gostei do seu vestido.

 Dona Júlia me olha como se eu fosse uma retardada, e então diz:

 – Tá louca da cabeça, Christina? Eu tenho esse vestido há uns dez anos!

 – Sério? – Me apavoro.

 Como que eu não me liguei disso? Idiota.

 – Mas fazia tempo que não usava, né? – Pergunto, tentando consertar o erro.

 – Usei antes de ontem, Christina!

 (Aqui vai uma correção da minha lista: NÃO elogiar a roupa que sua mãe está usando).

 – Ah... – É só o que consigo dizer. – Enfim... Eu preciso te contar uma coisa, mãe.

 Ela já me olha apavorada e, antes que começasse a surtar, eu já fui logo dizendo:

 – Eu quero viajar, mãe. Sozinha.

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 Oii!

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