Capítulo 3

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Quando terminei de ler fiquei apavorada, achava que tudo aquilo só poderia ser uma brincadeira de mal gosto, minha mãe não escreveria aquela terrível carta em seu leito de morte , ela não destinaria suas últimas palavras para me machucar , não, ela não poderia ter escrito aquilo.
Meses se passaram , resolvi não dar importância e parar de pensar no assunto . Nos primeiros dias eu não conseguia dormi , parecia escutar a voz de minha mãe sussurrar em meu ouvido aquelas palavras , tentava ficar focada ao máximo em meu trabalho , havia dias que eu achava que não conseguiria mais suportar . tentava resistir a tais pensamentos, pois sabia que Manu iria sofrer muito de onde quer que ela esteja.
Nunca fui de ter fé, mas sempre acreditei que só a vida na terra não bastava, tinha que haver algo mais, não sabia o que, mas tinha que existir, essa era a única forma pra eu continuar mantendo a minha irmã viva, e sonhar que um dia eu voltaria a encontra-la, por isso resisti todos esses anos, por ela.
Certa noite quando em fim estava me esquecendo da carta de sangue, me acordo ao som de uma porta batendo, penso ter deixado alguma janela aberta, então me levanto e ando até a cozinha para averiguar, ao chegar percebo que a janela realmente estava aberta, as cortinas estavam esvoaçantes, o vento estava muito forte sinal que iria dar uma terrível tempestade. Então eu a fecho e volto para o meu quarto, e lá parecia estar mais frio de que  quando eu havia saído, estava com uma sensação estranha, como se estivesse sendo observada e meio que por extinto, olho em minha volta mas não encontro ninguém, de repente sinto um forte arrepio passando por todo meu corpo, o quarto estava ficando cada vez mais frio.
O aquecedor ficava no meio do corredor, então novamente saio do meu quarto para poder liga-lo, e ao sair as luzes se acendiam e apagavam, isso deveria estar acontecendo por causa do forte vento que estava lá fora e por conta da chuva forte que já tinha começado a cair. Ligo o aquecedor e volto para o meu quarto, o vidro da janela já estava embaçado, passo a mão no vidro para ver a noite chuvosa, a água batia ferozmente no vidro da janela, não escuto nada no silêncio da noite, a não ser o som da chuva, fico a olhando fixamente, como que se a olhasse me desse uma sensação de paz.
Mas de repente vejo minha irmã do lado de fora da casa, ela estava com o mesmo vestido de noiva, vestido que eu havia guardado desde vinte anos atrás, mas a figura que eu via estava longe de ser uma pessoa meiga e doce como ela era, seus olhos estavam completamente negros, e escorria sangue pela sua pálida face, ela nada falava, somente me olhava com um estranho sorriso no rosto, e fazia gestos com os dedos passando por sua garganta, e logo após fazia gestos me chamando com suas mãos, sai correndo de dentro de casa para ir ao seu encontro, mas não tinha mais ninguém lá.
Penso estar alucinando, mas ao me virar para novamente entrar na minha casa, quando fui abrir a porta me deparei com uma coisa que me apavorou, pois lá estava escrito com sangue :" SOCORRO MANINHA."
Fiquei com muito medo, e ali mesmo no frio e na chuva passei a chorar, e toda minha vida passou em minha memória como um flash back, lembrei dos momentos felizes com minha irmã, da sua morte, de minha mãe.
Chorava para que toda minha dor fosse embora, estava muito assustada, por tudo que estava me acontecendo, parecia já estar ficando louca, será esse o meu destino conviver em um mundo de loucura assim como minha mãe conviveu?
Talvez assim teria sido melhor, pois teria me poupado de tudo que vivi, seria melhor viver em um mundo de fantasias pois assim apagaria todas as lágrimas derramadas e as noites mal dormidas.
Já estava tarde, teria que madrugar na manhã seguinte então me levanto e entro, passo uma água no rosto, troco de roupa pois aquela estava completamente molhada, e vou me deitar para tentar dormi nem que seja somente por algumas horas.
Eram quatro e meia da manhã, não consegui pegar no sono nem sequer por um segundo, me levanto e vou direto tomar um banho, me agasalho pois estava fazendo muito frio naquela manhã, coloco o meu jaléco e pego meu crachá e a chave do carro que estavam em cima da mesinha de canto no lado da cama.
Entro no carro e dirijo por meia hora até chegar no hospital, e que por sinal estava em um alvoroço, semelhante aquele dia em que fui visitar minha mãe.
Mal entro pela porta e vem uma enfermeira correndo em minha direção.
" Doutora, precisa-se da senhora com urgência na ala de cirurgia!"
Ela parecia estar muito assustada, mas eu estava tão cansada naquele momento que sequer fui capaz de perguntar o que tinha acontecido, e ao perceber meu silêncio ela se pôs a falar novamente.
" Uma mulher está com a sua perna direita totalmente destruída, parece que foi comida por algum animal , e ela está coberta de sangue!"
Ainda sem falar me dirijo imediatamente até a sala de cirurgia, e ao chegar lá vejo a sala coberta de sangue, e a paciente de meia idade deitada na maca.
"Por que vocês ainda não limparam todo esse sangue?"
Os enfermeiros ficaram quietos, mas continuei a esperar por uma resposta, até um deles falar:
" achamos que a senhora fosse querer ver o estado que ela chegou aqui!" Responde ele com a voz trêmula.
" Isso aqui não é uma brincadeira! Vamos limpe-a para que eu possa fazer o meu trabalho!"
" Sim doutora!"
" usem anestesia geral"
Digo já saindo da sala para me preparar para cirurgia.
Quando já estava prestes a entrar novamente ouço uma enfermeira gritando.
Entro rapidamente para ver o que aconteceu.
" Por que todo esse reboliço?"
A enfermeira que havia gritado me olha com pavor em seus olhos, e tremendo levanta sua mão para me mostrar um pedaço de carne aparentemente humana em uma pinça.
" Da onde você tirou isso?"
" Estava dentro da boca dela!" Responde a enfermeira ainda assustada.
"Ótimo. Temos uma velha maluca como paciente!" Fala o enfermeiro rindo.
" Vamos começar logo essa cirurgia, estamos aqui para trabalhar e não para fazer piadinhas ou escândalos!"
Vou em direção a perna direita da paciente.
" Bisturi!"
A enfermeira me passa, e quando começo a retirar o tecido que não podia ser aproveitado algo de inesperado acontece.
A mulher de meia idade senta rapidamente na mesa de cirurgia, a vira o pescoço em minha direção e grita nitidamente com um sorriso cheio de sangue " SUA HORA ESTA PROXIMA QUERIDA EMILY!" E logo após começa a rir diabolicamente e cai morta na mesa.

Apocalipse : A era do infernoOnde histórias criam vida. Descubra agora