Daphne Hale
Fevereiro trouxe consigo o peso da rotina. O brilho das luzes de Natal havia desaparecido, e a cidade retomava seu ritmo habitual. Para mim, isso significava voltar ao trabalho em meio a pilhas de relatórios, casos inacabados e um chefe de mau humor.
O dia foi um caos. Uma série de assaltos violentos em bairros próximos haviam nos deixado sem descanso. O departamento estava uma bagunça, o telefone tocava sem parar e, para piorar, Jacob passou o dia inteiro me lançando olhares carregados de algo que eu me recusava a decifrar.
Quando finalmente saí do prédio, já passava das nove da noite. Meus ombros estavam tensos, minha cabeça doía, e tudo o que eu queria era tomar um banho e dormir. Mas Noah tinha mencionado mais cedo que queria refrigerante, e eu mesma precisava de algo para me manter acordada caso tivesse que revisar relatórios em casa.
Estacionei o carro da polícia em frente a uma loja de conveniência pequena e mal iluminada. O letreiro piscava intermitentemente, e apenas dois clientes estavam lá dentro. Caminhei pelos corredores, peguei um refrigerante para Noah, um suco para mim e segui para o caixa.
Foi então que o vi.
O homem parecia ter passado a noite inteira bebendo. A camisa amassada estava parcialmente aberta, revelando um peito coberto de tatuagens toscas. O cheiro de álcool chegou antes mesmo de ele abrir a boca.
— Olha só o que temos aqui... uma policialzinha sozinha no meio da noite. — O tom arrastado e o sorriso torto me enojaram.
Revirei os olhos, sem paciência para lidar com aquilo.
— Pague e saia do caminho — falei, jogando as bebidas no balcão.
Mas ele não se moveu. Ao invés disso, deslizou um pouco mais para perto, inclinando a cabeça de lado.
— Você parece tensa, gata. Aposto que nunca foi tratada como merece. Deve ser difícil ser tão durona o tempo todo...
Minha mão coçou para pegar a arma, mas preferi me controlar. Puxei meu distintivo do bolso e coloquei na altura do rosto dele.
— Última chance. Saia do caminho.
O bêbado riu, mas algo na minha postura fez com que ele hesitasse. Dei um passo à frente, invadindo seu espaço pessoal, e minha voz saiu firme:
— Se você continuar, vai passar o resto da noite na delegacia, e eu garanto que os outros detentos vão adorar sua companhia.
O sorriso dele vacilou. Mas, antes que ele saísse, algo chamou minha atenção: um anel grande e chamativo em seu dedo indicador. A joia não combinava com o resto de sua aparência desleixada.
Por um segundo, pensei em perguntar sobre o anel. Mas o homem desviou o olhar, murmurou um xingamento e saiu da loja. Eu respirei fundo, finalizei a compra e voltei para o carro.
(...)
Quando cheguei em casa, Noah estava jogado no sofá, assistindo a um filme qualquer.
— Trouxe seu refrigerante. — Joguei a garrafa para ele, que pegou no ar.
— Valeu! Você demorou.
— Dia longo.
Ele percebeu meu cansaço e não insistiu no assunto. Depois de um banho e uma tentativa frustrada de relaxar, me joguei no sofá ao lado de Noah, deixando minha mente vagar. Algo no encontro com aquele bêbado ainda me incomodava, mas não conseguia dizer exatamente o quê.
Então, a campainha tocou.
Olhei para Noah, que deu de ombros.
— Tá esperando alguém? — perguntei.
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sᴜsᴜʀʀᴏs ᴅᴇ ᴜᴍ ᴀssᴀssɪɴᴏ
RandomDaphne Hale é uma detetive renomada, conhecida por sua frieza e precisão ao desvendar os mais complexos crimes. Mas, quando uma série de assassinatos brutais começa a assolar a cidade, ela se vê mergulhada em um jogo macabro, onde o assassino deixa...