Capítulo 3 - Desastres à meia-noite
Na noite daquele mesmo dia, eu chorei. Chorei sabendo que meu irmão ainda demoraria a voltar para casa. Eu sabia que estava sendo infantil com aquela atitude, mas eu não importava. Cameron era meu irmão mais velho, aquele que por mais chato que a gente pense e fale que é, não deixa de ser nosso irmão. O irmão que sempre me protegeu e esteve ao meu lado. E que agora passava mais tempo fora de casa do que nela. Eu sei que era egoísmo meu, mas eu preferi ignorar a consciência de que nada voltaria a ser o mesmo quando ele recebeu a proposta de Bart de fazer parte da Magcon. Mas Cam estava ficando famoso com seus vídeos, e gostava disso, então eu jamais tiraria isso dele.
Acho que depois de algumas horas, não sei exatamente quantas, eu finalmente consegui me acalmar. Não que tenha adiantado muita coisa, pois logo eu estava com uma sede infernal. Nisso é que dá chorar, você desidrata até onde não deve. Levantei-me da cama devagar, tentando não acordar Mahogany, que dormia no colchão ao lado da minha cama. Fiz o mínimo barulho possível ao sair do quarto e quase assustei ao ver que não tinha ninguém espalhado pelo chão do corredor do segundo andar.
Até que lembrei que eles tinham se dividido. Quatro deles no quarto com Cameron, outros quatro no quarto de hóspedes e Aaron e Hayes no chão da sala. Coitados, ser os mais novos deve ser horrível por isso. Desci devagar e passei pela sala, onde eu pude vê-los capotados nos colchões. Quando passei pelo colchão de Hayes, eu escorreguei em seu chinelo e quase cai em cima dele. Arregalei os olhos, assustada, e saí logo dali. Fui para a cozinha, soando frio, e peguei o meu tão merecido copo d'água. Imagina a vergonha que seria cair em cima dele? Não seria nada legal.
Bebi a água em silêncio, sentindo minha mão tremer levemente ao me imaginar em cima de Hayes. Cara a cara com ele, nossas peles se tocando e encarando seus olhos azuis de pertinho. Não seria nada mal. Arregalei meus olhos ao me dar conta dos meus pensamentos. Meu Deus, o menino tem só quatorze anos! Deixa de pedofilia, Mia! Respirei fundo depois do terceiro ou quarto copo de água e me virei, pronta para voltar para o quarto, quando reparei em algo interessante. Minha câmera fotográfica e meu notebook em cima da mesa da cozinha, onde eu possivelmente tinha deixado no dia anterior.
Sorri, indo até lá e me sentando na cadeira em frente ao notebook. Abri-o, coloquei a senha e conectei o cabo da câmera ao notebook. A pasta apareceu e eu apreciei as fotos divertidas que eu havia tirado com os meninos e a Lox algumas horas antes. Algumas fotos fofas, outras estranhas. Porque ser normal é chato. Abri o programa de edição e comecei meu segundo trabalho favorito - depois de fotografar, claro. E eu podia ficar horas fazendo isso.
Até que um pigarro me assusta e eu quase tenho um ataque cardíaco. Não tive um parada cardíaca mas consegui cair da cadeira e bater a cabeça na geladeira. Minha sorte é algo invejável.
- Ai. - choraminguei, sentindo um estalo na cabeça.
- Mia? - ouvi a voz daquele que perturbava minha mente se aproximando. - Ai, meu Deus, eu sinto muito.
- Não, não, está... - tossi, me levantando com a mão na cabeça e com sua ajuda. - Está tudo bem.
- Não está, não, pode formar um galo nisso daí. - Hayes disse, preocupado, enquanto me ajudava a me levantar.
Fechei os olhos, mais para evitar ver seu abdome nu, mas ele pareceu ver isso como um sinal de tontura - não que deixasse de ser por motivos diferentes.
- Você não parece bem, Mia. Senta aí que eu vou pegar gelo. - ele insistiu.
Respirei fundo, tentando controlar a respiração, e me sentei em cima da bancada da cozinha, de costas para a janela que dava para o luar que servia de única iluminação do local. Vi no momento que Hayes foi até a geladeira, pegou uma toalha, jogou cubos de gelos nela e voltou até mim. E tudo isso, eu estava tentando ignorar o fato de que ele estava sem camisa. O que não era fácil. Deuses, eu estava ficando louca! Já vi vários meninos sem camisa nessa vida, e eu tinha outros nove no mesmo estado, tudo debaixo do mesmo teto que o meu, e eu estava olhando justamente para o mais novo?
- Aqui está. - disse Hayes, arrancando-me dos meus pensamentos quando colocou o gelo sobre minha testa, no lugar exato em que tinha batido no chão.
Tentei tomar a toalha com os cubos de gelo da sua mão, para fazer eu mesma, mas ele não deixou, e continuou tão próximo a mim durante seu serviço que eu podia jurar que sentia sua respiração sobre meu rosto.
- Está melhor? - ele perguntou, ainda bem próximo de mim.
- S-sim, obrigada. - gaguejei, depois de lutar para conseguir achar minha voz.
Hayes sorriu e olhou bem em meus olhos. Apesar de ser uns três anos mais novo que eu, e eu estar sentada sobre a bancada, ele ainda conseguia ficar do meu tamanho. Ou a bancada era muito baixa, ou eu mesma é que era baixinha. Possivelmente a segunda opção. Hayes arregalou os olhos, talvez se dando conta da proximidade em que nos encontrávamos, e logo se afastou alguns passos. Pela luz que entrava pela janela, consegui ver suas bochechas coradas.
- O que está fazendo acordado? - perguntei, colocando eu mesma o gelo na testa.
- Eu já estava acordado e vi quando você passou. Mas quando você não passou de volta, eu vim ver se estava tudo bem. - ele disse baixinho, e eu corei com sua resposta.
- Ah... Sim, é que... - engoli em seco. - Eu tinha perdido o sono, então fiquei editando algumas fotos. - apontei para o notebook aberto em cima da mesa.
Hayes se aproximou do notebook e passou de foto em foto. - Isso aqui está ótimo, Mia! Como consegue esses efeitos?!
Sorri timidamente e pulei da bancada para ir ao lado dele.
- Bem, a maioria não é de nenhum editor, mas minha melhor técnica sou eu tentando pegar um momento espontâneo, em que o sorriso não pareça tão forçado. O segredo é usar a luz, a sombra e o ângulo certos ao seu favor. O brilho, a nitidez, as cores e o enfoque eu coloco pelo editor mesmo.
Fiz uma pausa, torcendo a boca pensando que pelo seu silêncio eu poderia tê-lo deixado entediado. Até que senti o peso do seu olhar azulado recair sobre mim.
- O que foi? - perguntei, meio envergonhada.
- Você gosta realmente disso, não é? - ele comentou, sorrindo.
Seu sorriso era lindo.
- É. - eu respondi. - A fotografia é algo realmente especial. São recordações. Gosto de ter recordações, não apenas para compartilhar com amigos. As fotografias marcam os momentos mais importantes da nossa vida e eu quero tê-las guardadas para quando a memória começar a falhar, eu ter uma âncora para me lembrar dos altos e baixos que já tive na vida.
Calei-me, tendo agora completa certeza de que o havia entediado. Até que ele se pronunciou.
- Nunca pensei que algo tão simples pudesse significar tanto para alguém. - ele comentou, olhando para a foto que tinha parado.
Era uma foto dele e dos outros garotos. Depois do cover de She Looks So Perfect que fui obrigada a fazer, nós resolvemos ficar por aquilo mesmo, conversando e cantando o que viesse à mente, em certo momento, eu peguei a câmera que estava na mesinha de centro, onde minha mãe tinha a deixado, e comecei meu trabalho. A foto que aparecia agora na tela do notebook era uma das que mais gostei. Shawn e Jacob com violões na mão, cantando a música que Shawn tinha escrito para Cameron, e os Jack's logo ao lado, fazendo a batida de rap. Em volta deles, estavam todos os garotos, rindo, gravando para o Vine, zoando e Mahogany estava lá, ao lado de Jacob, rindo também.
Sorri.
Esse era o tipo de foto que não precisa de qualquer edição.
Fui interrompida dos meus pensamentos por um tic tac do relógio sobre a pia, que marcava três horas da manhã. Ele sempre fazia um barulho a cada três horas.
Suspirei, talvez por não querer voltar para o quarto.
- Acho melhor eu ir tentar dormir um pouco. - eu disse.
- É, preciso descansar para o evento. - ele disse, e eu sorri torto.
- Bem, boa noite então. - falei, dando um beijo rápido em sua bochecha.
Vi seus olhos azuis se arregalando de surpresa, e corri de volta para o quarto, com sorriso no rosto.
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I Ain't Gon Do It
RomanceSer irmã de um viner nunca foi fácil. As pessoas esperam mais de você do que imagina, mas isso não é o caso. O caso é as coisas boas que isso me trás. Como conhecer os amigos bonitos e engraçados de Cameron. Como conhecer ele. Acredite, isso eu não...