Olá Vovó

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- Sim, orfanato
- Tem certeza disso ?
- Claro que tenho
- Ah, então você é, tipo, hm, adotada ?
- Não
-COMO ASSIM ?

Opa parece que temos um exaltado aqui

- Calma - ele bufa - Quando eu tinha uns 4/5 anos, eu ainda morava em Toronto-
- ESPERA - me corta - Então você não é britânica ? - nego com a cabeça - Mas você tem sotaque
- Eu moro aqui desde os 6 anos, impossível não pegar esse jeito forte de falar
- Sabe, a gente tem que parar pra conversar mais
- Quando eu tinha 4/5 anos - retomo o assunto - Assaltaram minha casa
- E oque tem de mais nisso ?
- Era só mais uma noite normal, meus pais tinham me posto pra dormir, e estavam se arrumando pra ir fazer o mesmo.
- Adoro introdução de histórias que não tem nada a ver com oque eu pergunto - o belisco e ele fica quieto
- A senhora mãe só tinha descido pra ir beber um pouco de água antes de dormir.. Só que ela fez isso na hora errada. Quando desceu, deu de cara com dois bandidos, que ameaçaram atirar caso ela fizesse algum barulho. Naquela época, era inverno, meu pai como sempre fica nessa época do ano, estava gripado, e tendo um ataque de espirros, causando um susto nos bandidos que pensavam que ele estava descendo, e por impulso atiraram na minha mãe - eu dizia seca, sem demonstrar nenhum sentimento. Nunca contei isso a alguém, mas falar da morte da minha mãe não é algo que me aborrece - Meu pai desceu, chamou a polícia e o acusaram de homicídio qualificado. Minha avó materna entrou na justiça pela minha guarda. Enquanto todos esses julgamentos aconteciam, minha guarda estava com o governo que foi passado pra um orfanato local.
- Uau..
- Isso é tudo que tem a dizer ?
- Quanto tempo ficou lá ?
- Um ano e meio
- Alguém já quis te adotar ?
- Dois casais
- Isso é realmente incrível.. - oque ele vê de incrível nisso ? - Quer dizer, eu acho incrível que alguém como você, uma pessoa aparentemente normal, tem mais histórias do que toda a minha família - ele dizia meio.. encantado (?)
- Isso é demais pra uma simples menina de 17, alguns psicólogos disseram que quando eu estivesse a par de toda a situação, eu poderia ficar depressiva
- Psicólogos ?
- Sim
- Você vai à algum ?
- Sim
- Mas você é normal! Não tipo, normal normal, mas normal, sabe ?
- Por que você acha que eu estudo demais ?
- Porque você planeja um futuro bom ?!
- Isso é como uma válvula de escape. Eu distraio a minha mente com coisas simples, como escola, hobbies e coisas do tipo, pra não ter tempo de pensar
- E por que pensar seria ruim ?
- Quando uma pessoa sofre muitos traumas, ela começa a ver defeito em tudo. Mas não nas pessoas, em si mesmo. Começa a achar que tem algo de errado com ela, que a vida não está a favor de sua felicidade e etc. Começa a pensar que o passado que tanto lhe faz mal irá afetar o futuro e bagunçar a sua vida novamente.
- Você pensa assim ?
- Claro, a todo tempo
- Por que não conversa com a gente sobre isso ?
- Porque vocês nunca vão entender totalmente oque se passa na minha cabeça
- Se algum dia estiver pronta pra tentar me fazer te entender, eu vou estar aqui do lado. Literalmente - ele levanta, se alonga e volta pra grande janela - Ah, já ia me esquecendo do verdadeiro motivo de ter vindo aqui
- E qual é ?
- O tal baile da minha avó.. Ainda está disposta a ser minha por uma noite ?
- Como ?
- Não, eu não quis dizer assim, tipo, hm, minha minha, estava falando de ser minha, minha parceira, ISSO
- Parceira ?
- Convidada ? - quanto mais falava, mais envergonhado ficava e mais se atrapalhava
- As 20hrs sem atrasos - vou até ele e me despeço com beijo em sua bochecha
- Boa noite, Mia - e lá se vai ele pela árvore que tem entre nossas casas.

[...]

Eram mais ou menos 17hrs e todas as mulheres dessa casa estavam a todo vapor

Menos eu

Ainda acho que em algum mundo paralelo eu sou um homem

Jullie andava de um lado pro outro, impaciente por suas unhas não secarem logo pra que ela consiga fazer outras coisas.

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