O Primeiro encontro

103 4 1
                                    

Fin abaixa a cabeça ao receber o olhar da minha mãe, sei que mais tarde terei que dar satisfações pra ela, mas isso não importa agora, eu posso omitir minutos da minha vida, enquanto ela tem que me contar o quê omite por anos. Eu tento me recompor e me sento na cama. Ela cruza os braços e franze a testa.
- Tem alguma coisa que queira me contar?- ela pergunta se sentando ao meu lado. Eu balanço a cabeça negando - Você sabe, se você ficar com o Fin vai ser bom, entende? Ter um pedaço do Finnick por aqui, e você o ama.
- A senhora que deve me contar algumas coisas.- eu olho pro seus olhos cinzas e tentando mudar de assunto, sim eu amo o Fin, mas eu não sei de que forma. Mamãe acaricia meus cabelos, um toque que eu aprecio, um momento precioso só nosso, que são raros, mas hoje é um dia bom, um dia que ela está presente, eu me inclino ao seu toque e ela me abraça.
- Sim, eu devo te contar, todos esses anos eu te contei o necessário, o suficiente para te ensinar a ser corajosa, a enfrentar seus medos e acreditar que os seu sonhos o amanhã os fara verdadeiros- ela lentamente diz pra mim.- Ruedson, eu preciso que você mantenha a mente aberta- ela pede pegando meu rosto entre as mãos e olhando nos meus olhos- Prometa que vai entender.
- Prometo.- Sim, eu prometo entender. O rosto dela parece abatido e distânte, ela morde o lábio e balança a cabeça para expantar algum pensamento ruim.
- Se chama telessequesto.-ela começa e a palavra que eu li no livro reaparece nos meus pensamentos.- Existem vespas, genéticamente modificadas chamadas teleguiadas, ser picado por isso causa alucinações, em casos extremos a morte, o veneno atinge o lado do cerebro que trabalha o medo.-ela fecha os olhos.
- Então foi isso que aconteceu com o papai? Ele foi picado e agora tem medo da gente? - tento entender a história, isso não faz muito sentido.
- Não, ele não foi- responde abrindo os olhos- O veneno não funciona assim. Ele... bem...- ela se embaralha com as palavras, não conseguindo falar.- Quando seu pai foi levado preso pela Capital, eles lhe davam doses desse veneno, não o suficiente para matar a pessoa, o suficiente para retardar o cérebro.
- Como assim? Eles torturaram o papai?- mamãe acena com a cabeça em concordancia, eu levo minha mão a boca. Imagens do meu pai amarrado em uma cadeira levando choques, apanhando, sendo mutilado invadem minha mente, de repente, perco a capacidade de falar, eu só fito o rosto da mamãe, exigindo mais, acho que nada me assustaria mais do quê ela já disse.
- Com ajuda do veneno, a Capital...- ela se corrige rapidamente- A antiga Capital conseguiu fazer Peeta me ver como uma ameça, como uma uma mutação, uma bestante que precisava ser destruída, ele fizeram isso com ele, fizeram ele deixar de me amar, foi muito...sofrimento conseguir fazelo ver a razão de novo, por um tempo eu pensei que ele jamais voltaria pra mim, depois pensei que estaria curado, mas isso sempre volta, mas eu o amo, eu preciso dele e, ele precisa de mim, ele disse que ficaria "sempre" comigo, ele cumpre a promessa, hoje ele só... - mamãe tira a minha mão da boca, e a acena na frente do meu rosto.- Ruedson, fale comigo, é... eu entendo, perdemos a capacidade de falar quando envolve as pessoas que amamos.
Eu só pisco ainda tentando processar tudo que ouvi, papai... torturado, telequestrado, abusado...
- Ele já tentou matar você?- minha voz sai fraca. Eu desejo que ela diga que não, pois não imagino as mãos macias do papai, se fechando em torno do pescoço da minha mãe.
- Já, algumas vezes- mamãe fala e eu já estou me levantando - A culpa não foi dele Ruedson, foi o veneno, o induziram a isso, Rudson! - ela chama meu nome e, corro do meu quarto.
Desço as escadas e tropeço na cadeira caida na sala, do de cara com o chão mas acabo caindo com as mãos, meu dedo anelar lateja, tento não notar, mas a dor é escruciante e um grito rouco sai da minha garganta, alguém tenta me levantar, eu chuto essa pessoa e me levanto, a pessoa protesta e antes de sair pela porta, vejo a marca vermelha que meu chute deixo em meu pai.
Um, dois, três, quatro, um, dois, três, quatro... mantenho o ritmo da corrida, as lágrimas querem descer mas eu não deixo, trinco os dentes e aguento a dor, provavelmente quebrei o dedo, mas não é isso que quer me fazer chorar, imagens do meu pai tentando inumeras vezes e de diferente formas matar a minha mãe lampejam na minha cabeça. Continuo correndo, atravesso a cerca e corro para o fim da Campina, já em entrada na floresta, eu vou correndo entre os matos, algumas galhos cortam minhas mãos e meu rosto, eu protesto quando um se solta em meu rosto, eu caio pra trás, mas me levanto e volto a correr, paro em um tronco oco e pego meu arco e minha bainha de flechas, prossigo correndo até mudar de posição e volto para Campina. Finalmente paro, meu corpo está tremendo, emoções passam sobre mim, raiva, ódio, angústia, amor...
De repente, eu odeio a revolução, eu odeio a guerra, a liberdade, eu odeio o quê fizeram com meu pai, eu odeio o fato da minha mãe não ter me contado antes, odeio o fato do papai não ter falado nada, eu odeio tudo, só desejo imaginar um lugar, onde eu me sentiria segura, com alguém ao meu lado, talvez Fin... Ah Fin! Você também me deu problemas, tudo que eu menos precisava agora era de alguém apaixonado por mim, sei que não poderei deixar isso passar em branco, mais tarde- quando eu der um jeito nos meus machucados que envolvem: um dedo quebrado, uma mão quase destendida com pequenos cortes, arranhões no rosto e cansasso físico e mental- eu explicarei a Fin o por quê eu não preciso de um namorado.
Esse não está sendo um sábado agradavel, deve ser por volta das onze horas, já que o sol não está perfeitamente a pino no céu, eu inalo o ar da floresta, ele reveste meus pulmões enquanto tento recuperar o fôlego. Eu coloco uma flecha na corda do arco, estou matendo guarda, sinto que estou sendo observada, escuto um assobio familiar, na verdade vários, eu assobio de volta as pequenas quatro notas que mamãe me ensinou, os tordos repetem e um voa perto de mim, a raiva que eu tenho, me lembrando que a revolução surgiu com esse passáro me deixa nervosa, eu penso em atirar uma flecha bem no meio deles, só para assustalos, já que eles estão voando em volta, eu posiciono a flecha pra cima e quando estou preste a atirar alguém segura meu arco e me empurra, rapidamente saco a pequena faca que tenho comigo e tento cortar a mão de meu inimigo, mas ele é mais rápido, e consegue tirar a faca da minha mão e a joga longe, pega meu arco e me empurra mais uma vez, agora pro chão.
- O quê pensa que está fazendo?- rosno tentando localizar seu rosto, mas o sol bloqueia minha visão.
- O quê "você" pensa que está fazendo? - ele faz a mesma pergunta com ódio na voz- Não se mata tordos! Você é o quê maluca? Não bate bem das ideias? Eles foram o símbolo da revolução, devia saber disso.- murmura e me levanta, eu saio de perto dele e o empurro.
- Eu não ia atirar só ia assustalos- falo trocando de posição para ver seu rosto. É só um garoto, não devemos ter a mesma idade, ele é bem maior que os garotos mais velhos daqui do distrito, seus cabelos são escuros e sua pele é cor de oliva assim como eu, mas são seus olhos que me chamam a atenção, também são cinzentos como o da mamãe, ele está trajando uma calça jeans azul escuro, uma camisa azul de manga cumprimda que marca seus músculos e usa um colete marrom aberto por cima, ele me parece familiar, mas isso não deixa escapar o fato que me empurrou. Mas ele ajudou você levantar Ruedson-meu subconsiente diz pra mim- sim ajudou, depois de ter me derrubado. - Você tá bem? - pergunta calmamente.
- Não!- eu grito furiosa e ele da um passo pra trás erguendo a mão sem o arco.- Eu recebi uma declaração da qual eu não precisava, meu pai teve mais um surto de raiva, acabei descobrindo uma coisa da qual me deixou em choque, eu tropecei em uma cadeira e quebrei meu dedo, chutei alguém que eu amo, corri muito, me cortei enquanto corria, me empurrarão e pegaram minha faca e meu arco e agora estou numa Campina contando sobre minha vida para um estranho! - eu caio de joelhos no chão, uma presa fácil eu seria, se ele tentasse algo, mas estou acabada de todas as maneiras possíveis, não sou como minha mãe, não sou forte e corajosa como ela, jamais serei. O estranho em minha frente solta meu arco no chão e se ajoelha junto a mim.
- Me desculpe...- ele diz pegando as minhas mãos, tento fugir do seu toque mas suas mão quentes de juntam as minhas minhas, acho que ele está verificando se estou muito machucada.- Eu só não aceito ninguém caçar por esporte.- eu tento reclamar mas ele logo acrescenta- Mas é claro, não foi o caso aqui, você só estava tentando assustalos, entendo, eles meio que cansam uma hora...-ele bufa e sorri pra mim, dentes brancos e perfeitos, me vejo perdida encarando seu rosto, ele diz alguma coisa, eu não percebo até que ele me tira do transe- Hey, eu perguntei se você quer ajuda?- eu pisco algumas vezes. Bom Deus! Como eu me permitir ficar assim?
- Sim preciso- solto as palavras, mas volto atrás e tento fazer uma postura mais dura- Quero dizer, não, não preciso, vou ficar bem.
- Ok, vou fingir que acredito- ele resmunga e se levanta - Vou pegar a sua faca.- eu viro minha cabeça e o observo andar, ele tem ombros largos, tem quase o mesmo porte que o Fin, seu cabelo escuro é bagunçado com o vento, ele se abaixa e pega a minha faca na grama, depois se vira e encara meu rosto. Eu encaro de volta.
- Pra quê pergunta então?- sibilo pra ele. Ele solta uma risada.
- Você sabe o quanto é grossa?- pergunta me entregando a faca. Eu ergo a mão e pego, a guardo em um dos meus sapatos equipados pra isso.
- Você tem ideia de como é...- olho suas feições e não consigo encontra a palavra que o define.
- Sou?- ele brinca.- Viu? Sou tão especial que não sabe me definir.- eu me permito rir.
- Você é um estranho, eu nem te conheço e você já se mostra muito acolhedor e familiar.- digo e ele senta no chão e sorri mais uma vez.
- Familiar de que forma? Familiar de família? Ou familiar de, eu pareço com alguém? - o garoto questiona.
- De parecer com alguém,- respondo.
- Sei...- murmura e eu balanço a cabeça em reprovação. De repente, é como se não existisse mais nada, somente eu e... esse cara estranho.
- Mas você ainda é um estranho.- afirmo.
- Posso deixar de ser se você me conhecer, ou você pode se apresentar pra mim, pode começar dizendo o seu nome - ele sugere.
- Eu sou Ruedson- me apresento.
- E eu sou Keep.- fala.
- Prazer te conhecer Keep, só por favor, "mantenha" a calma.- brinco. N.t : em inglês Keep significa mantenha, ou seja, foi como se Ruedson dissesse: Keep Calm.
- Pelo visto viramos grandes amigos, já que você já está fazendo trocadilhos com meu nome.- Keep me olha. E surge dentro de mim um carinho por seu nome.
- Uma amizade que não começou muito bem.- relembro. Keep franze a testa e se aproxima de mim.
- Suas mãos- ele rosna pra mim, Keep as pega e analiza a esquerda que está com o dedo anelar quebrado.- Vem vamos, não posso de deixar com o dedo assim- ele se levanta e me levanto junto.- Onde você mora?
- Na Prim Villes.- meu rosto coça, eu tento passar a mão mas Keep passa o dedo no pequeno corte para aliviar. Eu sorrio para ele, Keep franze o rosto.
- O quê foi? Por que está sorrindo?- ele tira as mãos do meu rosto.
- Por quê você é muito idiota.- mais um sorriso e uma alegria inimaginavel em menos de 30 minutos. Acho que sorri mais agora do qualquer momento outro momento da minha vida.
- Pois bem, esse idiota aqui vai te levar pra casa, para sua família cuidar de você e você mocinha, com certeza deve desculpas a pessoa que você chutou.- Keep se abaixa e pega meu arco, joga em seu ombro e, me levanta nos seus braços, junto ao seu peito.
- Keep-protesto quando ele começa a andar comigo em seus braços. - Não estou com o pé machucado, eu posso andar, eu posso andar- me balanço em seus braços.
- Eu posso te levar, não me importo, é pra isso que serve os amigos.
- Mas eu não sei nada de você, por exemplo, nem sei a sua idade.- desisto de me soltar e tento iniciar uma conversa.
- Quantos anos acha que eu tenho? - Keep caminha em direção a cerca.
- Sei lá, por volta de vinte e três, ou vinte e cinco anos.- pela força fisica e tamanho presumo isso.
- Nossa, acha mesmo isso? - Keep ri.
- É serio, eu posso andar.- digo vendo que ele está respirando com dificuldade.
- Eu tenho dezoito.- Keep tenta mudar de assunto, pelo visto ele gosta de me carregar.
- Não parece que tem dezoito, eu não achei.
- Você não acha muita coisa, como por exemplo, acha que sai correndo com um dedo quebrado não faz mal.
- É uma longa história.
- Longa? - Keep brinca- Acho que você já me resumiu ela quando estava gritando comigo.
- Você me deixou nervosa.- brinco com os botões de seu colete.
- Me perdoe por te empurrado. - Keep para de andar e olha pro meu rosto.
- Me perdoe por...- eu começo a falar mas Keep está sorrindo mais uma vez.- acho que não devo desculpas de nada.- paro de olhar em seu rosto.
- Tem razão Ruedson - pela primeira vez ele diz meu nome, um calor percorre meu rosto, estou corando furiosamente.
- A quanto tempo está morando aqui no doze? - isso é bom, eu tentando iniciar uma conversa que não me deixe constrangida.
- A duas semanas.- ele responde.
- Você mora com seus pais?
- Sim. - Keep parece ter recuperado a energia.
- Eai, gosta do seu pai? - faço essa pergunta idiota.
- Por quê eu não gostaria? - Keep não levou na brincadeira.
- Desculpa, era pra ser uma brincadeira.- me sinto culpada.
- Não tudo bem, é só que ele foi importante na revolução.
- Oh, minha mãe também.- falo e percebo que estamos se aproximando da cerca. Ele para e pergunta:
- Quem foi sua mãe?
- Katniss Everdeen.- respondo com um pouco de orgulho na voz.
-Uau, você é filha de uma rebelde também- ele brinca- ou melhor, filha de "A" rebelde, se é que me entende- Keep continua no mesmo ritmo.
- Você sabe caçar?- pergunto.
- Claro. - ele responde.
- Se não tiver plano para amanhã, nós poderiamos caçar.- eu sugiro e Keep parece considerar a ideia.
- Acho perfeito, amanhã aqui na Campina, as sete horas da manhã.- Keep aceita.
- Não me deixe sozinha.- resmungo.
- Nunca.- Keep pronuncia com firmeza e algo queima meu peito.
Chegamos a cerca, ele me coloca no chão para podermos atravessala, assim que passamos, ele me coloca nos braços de novo.
-Como vai a força?- brinco com ele.
- Vai ótima- ele fala- Seu pai é o Peeta?- pergunta e eu não entendo o motivo.
- Sim.
- Olhe só, de quem eu tenho honra de ser amigo. - ele parece feliz.
- Quem seu pai foi?
- O soldado Hawthorne. - Keep demonstra mais orgulho do que eu, e um suspiro de exclamação me escapa.
- Seu pai é o Gale.- afirmo, ele é filho do Gale, meu Deus! E agora?
- Sim. Algum problema?- Keep alivia seus braços em minha volta.
- Não de forma alguma, seu pai nunca falou da minha mãe pra você?- pergunto.
- Não, ele deveria? - ele pergunta indiferente.
- Acho que não- murmuro e mais resentimento do Gale me invade, como ele nunca pode dizer nada da minha mãe para Keep? Mamãe disse que Gale e ela foram melhores amigos, eles se amavam, mamãe o amava de uma certa forma, é claro, mas isso não justifica o fato que ele se esqueceu completamente dela - Siga reto por aqui, assim vamos sair por trás da minha casa.
- Como quiser Ruedson.- Keep concorda.
- Obrigado- agradeço.
Ele prossegue em um ritmo lento, mas em pouco tempo chegamos a minha casa por tras do mesmo bosque do meu beijo com o Fin, me sinto um pouco ruím por Keep vir por aqui, esse lugar agora é especial, para o Fin... gostaria de saber o quê Fin acharia disso tudo... espera! Tudo isso? Eu simplesmente conheci o Keep e agora tenho um amigo, talvez...
- Deseja entrar pela porta da frente?- Keep pergunta e eu aceno com a cabeça. Keep contorna a casa e chega na minha porta, ele me coloca no chão. Eu abro a porta, mamãe corre para me abraçar.
- Ruedson me perdoe, por favor- ela pede me abraçando. - Por favor, por favor me perdoe.
- Tudo bem mãe, eu que pesso perdão. Fique calma- eu digo e saio do seu abraço. Me viro e encaro Keep, ele está franzindo a testa ligeiramente. - Obrigado por me carregar soldado Hawthorne. - agradeço a Keep e mamãe suspira ao ouvir esse nome.
- De nada senhorita Mellark.- ele sorri pra mim mais uma vez. E eu sorrio de volta.
Eu penso em como Keep me trouxe até aqui, só por causa de uns cortes e um dedo quebrado, ele conseguiu um lugar em meu coração. Uma bela amizade inicia aqui, assim como a da minha mãe com o Gale, eu só espero que um dia, Keep não se esqueça de mim.



A CampinaOnde histórias criam vida. Descubra agora