Sentimento

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- Onde está? Onde está? Onde está? Droga!-Rosno nervosa e assustada enquanto destruo meu quarto atrás do presente que recebi de Fin, somente isso pode me acalmar agora, eu desabo no chão, tentando entender o quê aconteceu, mas Fin já está de volta me envolvendo com seus braços, o único lugar que eu me sinto amada quando ninguém mais vem em meu socorro.
- Shhh, vai passar, fique calma-Fin sussurra e beija meu rosto - Vai passar, sempre passa- ele alisa meu cabelo e beija meu rosto mais uma vez.
- O quê é aquilo? Por quê acontece? Mamãe disse que aquilo ia passar, mas hoje voltou... - eu sussurro e não me permito chorar, eu coloco meu rosto na curva do pescoço de Fin, ele tem a ideia errada e suspira baixinho, ele respira e murmura:
- Talvez se você tivesse...- ele não termina, eu sei sobre o quê ele ia falar, um... "namorado", a palavra me embrulha, e eu sei quem entraria pra esse cargo, Fin, ele revelou a poucos minutos atrás...

Flash Back On:
Eu estou revirando os livros da biblioteca do distrito 12, algo que me responda, algo que a mamãe e o papai não explicam, os pesadelos, as crises de raiva, o medo de perder tudo, isso é um assunto pessoal, não está nos livros, mas eu acredito que deve ser algum tipo de trauma, mas nada se encaixa nos livros de psicologia e medicina, eu encontro um artigo falando sobre telessequestro, quando penso em começar a ler a senhora Portman grita do outro da biblioteca:
- Estamos fechando Ruedson, já encontrou o quê queria?
- Sim, mas pelo visto não vai dar tempo...- grito de volta e arrumo os livros na prateleira.
A palavra "telessequestro" ainda brilha em minha mente, eu caminho para fora da biblioteca e desvio das pessoas na rua, olho para os meus sapatos, tão limpos como quando eu saí de casa, apesar da fina camada de neve, mamãe os limpou pra mim, porquê hoje ela estava bem, temo que amanhã não esteja. Eu faço meu caminho de volta e paro na padaria do papai, eu vou entrando, o sino denúncia minha entrada, Jimmy está na no caixa, cabelos ruivo, olhos castanhos, pele cor de oliva, ele demonstra interesse em mim, finjo não notar, papai deve estar na cozinha.
- Ruedson- Jimmy me cumprimenta.
Murmuro um simples olá e pergunto sobre meu pai.
- Ele não está, ele foi mais cedo pra casa hoje.
- Ah, ok...- resmungo.
- Quer alguma coisa? - ele sorri pra mim gentilmente.
- Hoje não. - falo e lhe dou um aceno enquanto saio da padaria, continuo meu caminho até a antiga vila dos vitoriosos, que hoje se chama Prim Villes, uma longa história sobre esse nome, vejo umas crianças correndo, uma delas cai de cara no chão por causa da neve, antes de eu chegar perto dela para levanta-la, Fin a pega e a roda no ar, a criança sorri pra ele, Fin pergunta algo pro garoto, ele nega com a cabeça, sorri de volta e seu rosto se ilumina ao me ver. Ele solta o garoto que vai correndo pra perto das outras crianças. Eu sorrio pra pra Fin, ele tem vindo mais vezes me visitar, isso já está me deixando curiosa. Eu vou andando em sua direção.
- Talvez eu devesse cair na neve também...- digo lhe mostrando um sorriso.
- Você não precisa cair na neve para que eu te abrace daquela maneira.- ele coloca uma mecha do meu cabelo atrás da minha orelha, ultimamente os elogios estão tão frequentes, que eu já não sinto mais a necessidade de corar.
- Você está me deixando mimada - falo olhando para os meus sapatos.
- Vem, precisamos conversar- Fin caminha em direção a parte de trás da minha casa.
- Aconteceu alguma coisa? - pergunto enquanto coloco as minhas mãos no bolso.
- Nada para se preocupar- ele diz rapidamente, continuamos andando, agora em direção ao bosque que fica por trás da Prim Villes. Ele para e se vira pra mim, eu o encaro e espero que ele diga algo, sua expressão está rígida, ele aquece as mãos passando uma nas outras, ele olha pro lado e pro outro, como se certificasse se estamos sozinhos, eu bato o pé impaciente.
- Fin!- chamo enquanto toco seu braço, seus olhos cor de mar me encaram.
- Você me ama?- ele é direto, o quê me faz da um passo para trás, ele da mais dois pra frente, assim olhando para meu rosto, o lado bom é que ele é alto, então eu olho para baixo, se eu olhar pra cima acabarei beijando seu queixo por acidente.
Eu começo a processar as palavras " Você me ama", o quê eu digo? Olho para os lados, sinto sua respiração no alto da minha cabeça, um vento frio me invade, eu me encolho.
- Fin...-sussurro sem saber o quê dizer.
- Frio? - pergunta soprando as palavras em minha testa. Não consigo pensar em nada, seu aroma me envolve, mas ele é... tão mais velho do quê eu, talvez eu devesse justificar os motivos do quê nos impede de ficarmos juntos, porém, não consigo pensar direito, só em como Fin devia estar querendo me perguntar isso a um bom tempo, eu finalmente digo:
- Não acha que eu sou... nova de mais pra você? - não encaro seu rosto, ele pega meu queixo entre o polegar e o indicador e deposita um beijo em meus lábios, tudo em volta gira, a neve de repente está em cima e o céu em baixo, talvez porque esperei isso todos esse anos, ou só por curiosidade dessa sensação, mas o beijo é rapido de mais pra eu poder distinguir a verdade. Uma coisa invade minha mente, a sua demonstração de afeto, seu carinho, a forma que me olha, que me toca, todos esse anos construí um amor por ele, um amor enorme e incondicional, eu o amo, mas... de que forma?
- Ruedson- Fin diz meu nome com reverência exigindo minha resposta. Desde que eu nasci Fin estava lá, eu o amava, eu queria ele perto, eu precisava dele, como o peixe precisa do mar.
- Sim- respondo olhando pro seus olhos- Amo.- Seu rosto se alivia, mas ele não sorri, só demonstra uma expressão impassível.
- É o bastante.- ele afirma me deixando no bosque sozinha com seu gosto e seu cheiro no meu corpo.
Quando eu o olho parti reparo em sua costas, no seu cabelo cor de bronze e a forma dele andar, e em como eu deveria me sentir apaixonada e digna de seu amor por mim, mas não consigo sentir nada disso, então só me resta a dúvida. Eu começo a caminhar em direção a minha casa, pretendo entrar pela porta de trás, Fin deve ter usado a da frente, eu olho em volta vendo se ninguem viu o beijo, não gostaria de virar o assunto do mês, gosto de ser bastante reservada, mas sendo filha de Katniss e Peeta Mellark, não me concedem esse privilégio.
Eu entro pela porta de trás e noto que minha mãe não está cozinha, somente Fin bebendo água.
- Veio tirar o gosto ruim da boca? -pergunto erguendo as sombrancelhas. Ele ri e nega com a cabeça e murmura algo que não consigo ouvir por causa do barulho de madeira quebrada que vem da sala. - Mãe?- corro pra sala antes de Fin.
A cena é estranha, mamãe está abaixada, abraçando papai  por trás, uma cadeira está com as madeiras das costas quebrada, papai olha pra mim e quase não vejo seus olhos azuis, por causa das suas pupílas dilatadas, mamãe sussurra algo em seu ouvido enquanto suas mãos tem espasmos. Não! De novo não! Mais uma vez isso afetou meu pai, já faz tanto tempo que não acontece, talvez anos...eu não sei o quê é, mamãe nunca explica.
Ela continua abraçando ele por trás e seu olhar encontra o meu.
- Ruedson...- ela choraminga e é quando papai tenta se levantar como se fosse para me atacar, mamãe o segura enquanto ele tenta se acalmar- Fin!Fin!- ela grita e Fin já está agarrando meus braços.- Tire Ruedson da sala!- eu tento me soltar mas não consigo.
- Agora! - papai rosna enquanto seu corpo treme.
Fin me puxa em direção as escadas e eu me debato atoa tentando me soltar.
      - Onde está o Nick? - Fin pergunta tentando me conter.
       - Na casa de um amigo- mamãe fala rapidamente. Mas antes de Fin me tirar da sala, eu finalmente escuto o quê a mamãe sempre sussura para o papai quando isso acontece:- Não é real, não real, não real, Peeta, fica comigo.-ela pede enquanto aliza seus cabelos loiros.
Fin me aperta com força contra seu peito e me leva para meu quarto.
- Mãe! Mãe! Mãe! Me solta Fin- eu protesto tentando fazer de tudo pra me soltar.
- Ruedson pare! Pare com isso...- Fin me aperta com mais força enquanto tenta abri a porta do meu quarto, eu não paro de me debater... por favor- ele implora. Eu paro de mexer e ele consegue abrir a porta, Fin me coloca dentro do quarto- Vou ver se ela vai querer minha ajuda.- Fin fala saindo do quarto.
- Não vai-eu peço me virando pra ele.
- Eu volto- diz e sai do meu quarto fechando a porta.
Eu tenho que me acalmar, mas não consigo. Isso acontece as vezes, raramente posso dizer, já tivemos anos que não aconteceu, mas sempre volta, essa crise de raiva homicída que o papai tem, eu não entendo, ele está tão calmo e depois por algum motivo desconhecido ele fica bravo ou nervoso, de vez em quando ele só cerrava os punhos e fechava os olhos enquanto a mamãe o confortava, beijando-o ou cantando pra ele, em outras vezes ele agarrava as costas de uma cadeira até que a raiva passasse, mas eu nunca descobri o que o leva a isso.
Olho para meu quarto e tento localizar a concha que Fin me deu, o barulho do mar pode me acalmar, eu sei disso. A concha. Começo a vasculhar meu quarto , enquanto ele não volta para me consolar com seu amor.
Flash Back Off.

Agora:
- Você me beijou e me deixou lá, então não me jogue suas ideias depois do que eu vi. - falo para o Fin enquanto saio do seus braços e fico em pé.
- Quando a sua mãe dizer pra mim te levar, você faz isso por você mesmo - Fin se levanta e pega meu braço, eu reviro os olhos pra ele- Em primeiro lugar, ao ver uma cena dessas você se distância, entendeu?
- Eu só quero ajudar Fin!- rosno e puxo meu braço de suas mãos- Ele é meu pai! Não seu! Para de tentar assumir um papel que não pertence a você, porquê você nunca vai saber o quê é isso!- as palavras estão longe da minha boca muito antes de eu me dar conta dos efeitos que elas teriam, eu tento tapar a minha boca, mas eu estou em choque. Então só ficamos ali parados, observando um ao outro, seus olhos se fecham, quando abrem estão úmidos, ele trinca os dentes.
- Mas não se esqueça que se não fosse meu pai, Peeta não estaria vivo hoje! Lembresse quem reiniciou o coração de seu pai! Lembresse de quem o manteve vivo!- ele joga as palavras na minha cara. Uma lágrima ameaça sair do seu rosto, ele a limpa antes mesmo que ela desça pela sua face.
- Fin me perdoe... é que, eu só queria que ela me dissesse, ou ele, o quê é essa raiva homicída, já faz tanto tempo que aconteceu..- tento argumentar, mas Fin só me encara incrédulo tentando processar minhas palavras. - Fin, me perdoe por favor.- ele pisca e olha dentro dos meus olhos, sua expressão fica mais serena, mais frágel, como se ele estivesse se transformando em um garoto sem pai, com uma mãe instável... e eu noto- Oh Fin- sussurro o abraçando, pois é isso que ele é. Seus braços se mantem firme em volta de mim.
- Amo você-Fin diz saboreando essas duas palavras e desliza as mãos pelas minhas costas e eu suspiro em seu pescoço- Muito mais do quê você pode imaginar.
- Ah Fin.- tento alcançar seus cabelos, para que eu possa experimentar um beijo seu mais um vez, para que eu possa descobrir meus sentimentos, mas mamãe entra no quarto e pigarreia.
- Acho que te devo uma explicação- mamãe afirma.
Fin me solta delicadamente e eu tento não corar ao olhar pra minha mãe.

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