As duas faces da história

54 2 0
                                    

Saio de casa antes de todos acordarem, por mais que eu tenha tido um bom momento com a minha mãe ontem, na hora de me ajudar a dormir após o pesadelo, eu não quero falar disso.
Ao chegar na escola percebo que ainda está cedo e quase ninguém chegou. Me sento encostada numa árvore e tiro uma velha edição de um livro chamado "Alistair" da mochila para ler de novo.

A história já sei de cór. Alistair perde a irmã em um acidente de carro, começa a descobrir mais coisas sobre esse acidente, se apaixona por uma garota chama Kerah e juntos descobrem que a sua irmã forjou a morte e esta viva. Final feliz, bobo e óbvio.

E eu invejo esse livro, invejo Alistair e principalmente Kerah. Oh, sim. Kerah. Ela é a minha âncora. Ela se envolveu com Alistair porque queria em parte, ajuda para descobrir mais sobre seu próprio passado, já que seus pais adotivos não falavam disso, Kerah perdeu a memória e aos 17 anos com a ajuda de Alistair, descobre tudo sobre ela. Kerah teve a sorte de ter alguém pra ajuda-la, assim como Alistair teve sorte de ter Kerah, os dois juntos eram uma dupla perfeita, jamais alguém colocaria defeito.

- Ler é tão bom quanto sonhar, você não consegue parar imediatamente e mesmo depois que acabou, continúa pensando nisso - uma voz familiar diz pra mim.

- Palavras bonitas - murmuro fechando o livro e olhando para Keep, bato eu meu lado para que ele se sente.

Keep se senta lentamente e tira a mochila das costas. Esta usando uma camisa preta de manga curta, calça jeans e tênis surrados, toda a formalidade de roupas da minha família não parecem ter importância agora. A roupa dele parece tão confortável e despojada, que não ligo mais pra sapatos limpos e camisetas passadas.

- Esta fazendo uma avaliação silênciosa - Keep fala me olhando.

- Hábito - dou de ombros.

- Seu hábito é pertubador - ele afirma e meu queixo cai aberto.

- Você não está com frio?

- Não. Vejo que você esta, com esse casaco vermelho muito chamativo.

- Nossa.

- Me perdoe se não sou formal como você.

- Na verdade eu pensei totalmente o contrário - passo a mão no cabelo.

- Ah, tá, até parece. - ele abre a mochila.

- É verdade, eu vi o quanto a sua roupa é tão...- hesito para encontrar a palavra, enquanto Keep pega um saco marrom de papel e tira um sanduíche de dentro - normal- completo.

- Hum - ele morde o sanduíche - Desculpe me por falar de boca cheia mas, você esta aceitável.

- Aceitável? - pergunto e ele faz que sim com a cabeça- "Me perdoe" , "desculpe me" e agora "aceitável". E eu que sou formal?

Keep mastiga com calma e depois responde:

- Fui educado dessa maneira. Acho que fizeram um excelente trabalho. - reviro os olhos quando ele diz isso- Quer um pedaço? - ele oferece o sanduíche.

- Não estou com fome.

- Comeu muito no café da manhã?

- Eu não comi nada até agora, sai mais cedo de casa e...

- Não comeu nada?- sua voz sai rúde.

- Não - respondo indiferente -- Qual é o problema?

- Você devia comer alguma coisa - ele insiste me dando o sanduíche meio mordido.

- Por quê essa insistência? - olho pro sanduíche e meu estômago ronca - Mais uma da sua forma de criação? Seus pais não gostam de desperdiçar comida?

A CampinaOnde histórias criam vida. Descubra agora