Ela

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Nova York, sábado, dia 23.

Era uma manhã fria e solitária numa das incríveis pracinhas públicas de New York, Ela, a garota cujo o nome agora é Alexia, se situava em um banquinho perto de um lago. Enquanto reparava e admirava a beleza do mesmo. Seu único pensamento era do por quê nascera assim...  Diferente.  Realmente achava que era uma espécie de maldição, infeliz, que a assombrava desde que tinha 5 anos.

Havia se mudado para esta cidade faz cinco dias. Ninguém a havia notado ainda, o que era maravilhoso. Precisava mesmo se esconder por um tempo. Alexia viva sendo alvo de críticas assombrosas.

Agora,  ali no lindo parque, as pessoas passavam  num vai e vem constante. Pássaros cantavam em alguns pontos e o frio dominava tudo.

Enquanto esses pensamentos cabulosos assombravam tua mente, algo aconteceu. O lago congelado, impecavelmente branco, começou a perder a cor. Ela se sentiu puxada por uma espécie de transe e foi sugada para a paisagem que se moldava à frente. Todos ao redor pareceram parar no tempo, alguns em posições consideravelmente engraçadas. Alexia perdeu os movimentos do corpo. Não sentia seus membros, apenas sentia sua cabeça, que pesava cada vez mais, como se afundasse num oceano profundo. Seus olhos se mexiam, porém, indo de um lado a outro , em velocidade constante. Se alguém a visse assim, deduziria que era louca.

O lago, coberto pela neve, foi ficando preto. Todas as cores deram lugar ao escuro e todos os seres vivos desapareciam, engolidos pela massa de escuridão que se apoderava do local. De repente, só sobrou Alexia, parada, estática, imóvel, como preferir... Em cima do banco em que repousava. O banco não fora engolido, e nem as cores de sua roupa. A calça jeans de um azul marinho que combinava com o seu coturno vermelho e seu cardigã preto. A boina que vestia, vermelha como o sangue, foi a primeira peça a desaparecer. Cardigã, calça e sapato foram logo em seguida. Alexia sentia tudo isso acontecer sem nada fazer. Não conseguia se mexer, havia se tornado paralítica.

Agora nu, ela observou o Centro da escuridão. Uma gota de sangue apareceu. Ela flutuava e parecia querer contar uma história. Alexia não queria presenciar outra história triste. Queria alguma feliz, entretanto, não era assim que as coisas funcionavam.

Desde os seus cinco anos, ela começou a ter essas visões, não sabia como acontecia, mas seus membros sempre paravam de operar, sobrava apenas o teu corpo nu, cara assustada, "aloucada",  e a vasta imensidão negra. A gota vermelha do líquido da vida se aproximou de Alexia até chegar aos seus olhos. Passou por eles, tentando penetrar. Conseguiu. Tudo era vermelho e pegajoso. Avistou uma pequena criança. Usava um macacão jeans e botas castanho escuras. Parecia feliz. Andava na Beira do pequeno laguinho. O lago coberto por neve em que Alexia se perdera, nessa história, o laguinho estava limpo e azul. Tudo era vivo em volta do pequeno ser. Era a história dele. Ele cantava alguma música... Alexia se esforçou para ouvir.

- Eu canto para você ouvir, amor
" Eu canto para você se acalmar.
Eu canto. Eu canto. Canto...
Eu canto para você sentir meu pudor.
Eu canto, só a você sei amar... "

A mãe do menino o interrompeu na canção o chamando para ir embora. Era uma senhora de meia idade, de rosto rígido e roupas cinzas. Alexia não gostou dela. O garoto a seguiu. Seus cabelos cacheados de tonalidade preta se agitando a cada passo, ele olhou para Alexia, fixamente, como se a pudesse ver. Os olhos do garoto, verdes como mel se agitaram, dilatando a pupila imediatamente. Ele era igual a ela! Ele era....

A cena mudou.

Estavam na casa dele. Na cozinha,  onde a mãe lavava uma pilha de pratos e o garoto balançava os pés enquanto estava sentado numa grande cadeira.

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