Parte 3 - Volevo dirti che ti amo

4.8K 129 32
                                    

Madrid – Espanha

Maio de 2005

~ Micaela ~

Os raios de sol que invadiam o quarto através das frestas da cortina me despertaram, em conjunto com a voz que ouvia ao longe. Abri os olhos e, pela porta entreaberta, vi o vulto de Maire caminhando de um lado a outro pela sala enquanto falava ao telefone. A conversa era em inglês e, por isso, não entendi muita coisa. Mas deu pra compreender que ela conversava com a irmã caçula, sobre o colégio e garotos.

Enrolei-me nas cobertas e peguei os óculos na mesa de cabeceira, pondo-me a observar aquele quarto tão diferente do meu. Os quadros de paisagens e a estante repleta de livros denunciavam a paixão de Maire por artes, natureza e literatura. Num canto aglomeravam-se bichos de pelúcia, e outros objetos delicados ajudavam a decorar o cômodo. Um verdadeiro contraste ao meu dormitório, onde os livros da estante eram apenas os da faculdade e o mais próximo de objetos de decoração eram pequenos aparelhos eletrônicos em cima da cabeceira.

- Bom dia, minha princesa! – a voz de Maire invadiu o quarto, arrancando-me de minha distração.

Eu nunca fui fã desses apelidos melosos e ela, sabedora disso, gostava de volta e meia usá-los para me deixar irritada ou constrangida.

Incrível eu conseguir amar alguém que gostasse de fazer isso comigo.

No fundo, eu já não achava isso tão ruim assim.

- Dormiu bem? – ela indagou.

Havia parado próxima à porta e fitava-me com o sorriso de sempre. Pensei em como ela conseguia estar linda de qualquer maneira, mesmo no modo confortável no qual estava vestida, com uma calça de moletom e um casaco leve por cima de uma blusa de manga. 

- Não faça perguntas retóricas. – retruquei, num leve tom de brincadeira – É claro que dormi bem ao seu lado.

Nos olhamos em silêncio por alguns segundos, até que eu anunciei:

- Eu preciso ir.

Ela deixou de sorrir.

- Tão cedo? Fique ao menos para almoçar.

- Não posso. Tenho um trabalho importante para levar à faculdade amanhã e ainda nem o comecei.

O rosto dela cobriu-se de desânimo e a minha consciência pesou. Também daria tudo para passar o dia ali, mas, infelizmente, eu tinha obrigações a cumprir. Aquilo já estava se tornando uma rotina. As noites que eu passava com ela eram maravilhosas, mas os dias seguintes eram sempre depressivos.

Nos víamos a semana inteira, na entrada e saída da faculdade e também na academia. Porém, não era a mesma coisa. Se fôssemos como os casais “normais”, talvez pudéssemos aproveitar melhor a companhia uma da outra, andar de mãos dadas ou trocar qualquer uma dessas demonstrações de afeto para as quais eu nunca liguei muito antes. Ao menos, não precisaríamos fingir que éramos apenas amigas. Sendo assim, tínhamos que esperar uma semana inteira para estarmos verdadeiramente juntas mais uma vez.

- Pelo menos vai tomar café da manhã comigo? – Maire perguntou.

Olhei para o relógio de parede. Já eram quase nove horas. Pensei se conseguiria aprontar seu trabalho a tempo... Talvez, se passasse a noite em claro...

- Certo. – quem precisa dormir, não é? – Mas não posso demorar muito.

O sorriso que ela abriu naquele momento já compensaria a falta de sono. 

- Que bom! – ela vibrou, como uma criança feliz – Então, vá tomando o seu banho enquanto eu preparo um café da manhã caprichado para nós!

Micaela&MaireOnde histórias criam vida. Descubra agora