A CARTOMANTE

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Um aglomerado de policiais estava diante de uma das tendas do grandioso Parque Bolchevique que se instalara nas intermediações centrais da República. O setor de negociações também estava a posto, liderado por um policial negro, alto e forte, tendo em mãos um megafone.

Hendry estaciona o carro e parte em direção ao chefe de polícia.

- Relatório inicial, chefe.

- Boa, garoto. Chegou depressa. Acabo de solicitar reforços do nosso departamento. Trata-se de três meliantes e uma refém.

Os bandidos estavam nervosos, acostumados com pequenos roubos a mulheres solteiras ao redor do parque, agora são obrigados a observar dezenas de viaturas diante deles.

A cartomante Soraya continuava amarrada em sua cadeira diante da mesa e de sua bola de cristal. O aspecto cansado e o leve sotaque latino traziam nas rugas supostamente um pouco mais do que cinquenta anos. Pela violência dos tapas recebidos, seu vestido vermelho estava com grandes roturas, semelhante ao ferimento sofrido nos lábios vertendo uma linha de sangue.

- Essa mulher só fala asneira, brother! Vamos acabar com ela. – diz um dos bandidos, possivelmente o mais inexperiente do grupo.

O líder do grupo censura o novato:

- Que nada chapa! Você está biruta, mano?! Se matarmos ela, eles entrarão e nos levarão em cana. Ela é nossa garantia. Fiquem calmos. Nós vamos sair dessa. É só aguardar o carro que pedimos e a grana.

O terceiro bandido, mais sensato, continuava observando a movimentação da polícia por uma fresta na tenda, feita por seu canivete. Ele basicamente tinha a função de ser o porta-voz do grupo.

Um grande intervalo de tempo se apodera da situação, trazendo consigo ainda mais curiosos às proximidades. Todos estão exaustos, mas de repente, para surpresa dos criminosos, a cartomante Soraya desperta um pavoroso assombro com um show de gargalhadas histéricas e diabólica.

- HÁ-HÁ-HÁ! OLHA O LAÇO! OLHA O LAÇO! HÁ – HÁ – HÁ!

O bandido mais jovem, num surto de raiva, pelo susto, dá uma coronhada na cabeça da cartomante.

- Cala sua boca! Velha rabugenta! – falou.

Mais sangue escorre da testa da cartomante.

Quando os três a observavam, puderam notar que ainda ela trazia no rosto um largo sorriso enfeitado por um dente de ouro. Suas pupilas se viraram deixando apenas o branco do olho, numa aparência apavorante.

- Foram todos de me deixar perto da minha bola de cristal! Há-há-há! Olha o laço! Olha o laço! – continuava gritando e sorrindo.

- Na certa enlouqueceu. – deduziu o líder do grupo.

Do lado de fora Hendry se esforçava em dispersar a multidão de curiosos, temendo a chegada da imprensa e um provável tiroteio. Os bandidos estavam com a paciência esgotada.

Mais fitas de contenção eram postas pelas intermediações da tenda, mas cercá-la de policiais estava fora de cogitação por se tratar de bandidos inexperientes.

O celular de Hendry toca. Júlia está na linha.

- Meu amor. São quase quinze horas. Esqueceu-se da festinha na casa do Jonas? Estou quase saindo com a Eveline. Onde você está?

- Amor. Estou no serviço de campo. Não posso falar agora. Está acontecendo um sequestro. Ore para que tudo dê certo. Beijo.

O chefe de polícia aproxima-se de Hendry.

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⏰ Última atualização: Aug 13, 2015 ⏰

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