EXPECTATIVAS

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EXPECTATIVAS

- Com que roupa biquíni seria legal você ir? Deixa-me ver qual destes se adequa melhor à cor da sua pele de Branca de Neve depois da guerra do Vietnã. – diz Eveline ao segurar algumas peças de banho.

- Não sei, mas confio no seu bom gosto. Eu só aceitei ir porque você falou que a maioria dos convidados não é da nossa turma e o Jonas... – Julia esconde alguns fios de cabelo atrás das orelhas olhando para o nada numa tentativa vã de esconder a timidez diante de Eveline e de seus próprios pensamentos.

- Calma aí. – diz Eveline. – Não vai me dizer que você está tendo uma quedinha pelo Jonas Villar? Esqueceu-se do Hendry foi?

Obviamente estava mais do que claro a veracidade dos sentimentos de Julia em relação a Hendry, afinal, tratava-se de um garoto de origem humilde, esforçado, órfão de pai desde muito cedo também bastante batalhador e, embora que não fosse convidado ou informado sobre a participação da namorada, não seria a pompa, a popularidade ou os olhos azuis de Jonas que iria ameaçar o namoro do jovem policial.

Tal fidelidade não é encontrada no cotidiano de Eveline, a mesma nunca soube o significado do termo relacionamento sério, amor, como ela sempre diz: é uma flor roxa que nasce no coração de um trouxa.

- E aí Jujuba, qual parte de baixo: Prada ou Channel? – a garota estende duas peças ante a face da escudeira Júlia que permanece sentada num aconchegante pufe vermelho carmesim, ainda indecisa sobre mostrar decote ou não.

- Eu ainda não sei Line. – responde Júlia. – Você, diferente de mim, fica bem até se for nua... Já eu...

Eveline interrompe o teste do seu novo baton frente ao enorme espelho que toma uma das paredes do luxuoso quarto rosa:

- Presta atenção, garota. Eu já te falei que você não é feia. Só te falta beleza!

- Corta essa Eveline! Era pra ser engraçado? – Langer fala enfurecida, após sair do closet, basicamente do tamanho de seu quarto.

- Eu só quero dizer que tirando essa trança esquisitona, esse lance de bíblias e este aparelho patético que te deixa com cara de puta santinha, você até que é gostosinha, sua boba!

Julia pousa as mãos na cintura completando mais uma vez o ritual de contar mentalmente até dez.

- Devo encarar isso como um elogio?

- Vindo de mim, sim. Sabe bem como sou né?!

Não muito distante dali, em pleno domingo Hendry continuava trancafiado no mundo dos livros, sonhando com a promoção de adentrar no setor de investigação. Não estava conformado com a vida no campo, acompanhar detenções, revistas e as mesmas frases clichês de sempre.

Sua única ambição era conseguir comprar uma casinha confortável para acomodar a senhorita Júlia Langer como esposa, dois filhos e quem sabe até um gatinho de estimação.

Voltando ao seu quarto, com um misto de tédio do presente e esperança do futuro, Hendry resolve dar uma pausa para o lanche antes da próxima matéria a ser estudada, quando seu nextel toca.

- Policial Hendry na linha. Quem fala?

Do outro lado da linha está o velho detetive Marshal; um senhor de terceira idade aposentado do ofício, mas por paixão a área, decidiu ser chefe do almoxarifado do departamento, arquivista e conselheiro de cadetes. Maior parte do tempo é dedicada à intromissão em assuntos alheios e partidas de poker durante o expediente.

- É o velho Marshal, novato. Tenho uma boa para você. Sua oportunidade perfeita. Escuta: estão passando pelo rádio a respeito de um assalto nas proximidades do novo parque que chegou à cidade, no bairro da República. Estão fazendo reféns e agora solicitam todas as unidades. Ouvi dizer que uma equipe da TV está a caminho também. Como você mora perto...

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