2.

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Sentir Newt me abraçando foi a melhor coisa que me aconteceu desde que cheguei aqui. Ele havia parado de chorar e eu podia imaginar seus olhos fechados e os lábios comprimidos, segurando para não desabar em lágrimas novamente. Esse pensamento partiu meu coração.

–  Faltam só alguns segundos, Tom.. – Sua voz saiu rouca e baixa, quase inaudível. Minha vontade na hora foi de prometer que tudo ficaria bem. Mas como poderia?

Coloquei meu queixo em sua cabeça e juntei todas as forças antes de respondê-lo.

–  Newt, olhe pra mim. Tudo vai ficar bem. Entendeu? Eu prometo. – Ele levantou a cabeça e me encarou. Seus olhos estavam um pouco vermelhos mas ainda assim não perdiam seu brilho. Os traços de seu rosto eram bem marcados e realmente perfeitos. Tive que me controlar para não tocar em seu rosto, especialmente em seus ossos bem marcados no maxilar. Até que desci meus olhos para seus lábios. Que eram tão atraentes, estava ficando cada vez mais difícil me conter. Quando voltei a encará-lo, percebi que ele me olhava com uma expressão diferente, talvez tivesse reparado que eu o observava mais detalhadamente, fazendo meu corpo estremecer um pouco.
Não tirei os olhos dos seus mesmo percebendo que Newt aproximava seu rosto do meu lentamente, olhando quase que bem no fundo de meus olhos com uma expressão indecifrável que ele sempre fazia.

–  Vai ficar tudo bem.. – Sussurrei ao sentir seus lábios quase tocando os meus. Já podia sentir sua respiração bem próxima e fechei os olhos, esperando que o que eu desesperadamente desejava acontecesse.

Mas logo tive a sensação de não sentir Newt próximo. Abri os olhos e uma movimentação intensa tomou conta da Clareira. Os garotos corriam gritando coisas uns para os outros enquanto pegavam alguns equipamentos de todos os tipos. Virei para trás rapidamente e Newt corria até próximo aos grandes portões. Uma onde de choque tomou conta do meu corpo inteiro ao imaginar que ele poderia fazer alguma besteira muito grande. Mas logo me aliviei ao ver Minho e Alby praticamente atirados no chão enquanto os portões se fechavam e uma roda de Clareanos se formava em volta deles.
Despertei de meu transe e corri até eles, empurrando os garotos que se aglomeravam ao redor dela.
Minho arfava e seu peito descia para cima e para baixo tão rápido que me senti assustado. O rosto estava coberto por manchas de sujeira e gotas de suor que escorriam excessivamente. Alby estava exatamente na mesma situação.

–  O que aconteceu, merda? Por que demoraram tanto? – Newt soltou as palavras rápido demais enquanto se abaixava até Minho.

–  Cara... não estou no melhor... dos momentos. – Minho passou os olhos por todo mundo antes de dar um longo suspiro- Será que alguém pode me descolar uma água?

Dei um leve sorriso ao ver que ele ainda tinha um tom engraçado independente de toda a situação em que se encontrava e estendi meu braço para que ele se levantasse, assim como outros garotos o fizeram para ajudar Alby.
Logo estávamos todos reunidos em frente a Minho, todos atentos e ansiosos à qualquer palavra que ele pronunciaria a qualquer momento.
Claro que tivemos de esperá-lo se saciar com vários copos d'água. Caçarola ficou um pouco irritado com tantas idas e vindas da cozinha.
Passei os olhos por todo o aglomerado de garotos e parei em Newt, que estava encostado na parede. Minha respiração falhou ao ver que ele também me olhava com uma expressão séria e indecifrável, seus olhos escuros presos aos meus. O pensamento se ele iria ou não me beijar naquele momento na tenda revirava meu estômago, e Newt me encarar de um jeito tão intenso não estava ajudando muito.
Até que Minho começou a falar e ele direcionou seus olhos a ele, cruzando os braços, a expressão continuava a mesma, parecia sério. E eu estava começando a gostar disso.

–  Basicamente, corremos de verdugos. Não entrarei em detalhes porque vocês sabem como é desconfortável. Aquele chiado horrível, as patas e garras mecânicas e... 

 – Ok, Minho. -Newt manifestou, claramente incomodado com o assunto- Encontraram algo?

 –  Nada. A mesma coisa de sempre. -Ele respondeu enquanto virava o copo em seus lábios mais uma vez.

–  Como nada? Pelo menos alguma coisa..

–  Olha, eu estou tão cansado que não consigo raciocinar direito. Que tal conversarmos amanhã e resolvermos isso na casa dos mapas? – Minho já se retirava, indo em direção às redes- Vou tirar um cochilo. Boa noite, cabeças de mértila.

Logo depois que Minho se retirou, praticamente todo mundo foi junto. Até que restamos apenas eu e Newt. Pude ouvir Chuck me chamar antes de sair.

–  Thomas? Você vem?

Me levantei e as dúvidas vieram à tona. Eu precisava esclarecer algumas coisas com Newt ou não conseguiria dormir essa noite.

–  Já vou. – Respondi, me levantando e olhando de soslaio para Newt, que também me encarava.

– Tudo bem, te espero lá fora. – Chuck nos encarou por alguns segundos tentando entender o que estava conhecendo alí. Fiz um sinal com a cabeça para que ele saísse, e assim o fez.

Me virei para Newt, que na hora desviou o olhar de mim para o chão. Certo, isso precisa ser esclarecido de uma vez por todas.

–  Newt, você, hm.. sobre lá na tenda hoje...

–  Esqueça aquilo, Thomas. – Ele me interrompeu antes mesmo que eu terminasse. Mas o que mais me incomodou foi que ele não me chamou como sempre chamava. Newt pronunciando meu nome normalmente soava tão... como se isso não estivesse nem um pouco certo. –  Eu perdi a cabeça. Não vai acontecer de novo, não deve... droga, quer parar de me olhar assim?
Senti meu estômago revirar mais ainda e um calafrio percorreu todo o meu corpo enquanto eu tentava olhar para qualquer outra coisa que não fossem seus olhos. Claramente impossível.

–  Assim como? – Perguntei num sussurro, me aproximando mais dele até sentir respiração próxima demais como algum tempo atrás. Ele não se afastou ou sequer fez um movimento. Era como se ele... quisesse o mesmo que eu.

–  Desse jeito tão... ah, droga. Esqueça. Entendeu? Aquilo simplesmente não aconteceu. – Newt falava e eu não entendia nada. Como ele estava me pedindo para esquecer um momento daqueles? Eu sabia que ele queria. Se não quisesse, teria recuado. Na verdade, nem teria me abraçado. Lembrar disso me fez sorrir na hora. Mértila, o que está acontecendo comigo?

–  Newt, eu não quero esqu..

–  Porra, só esquece. Não quero que toque mais nesse assunto. Aquilo NÃO aconteceu, entendeu? NÃO ACONTECEU! – Disse por fim e saiu da tenda, batendo a porta logo em seguida. Tudo ficou escuro. Apenas algumas frestas de luz do brilho da lua atravessavam o local. Ele me deixou alí, disperso em meus próprios pensamentos, que agora repetiam 6 palavras que eu gostaria ter desejado que nunca acontecessem.
Eu gosto do meu melhor amigo.

Cruel. |NEWTMASOnde histórias criam vida. Descubra agora