CAPÍTULO 1

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ELENA QUEIROZ

– Moça sua saia está suja de graxa! – Uma menina coloca a mão sobre meu ombro avisando. Respirei fundo e segurei a barra da saia a trazendo para frente. Puta merda.

– Obrigada. – Digo sem muita esperança, não tenho ideia de onde sujei, mas agora também não adianta procurar culpado, estou chegando ao local da primeira entrevista e para meu desespero o local é muito luxuoso, paro e penso se realmente vale a pena passar essa vergonha. Eu não posso me dar ao luxo de senti-me envergonhada somente por isso, acidentes acontecem e esse é somente mais um em minha vida. Engulo o choro que se forma em minha garganta e adentro a recepção sendo tomada pelo perfume do local, um tapete negro acompanha até a recepção em mármore branco onde uma menina, daquelas estilo propaganda de shampoo está sentada. Seu cabelo unido a beleza de seu rosto e olhos a eleva a um patamar que com certeza eu nunca alcançarei.

Como farei uma entrevista de emprego desse jeito? Já não basta minha cara de "não me contrate, eu sou uma idiota"?

– Boa tarde. – Digo sem esperanças e o olhar debochado que recebo de volta me faz entender que o melhor era ter desistido de acordar hoje.

– Em que posso ajudar? – Ela permanece com o olhar atento tentando entender o que uma mulher como eu está fazendo ali.

– Fui chamada para a entrevista. – Ela balança a cabeça e me olha de cima a baixo.

– Irei leva-la até o senhor Valério, mas não tenha esperanças. Você não é o padrão da empresa.

Assim que ela se levantou entendi do que estava falando, a moça é bem alta, corpo esguio, além da aparência perfeita sua vestimenta também não fica para trás.

– Seu currículo continha alguma foto?

– Não. – Prefiro não me alongar no assunto entendi muito bem o que ela quis dizer.

Gostaria de entender porquê a aparência é tão importante, o que adianta ser bela e burra?

Quando entrei o tal Valério gargalhou imediatamente. Eu sou algum tipo de piada?

– Bom dia, eu vim para...

– Nem continue, desculpe, mas você não é o padrão que buscamos. – Ele afirma antes mesmo de ler o meu currículo que estava no topo de todos os outros em sua mesa.

Eu poderia ter dito muitas coisas, mas preferi virar as costas e seguir meu caminho. Eu sou um fiasco falando e pior ainda deve ser minha aparência.

Eu espero que ele tenha o que merece na vida e que seja descartado por conta de sua aparência de velho, cachaceiro e barrigudo.

Saio do prédio e ajeito os óculos que já está largo em meu rosto, as coisas estão tão ruins que eu nem sei quantos quilos já perdi desde meu último emprego, hoje fui obrigada a roubar o bilhete de passagem de meu vizinho enquanto pedia uma xícara de açúcar. Era isso ou não comparecer a nenhuma entrevista.

Embarco no primeiro ônibus que aparece. Todos por aqui passam pelo centro da cidade, onde será minha próxima entrevista. Assim que desço do ônibus tento não gargalhar de mim mesma pelo logo enorme a minha frente, pronto, completou a desgraça, vou virar prostituta. Seria engraçado se eu não tivesse tão ferrada.

Ponderei algum tempo se eu realmente entraria no local, mas se fui no mais luxuoso esse aqui será balela.

Lembrando que: Não devemos julgar pela aparência, nem mesmo pela profissão das pessoas, todos somos dignos de respeito e de novas chances.

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