Capítulo 4

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Capítulo 4

ELENA QUEIROZ

Acordo em meu primeiro final de semana empregada, viro na cama inutilmente tentando voltar a dormir. Mas a imagem da noite anterior não deixa que minha mente descanse. Que merda que eu fiz. Posso acabar com a minha carreira na empresa e além disso, ele também não pensou nas consequências, o quanto eu poderia prejudica-lo informando a qualquer um que ele me assediou.

Espanto os pensamentos ruins e vou até a cozinha observando as sacolas que aquele lixo deixou pra mim, tiro as compras da sacola e as coloco no armário e agradeço aos céus por ele servir pelo menos para isso.

Poderia agradecê-lo, mas não vou. Ele trouxe tudo que eu gosto e também tudo que eu necessitaria por pelo menos um mês. Pego uma caneca de leite e um pouco de biscoito e sento de frente a televisão onde pelo menos escuto as novidades.

No jornal um caso me chama a atenção. O rapaz manteve sua namorada presa a maltratando apenas por desejar terminar o relacionamento, as imagens borradas demonstram o quanto ela estava ferida. É inevitável lembrar do que passei com ele... Homem desgraçado que eu conheci enquanto era apenas uma menina, lembro de seus cortejos sujos e o começo de seus pedidos abusivos. Não havia beijo, carinho, compreensão... Eu era amarrada e machucada com "brinquedos". Levanto e respiro pesadamente indo até o meu quarto, a imagem do espelho expõe a pior fase da minha vida. Estou magra, machucada, marcada...

Deixo uma lágrima escorrer de meus olhos, mas logo espanto esses pensamentos de minha cabeça, tomo um banho quente e gostoso e volto para a cama pegando um de meus livros, este eu já estou terminando. O livro conta uma história muito bonita de amor, bem clichê, mas é uma vida clichê que eu desejo.

Ouço a notificação de meu celular e o pego conferindo a mensagem da senhorita Morales informando que o doutor Cristian depositou uma parte de meu salário. Com certeza a minha condição financeira foi mais exposta que o desejado ontem.

Assim que observei o valor a baixo da mensagem, dei um sorriso bem grande. Que maravilha. Ajeitei minha postura animada ao buscar no Google uma nova televisão.

Minha pesquisa é interrompida pela ligação de numero desconhecido, respiro fundo pensando se realmente valia a pena atender. Atendi e ouvi uma voz diferente no fundo.

– Elena?

– Oi.

– Sou eu, Ricardo. Tudo bem? – Ergo minha sobrancelha.

– Sim, e você?

– Tudo bem, vamos sair hoje? Estou à toa. Se não quiser também, não se preocupe. Aguento um "não". Pensei algumas vezes antes de responder, mas lembrei que seria demais poder comprar minha televisão no shopping hoje.

– Vamos sim, em quantos minutos me busca?

– Mais ou menos 30 minutos, moro próximo.

– Ok. – Desligo a ligação e vou para o quarto apenas trocar de roupa. Volto para a sala e o aguardo.

[...]

– Está diferente, prefiro você assim. – sorrio com seu comentário, mas não sei o que responder.

– Pensou onde vamos?

– Pensei, quero ir ao shopping, preciso comprar uma televisão nova, o que acha? Vai ficar entediado?

– Claro que não. Ficaria se quisesse comprar roupas. – Sorri de canto de boca.

Caminhamos até o carro que acredito não ser dele.

– Usa o carro da empresa no final de semana?

– Sim, o carro fica comigo em tempo integral para qualquer emergência.

– Entendi.

Entramos no carro e ele não brincou no trânsito, cortou os carros sem pena e eu com o c* na mão. Gosto de velocidade, mas quando eu dirijo ou conheço o motorista.

O caminho foi agradável, Ricardo é um homem agradável. Simpático e muito divertido. Descemos no estacionamento do shopping e os anos sem vim, me fez esquecer o ódio que sinto por cheiro de praça de alimentação.

– Depois que comprar a sua televisão e mais sei lá o que quiser podemos ir ao cinema. – Ele fala de forma despretensiosa.

– Sim, pode ser. Vamos ver algum filme legal em cartaz.

[...]

Escolhemos uma televisão de 48 polegadas, linda para ser sincera. Já imagino depois de um dia cansativo, me jogar no sofá, Netflix, pipoca. Perfeito. Caminhamos vagarosamente jogando conversa fora enquanto devoramos o sorvete em nossas mãos. Sento-me ao lado de Ricardo e o observo, ele é realmente muito bonito seus olhos são azuis, cabelos cor de mel, boca carnuda e uma barba rala.

– Enquanto me olha seu sorvete está derretendo.

– Estava com os pensamos bem longes. – Tento disfarçar.

– Longes na minha boca... Sei...

– Olha, deixa de ser besta homem. Não estava olhando para a sua boquinha rosa.

Ele gargalha alto. Engraçado como o pouco convívio não me deixa desconfortável. O conheci ontem e hoje estamos como se realmente fossemos amigos.

[...]

– Já pensou quando irá procurar outro apartamento? – Questiona enquanto caminhamos em direção ao cinema.

– Para ser sincera, penso nisso desde sempre, mas acabei de conseguir o emprego, não trocarei os pés pelas mãos tão rapidamente.

– Acho que isso não será uma escolha sua, Elena. E sim do Cristian. Não acredito que permaneça nessa casa por muito tempo.

– Pelo jeito que ele exerce controle sobre tudo, não duvido.

– Cristian tem muitos imóveis. Você deve ir para algum deles no centro da cidade.

– Ele me colocaria na casa dele?

– Ele fez mais que isso ontem, Elena. Eu vi o jeito que ele te olhou durante a festa, te trouxe em casa, os outros seguranças me contaram sobre o beijo. Tome cuidado, Elena. Eu nunca o vi se aproximar tão rápido de ninguém. Mas o Cristian é insuportavelmente controlador. E se você já passou por isso. – Ele segura meu pulso e me mostra as marcas de queimaduras. – Não vai querer que outra pessoa te controle. Mas isso é o conselho de um colega.

– Eu não sei o que responder.

– Você devia saber. Devia responder que sabe onde está colocando seu nariz e que não vai se foder por um cara milionário que tem o que quiser, quando e onde quiser.

As suas palavras duras me colocam na realidade,ele está certo. 

Sob Seu ControleOnde histórias criam vida. Descubra agora