Pelo Amor ou Pela Vida

Capítulo 5

O mundo agora caia sobre mim, e o chão já não existia após desmoronar, vozes percorriam minha cabeça como quando eu estava dentro da sala de aula com todos conversando ao mesmo tempo, não enxergava o caminho, nada estava claro a minha frente... E enquanto eu corria? Parecia não me mover, parecia sequer sair do lugar, mas eu cheguei e mal sabia o que dizer em primeiro lugar.

- VOCÊ MENTIU PRA MIM, MENTIU, COMO PÔDE? EU TINHA O DIREITO DE SABER. - Cheguei aos berros e batendo a porta.

- Filho, não devia estar no colégio? - Indagou assustada ao me ver nessa situação. - Do que está falando?

- ESTOU FALANDO DA PARTE EM QUE ESTOU MORRENDO MÃE. - Eu não queria tratá-la dessa forma, mas estava totalmente fora de controle.

- Morrendo? C-Claro que não. - Respondeu gaguejando.

- NÃO MENTE PRA MIM, EU JA SEI DE TUDO. - Insisti dando um soco na parede.

- Oh, meu Deus, quem te disse? Eu não queria que soubesse assim. - Disse por fim com ar de desapontamento.

- Jack, foi ele quem me contou na frente de todo colégio. - Disse agora com tom de voz mais calmo. - Me diz que não é verdade, me diz que ele estava blefando comigo. - Pedi começando a chorar.

- Filho... Infelizmente é verdade. - Afirmou começando a chorar também.

- Desde quando tenho isso? E quanto tempo tenho? - Questionei a encarando.

- Foi descoberto quando tinha 12 anos de idade, o médico disse que com o tratamento não pioraria e aumentaria as chances de sobrevivência. Mas você voltou a desmaiar, ficar com mal estar, e ir parar no hospital, toda vez que isso acontece eu fico com medo de te perder de vez pra essa porcaria que mudou nossas vidas. - Explicava chorando enquanto diz. - Você precisa continuar se tratando, não fique perguntando quanto tempo tem, apenas aproveite todo tempo do mundo que a vida lhe proporcionar, sempre sonhei com sua recuperação e que pudesse vencer isso, mas...

- Mas não correspondia aos tratamentos. - Completei pensativo. - Minha vida toda se resume em ser bobo e idiota dos outros e agora descubro que esforço nenhum pra mudar isso valeria a pena. - Murmurei sentando em um dos sofás e chorando.

- Harry.. - Pude ouvir a voz da Lunie ao entrar de repente.

- Vai pra casa Lunie, a última coisa que preciso é que tenham pena de mim. - Respondi sem olhar pra ela.

- Pena? Então é verdade? - Questionou confusa. - Por que sentiria pena de você?

- Porque é o que todos sabem fazer de melhor. - Respondi levantando e indo pro meu quarto.

- Harry, apenas quero te ajudar. - Insistiu me seguindo.

- Não pode me ajudar, qual parte do "estou com câncer" não entendeu? - Disse antes de bater a porta do quarto e me trancar.

O mundo poderia acabar agora eu não ligaria, tenho um irmão imbecil que nunca foi um irmão de verdade, minha mãe me escondeu algo que não podia ter escondido de mim, todos esses anos sem saber que posso morrer a qualquer momento, agora entendo as diversas vezes que fui parar no hospital, as diversas vezes que desmaiei, que fiquei pálido, todos os sintomas ali na minha cara e eu não vi.

No que a Lunie me ajudaria? A viver mais? Soa irônico isso. Já que vou morrer mesmo deveria eu contar toda a verdade pra ela? Fui pro colégio pra desmascarar Jack e olha como acabei, vítima como sempre. Estava agora desenhando a mim mesmo, como? Me olhando no espelho e me fazendo como eu me vejo agora, por mim nada mais importa.

Alguns meses depois...

Estava no parque observando algumas crianças brincarem enquanto jogo pedras no lago, alguns meses se passaram e muita coisa mudou, não tenho desenhado mais, nem pra deixar no meu quarto, nem pra dar pra Lunie de presente, tenho evitado muitas coisas, não falo mais com meu irmão nenhuma só palavra, eu perdoei minha mãe por ter escondido isso de mim, percebi que ela só queria me proteger, pois sabia que se eu soubesse disso antes teria perdido a vontade de viver mais cedo. Não vejo motivo algum pra seguir em frente, afinal pelo o que eu deveria lutar?