Capítulo 1

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Era hora de acordar, mal abri os olhos e já estava louca para dormir de novo, e foi quase o que fiz.
Mano, a cama estava me puxando e quase que num sussurro hipnotizante me chamou: "Allyce... Allyce querida... dorme mais um pouco! Eu não sou macio? Aproveita que continuo quentinho, só pra você. Feche seus olhinhos e durma Allyce... dorme pequena... dorme...".
Óbvio que era coisa da minha cabeça, quando e em que mundo uma cama iria sussurrar com uma garota de 17 anos? Nunca e em lugar nenhum né.
Levantei relutante e caí na cama de novo, disse a mim mesma:
— Anda Allyce! Levanta sua preguiçosa dorminhoca! Essa cama está quente e macia, e você tem que vence-la! - fui fechando os olhos devagar e por fim arregalei os mesmos e levantei!
Fui dobrar a coberta e ela era tão macia, tão gostosa, abracei-a e lá estava eu na cama. Perdi de novo.
—  Hoje vai ser difícil, agora eu levanto! - e levantei mesmo, deixei a coberta desdobrada e corri pro banheiro, antes que eu me deitasse novamente. Escovei os dentes e fui para a cozinha tomar café.
—  Panquecas! Hum... que delícia!
Aff, essa não! Pirei de vez... além de ouvir o sussurro da cama tô falando sozinha! - falei descrente e comecei a rir.
Tomei meu café, juro que ia socar mamãe! Ela me fez acordar mais cedo para arrumar a casa, acontece que o irmão de papai iria vir nos visitar, eu não o via fazia uns 10 anos, desde que nos mudamos para o Rio. E ai a bagunça sobrou para a querida Allyce aqui limpar, comecei a lavar primeiro a louça, e depois peguei a vassoura e varri a cozinha, sala, e os quartos, passei pano e droga! Agora viria a pior parte... o banheiro. Como eu odiava lavar banheiro! Não tinha escolha, então fui com tudo lava-lo, terminei e fui tirar o pó dos móveis da sala, quando terminei de limpar lá estava eu, literalmente acabada e jogada no sofá da sala.
Fui para o quarto e arrumei a cama, dessa vez eu não me deixaria levar pelo sono, afinal já estava totalmente desperta. Coloquei uma calça jeans clara, uma blusa azul, peguei um casaco e amarrei na cintura, pus minhas meias e meu all star de couro branco. Fui para o banheiro pentear minha tocha.
Quando me olhei no espelho, vi uma coisa meio redonda, pequena e madura. Uma espinha! Mamãe diz que não pode espremer, mas a minha vontade era de tirar aquela intrusa do meio da minha testa, mas lutei contra meus dedos e peguei uma base e passei, em seguida passei o pó de arroz da mamãe para camuflar aquela coisa, e deu certo. Fiz uma trança de lado, passei um brilho labial de menta, passei rímel e sai saltitante do banheiro, fui no quarto e peguei a bolsa, coloquei o gloss e a carteira dentro e saí. Estava esquecendo algo, mas fui trabalhar.
Cheguei na sorveteria depois de caminhar uns quarteirões, logo minha chefe veio me cumprimentar.
—  Bom dia Allyce! Dormiu bem? - diz ela com um sorriso no rosto, apesar de ter 43 anos ela era muito bonita e aparentava ter uns 30, seu cabelo era preto e seus olhos verdes faziam de seu rosto ainda mais belo, ela era baixa e meio gordinha e ainda sim era muito bela.
—  Bom dia chefe! Dormi sim e você? - respondi devolvendo o sorriso.
—  Que nem pedra. Hoje a loja está na sua responsabilidade, irei ao médico fazer uns exames. Boa sorte querida, hoje está bem quente e como é o último dia de férias parece que vai ter movimento. - diz ela pegando sua bolsa e me lançando um olhar de "confio em você, não me decepcione!"
Assenti com a cabeça e fui pôr meu avental da sorveteria. Logo que ela saiu, não demorou muito e entrou uma família.

—  Boa tarde Senhor, o que deseja? - sorri.

—  Oi, boa tarde. Vou querer 4 sorvetes de casquinha, um de chocolate, um de morango, um de baunilha e... qual é o sabor mesmo que você quer Lucas?

—  Menta papai! Menta! - disse o garotinho sorridente.

—  Menta - disse-me o pai rindo.
Peguei o pote com as casquinhas e fui para o freezer, preparei o sorvete de casquinha de cada um e envolvi com guardanapo e entreguei aos respectivos donos.

—  Quanto dá? - disse ele pegando a carteira.

—  Quatro sorvetes, dá 8 reais senhor.
Ele me entrega uma note de dez, peguei o dinheiro e abri a caixa registradora, peguei dois reais de troco e o entreguei.

—  Aqui está senhor, obrigada e volte sempre. - sorri.

—  Obrigado você, vamos galera - diz ele saindo com a família.
O movimento depois disso aumentou, toda hora entrava alguém. Atendi todos e nem vi que a hora voou, meu último cliente era quem eu menos esperava...

Alguém como vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora