Capítulo 1: Reencontro

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Sons de passos e das rodinhas do carrinho de compras passeiam pelos corredores do supermercado. A luz amarelada pisca e mostra o fim de cada viela de estantes, vazias como o resto do lugar. Um garoto, vestindo uma jaqueta preta aberta com um martelo de carpinteiro na mão direita, pega as últimas latas de algum lixo chamado comida e as joga dentro do carrinho parado em sua frente.

-Mason! -Ecoa uma voz feminina por todo o recinto. - Olha isso daqui!

O menino se vira e se depara com uma jovem ruiva, vestida da mesma maneira de quem ela chama. Mas por debaixo de seu casaco, há uma camisa preta com o simbolo da banda Ramones. Ela segura dois óculos, um em cada mão, estilo aviador, um preto e outro marrom.

-Olha que legais! -Diz ela com um sorriso no rosto enquanto estende o óculos preto para seu companheiro. - Toma esse. É a sua cara.

Enquanto coça seus cabelos negros e curtos, Mason, olha para os lados e fala:

-Hope, fale mais baixo. Eles podem nos ouvir -Diz enquanto pega os óculos. - Achou mais alguma coisa?

-Não... -Pesar nasce no rosto dos dois. - Mas não podemos desistir ainda. Tem muita coisa para olhar por aqui.

-Eu sei, Lindinha -O garoto devolve os óculos para ela com um sorriso no rosto.

-Então usa! É um presente meu. -Ela coloca os óculos no rosto dele e fica na ponta dos pés para poder beija-lo. Ele abaixa a cabeça e aceita ambos. -Vou continuar procurando. -Diz a garota enquanto se vira e volta a perambular pelos corredores com o seu cabelo em chamas.

Depois de vê-la se afastando, como uma criança indo em direção ao parque, o menino bota o presente no bolso da frente da jaqueta e volta seu olhar para onde estava antes. Empurra o carrinho até o fim do caminho que leva á seção de carnes, vazia como todo resto.
Uma silhueta passa por uma das janelas no fundo, assim chamando atenção de Mason, que aperta o martelo ainda mais e olha para os lados, como se esperasse por alguém, e realmente estava. Seus passos não fazem mais som, o carrinho parado na sua frente e apenas o barulho da chuva lá fora.
Se ouve um tipo de gemido bem fraco vindo de uma das portas ao lado dele. Toda tensão em seu olhar é direcionada para lá. A porta se abre lentamente e só há escuridão atrás dela. Uma sombra sai de lá, em pé, quase se arrastando e gemendo mais alto. Rosto deteriorado, cheiro de carne podre, sangue caindo por todo o chão, roupa rasgada e um olhar completamente sem vida. Era só mais um, mais um daqueles que o mundo começara enfrentar há duas semanas, mais um zumbi. Mais uma vítima da pandemia, do apocalipse, do fim.
Com uma curta corrida, Mason se aproxima do ex-humano. Como um flash, o martelo aparece na testa do morto vivo, que fica com os braços esticados como se fosse alcançar algo. Agora é só mais um pedaço de carne, estirado no chão. Com o som de ossos quebrando, a arma é retirada do cranio.
Uma musiquinha começa a tocar, parecia algum tipo de comercial de uma marca de produtos inúteis. Ele tira um celular do bolso da calça e atende:

-Mason na escuta.

-E aí! Conseguiu alguma coisa? -Diz a voz masculina vinda do aparelho.

-Sim. Eu acho que mais ou menos uma semana de comida.

-Muito bom, cara! Já pode voltar, estamos quase prontos para irmos, só esperando vocês dois. -Um pequeno riso de criança vem do fundo da ligação, fazendo Mason abrir um sorriso no rosto.

-OK, irmão. Estamos indo. Abraços!

-Abraços!

Subitamente, o silêncio reina mais uma vez o supermercado, até que passos voam por todo o lugar. Ainda em alerta, olha em volta e espera o que vier. Uma sombra aparece vindo de um dos corredores. Olhos estagnados olhando para o negro crescente no chão, até que a criatura se revela!

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