Mortuis Mundi

Capítulo 4: Partida

Mason entra no quarto, totalmente escuro, mas consegue perceber a silhueta se levantando da cama.

-Está tudo bem? -Diz a sombra com uma voz sonolenta.

-Tá tudo sim. -Não consegue esconder os soluços e a tristeza em seu peito. -Na verdade, não está nada bem. -Ele se senta ao lado dela. -Estava lá embaixo e encontrei uma foto antiga, eu deveria ter uns 10 anos... -Antes de poder continuar, Hope o abraça e consegue ver a luz da lua passando pela janela e refletindo nas lágrimas.

-Eu entendo. -Aperta o rosto contra o peito dele. -Mas nada será como antes, você sabe disso. Foi você que me mostrou isso e também que nada que façamos mudará o mundo, infelizmente. -Ela acaricia o rosto dele, passando os dedos pela barba mal feita e a outra mão em sua nuca, automaticamente puxando o seu rosto para perto de si, até o momento em que os lábios se encontram. Tudo o que existe lá é o amor deles, substituindo toda aquela conversa de dor e fim.

-Não sei o que faria sem você. -A voz dele continua trêmula, mas agora com a confiança que não existia. -De uma hora para outra, tudo virou de cabeça para baixo e o meu teto virou o meu chão, esse teto é você.

-Aconteceu o mesmo comigo, na verdade, aconteceu com todos. -Ela então o empurra lentamente de volta para a cama e continuam se beijando, como se fossem jovens querendo quebrar regras, mas jovens era tudo o que eram, pois regras não existiam mais.

Palavras não existem no coração dos dois, apenas o desejo de cada um que se tornaram duas almas enroscadas na cama.

Já é de manhã. Ecoa pelo quarto uma batida leve na porta de madeira. Mason abre os olhos, olha para Hope e a cobre

-Pode abrir. -Diz ele tentando se levantar, ainda sonolento.

-Não tá pelado não, né moleque? -Quem fala é Ethan, apenas de uma brecha aberta.

-Na verdade... -Eles riem

-Arruma as coisas, vamos sair daqui a pouco.

-Tá bom, tá bom.

A porta bate. O garoto então acorda a namorada beijando o seu pescoço e falando, quase sussurrando:

-Bom dia. -Ela lança um sorriso meigo, mas não abre as pálpebras. -Temos que levantar.

-Por que? É o fim do mundo, quero dormir mais e ficar aqui com você. -Cobre o rosto com o cobertor e agora só deixa os olhos azuis, abertos, á mostra. -Ainda nem arrumou as coisas, né?

-Nem você.

-O que acha? -Dá para se ouvir risinhos vindo debaixo da coberta.

-Então vamos arrumar tudo. Coloca uma roupa e leva o Bacon para baixo. Eu faço as malas.

-Cara, você é muito chato. -A ruiva se levanta da cama, mostrando o corpo nu. Branco como a neve e tão lindo quanto.

-Alguém tem que ser o velho chato da relação. -Ele também sai da cama e abraça a namorada pelas costas.

-Eu ainda sou mais velha que você. -Ela dá uma leve cotovelada em sua barriga e anda até um armário de madeira. Então joga algumas roupas para Mason. Nesse instante o cachorro se levanta e começa a correr pelo quarto. -Calma, meu bebê.

Eles se vestem e Hope leva o cachorro no colo para fora do quarto.

O ambiente fica vazio, apenas aquele garoto com as malas abertas, tudo o que coloca lá são lembranças de um mundo antigo, como se fosse um arqueólogo. Roupas, CDs, uma câmera fotográfica e algumas pilhas e baterias. Quando de repente ele acha mais uma foto de sua família.