Capítulo 2: Família

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Todos dentro do carro parecem mortos, como os de fora, não se mexem, não falam, não vivem.

-Olha! Parou de chover. -Lola tenta acabar com o clima tenso, mas apenas a música responde.

Já estavam há algum tempo naquele silêncio.

-Então, Lola. Onde vocês estavam nessas duas semanas? -Quando Mason termina a pergunta,se depara com um olhar, da ruiva, como se fosse se tornar um dos monstros e devorar ele e aquela que tanto odeia, o garotinho seria apenas a sobremesa.

-Ficamos trancados em casa, estávamos tentando manter contato com o nosso pai, mas faz um dia que os telefones pararam, a energia acabou e depois a comida. Então decidi que deveríamos sair de casa. Conseguir comida, e depois ir para o meu pai. Mas aquele zumbi começou a correr atrás da gente, então...-Hope interrompe ela, como se fosse um soco no estômago, deixando-a assustada.

-Não é zumbi, idiota! Ele era um...-Agora interrompida por Mason, que dá um empurrão no joelho dela. Lola percebe, mas fica em silêncio.

-É um infectado, tem diferença entre os dois. Os zumbis são aqueles clássicos de filmes, desenhos, series e tudo mais. São aqueles idiotas, lentos e burros. Mas os infectados são diferentes. Eles são extremamente agressivos, muito rápidos, muito fortes e também não se despedaçam tanto como os seus irmãos entre aspas. -Ele gesticula com a cabeça e volta seus olhos para frente.

-Entendi. E me desculpe, Hope. Eu não tive tempo para isso. -As duas cruzam os olhares pelo retrovisor, mas nenhuma fala nada. -Mason! Como você sabe tanto assim? -Ela abre um simpático sorriso.

-Muitos jogos, essas coisas. E também tem um Navy Seals no nosso grupo, o Jake, um senhor de uns cinquenta e poucos anos. Ele me ensinou muitas coisas, como dar tiro, primeiros socorros, um monte de técnicas. -A tensão aumenta ainda mais quando ele percebe o olhar da garota flamejante. -Nossa! Estamos quase chegando. Hehê. -Diz enquanto coça a nuca com uma das mãos.

-Ainda bem. -Hope fala, de um jeito tão suave quanto um chão de cacos de vidro, e continua olhando para fora do veículo.

Mais uma vez o vazio do som reina entre eles. Simon dorme como se o fim do mundo não estivesse acontecendo. Lola abraça ele e faz um cafuné em seus cabelos.

-Pobre Simon, vai ter que crescer nesse mundo. -Diz ela enquanto olha as residências voando pela paisagem desolada.

-Então é melhor ele não dar desculpa para tudo, mas sim aprender enfrentar o mundo. -Mais uma vez, a rispidez da ruiva corta o clima.

-Chegamos! -Mason para o carro em frente á uma casa azul e olha em volta. -Acho que a rua está vazia. Deixem eu sair primeiro.

Ele pega a Glock e abre a porta. A rua está totalmente suja, folhas, sangue, carros parados e apenas uma silhueta cambaleando no fim dela.

-Vamos. Rápido!

Os três saem do carro, não fazem barulho algum. Simon olha em volta, com as mãos coçando os olhos e bocejando.

-Lola! Abre o portão. -Sussurra Mason. -Em silêncio!

A loira se aproxima de um portão de madeira. Enfia a chave na fechadura, roda e se ouve o som da trinca.
Todos entram, Mason na frente, como se fosse um policial empunhando a sua arma. O único som que domina o ambiente é o do vento, rasgando seus ouvidos como se fosse uma navalha. O quintal é á céu aberto, vazio como o resto de onde passaram. A porta da casa está entreaberta. Todos os olhos nela. Até que:

-Parados! -Todos se viram para onde as palavras nascem, um homem, na meia idade, cabelos loiros e segura uma espingarda Boito Miura 1.

-Pai! -Simon grita e corre para abraça-lo.

-Filhos! -Ele agarra o garotinho, o levanta e corre na direção da Lola, que está chorando. -Vocês estão bem?

-Sim! Sim! Nós encontramos o Mason no supermercado lá perto de casa. Ele nos salvou. -Diz ela enxugando as lágrimas.

-Mason... -Eles se olham. -Muito obrigado, garoto! Muito mesmo!

-Não foi nada, Jeffrey.

-Claro que foi! Você salvou as únicas coisas que me restaram -Fala enquanto apertar mais os dois. -Não querem entrar?

-Não, temos que ir. -Hope diz olhando para o portão que está meio aberto.

-É... -Mason olha para namorada com um olhar crítico, mas continua. -Você precisa de algo? Comida, água, armas... Esses tipos de coisa.

-Para ser sincero, precisamos sim. -Jeffrey solta os filhos e anda em direção da porta da casa.

-Nós temos algumas coisas no carro. Se puder me ajudar a tirar de lá.

-Claro! Claro!

Ambos saem pelo portão, deixando a ruiva e a loira juntas

-É bom você nunca mais chegar perto do Mason, entendeu? -Diz parecendo um cão raivoso.

-Só para te lembrar: Eu cheguei primeiro. -Lola dá uma risada sarcástica e elas se entreolham.

-Espera só! Sua pu... -Um grito interrompe.

-Puta merda!

Todos correm para fora e se deparam com uma horda de zumbis há menos de dez metros do carro

-Entrem no carro, agora!!! -O mais velho grita enquanto atira em direção aos zumbis, como se serviria para algo.

Em um piscar de olhos, a caminhonete está novamente ocupada. Mason liga o carro e bota na marcha ré.
Enquanto se afastam do grupo de mortos vivos, Hope percebe que está sentada do lado de sua inimiga, que quase se matam só pelos olhos.

-Mas e agora? Qual o plano? -Jeffrey pergunta.

-Vou levar vocês para casa do meu irmão -As garotas interrompem ele.

-O que? -Diz uma.

-Como assim? Eles vão com a gente? -A ruiva grita e aponta para a outra. -Vou ter que conviver com ela? -O veículo para bruscamente.

O motorista grita:

-Vocês duas, calem a droga da boca! Parem essa droga de briguinha infantil! Não esta passando disso!

Todos ficam quietos e assustados com o que acabaram de ouvir e como ouviram. O carro volta para o seu rumo, mas agora para frente, saindo da rua onde estava a horda.

-Nós vamos sair da casa do meu irmão porque vamos para a oficina dele. Vamos viver lá, todos juntos! -Dá para sentir uma entonação maior na voz. -Entenderam, vocês duas?

Elas concordam com a cabeça, olhando para lados opostos e permanecem em silêncio.
Depois de alguns minutos o celular de Mason toca.

-Pode falar. -A raiva desaparece como se nunca tivesse existido.

-Onde vocês estão? -A voz vinda, com um pouco de interferência, do aparelho pergunta com um tom de preocupação.

-Estamos chegando. Só teve alguns imprevistos. Tô levando mais três pessoas, tudo bem?

-Tudo bem. Mas estão bem?

-Sim, sim. Quando eu chegar, te explico tudo.

-OK, até daqui a pouco.

-Até.

Ele joga o telefone no painel e fica em silêncio olhando para estrada. Ninguém fala mais nada, como estavam no início da viagem. Seguindo para um objetivo não muito certo, mas o mais certo possível.

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