Capítulo 2 - A FESTA (parte 1)

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São Paulo, Capital.

Três anos antes...

Janeiro. O ar quente da estação abafava a noite paulista, por isso tantos jovens seminus atirados à piscina, Roberta pensou, enquanto atravessava um jardim de uma casa pelo menos cinco vezes maior do que a sua. Passava da meia–noite quando ela chegou à festa. Tratava–se de uma festa improvisada pelos próprios alunos do colégio e ocorria alguns dias antes do primeiro dia de aula. Os convites eram enviados de última hora por SMS contendo somente a data, o local e a hora. Era um mistério entender como tinham acesso a tantos números de celulares, principalmente os dos alunos novos, que não conheciam ninguém em comum. Provável que Jonas (ou Cachaça, apelido dado pelos colegas) estivesse envolvido. Ele era o filho mimado da nova diretora e fazia parte da escória narcisista e festeira do colégio.

Roberta destravou o celular e digitou uma mensagem: "Cadê você?".

Aos dezesseis anos, Roberta era bem mais alta e dona de poucas curvas em um corpo magro. Seus cabelos ainda eram castanhos e compridos, com as pontas quebradiças batendo em suas costas. Seus olhos, um tom mais claros que o castanho de seus cabelos, se destacava em seu rosto redondo. As sobrancelhas grossas deixavam sua expressão ainda mais marcante. Uma pena que a falta de vaidade, as roupas largas e tênis surrados, encobrissem a sua beleza. Mas Roberta não se importava, gostava de chamar atenção por suas atitudes, não por beleza. E geralmente ela era a rebeldia entre o grupo de amigos.

Roberta correu os olhos pela pista de dança lotada no meio da sala, seria difícil encontrar alguém ali. Voltava–se para o celular quando a chamaram.

– Amigaaa! Você veio! – era a voz embriagada de Melissa. – Achei que não ia aparecer, você não gosta dessas festas. Bom, eu chamei uma prima minha que estava passando a noite lá em casa e, é claro, ela e a minha tia me ajudaram a convencer o meu pai de que uma festa antes das aulas voltarem era o que eu precisava. Você acredita? O meu pai acreditou! – riu. Melissa deu um gole na bebida que segurava.

Roberta estranhou ver a amiga bebendo, mas não disse nada.

Também aos dezesseis anos de idade e pouco mais de um metro e meio de altura, Melissa continuava a mesma pequena, frágil e tagarela menina. Embora seu cabelo tivesse escurecido uns dois tons e seus cachos louros não se formassem mais tão perfeitamente, ela ainda mantinha aquele ar angelical, carregado por um olhar ingênuo e um sorriso divertido. As pessoas normalmente gostavam de Melissa assim que a conheciam, porque quando ela sorria, conquistava quem estivesse ao redor.

Mais velhas e no segundo ano do colegial, Melissa e Roberta eram diferentes uma da outra. Em estilo, gosto e aparência. Mas não importava, elas só precisavam estar juntas para que o diferente nelas se tornasse igual.

– E a sua prima?

– Eu a perdi de vista faz algum tempo. Está muito lotado, não dá pra achar ninguém aqui. Tá bem melhor que a do ano passado, lembra?

– Sim... – Roberta arrastou a voz, olhando para os lados. – Você viu o Denis? Eu achei que ele estivesse com você já que eu não vinha.

– Imagina! Você acha que o Denis ia ficar pra lá e pra cá comigo? Nunca! Eu o vi passar há uma hora atrás, mas ele estava com uns meninos do terceiro e me cumprimentou de longe – Melissa contava, parecendo inconformada. – O Denis é nosso amigo, mas ele mudou muito nesse último ano.

Roberta era obrigada a concordar. Elas não podiam mais contar com o amigo porque nunca sabiam se ele teria uma festa mais legal para ir ou uma garota mais "interessante" para conhecer. Como aconteceu no penúltimo aniversário de Melissa, era a festa de debutantes dela e ele não apareceu. Recebeu de última hora um convite para a balada de aniversário de um aluno do terceiro ano e foi, sem dizer nada.

1 Perigosa Amizade - Amigas para sempreOnde histórias criam vida. Descubra agora