Creio que os habitantes de Yuransha terão dificuldade no futuro em assimilar a realidade do que aconteceu nestes dias, do mesmo modo como hoje ainda não compreendem que tudo o que é matéria é uma sombra refletida da realidade que transcende tudo isso.
Quanto tempo haverá de passar até que se entenda até mesmo que o tempo é a imagem em movimento da eternidade e o espaço como uma sombra fugaz das realidades de todo o Plano que nos aguarda após nossas mortes?
Por isso, sinto-me na imperiosa missão de esclarecer que, segundo o que nos foi revelado pelos Superiores, nenhuma criatura deste Universo Local, nem personalidade alguma de outros Universos que nos circundam, nada teve a ver com esse Despertar do Mestre. Ele entregou a sua vida como qualquer mortal deste mundo. E três dias depois – de acordo com a contagem da sociedade judaica –, Ele a tomou de volta, como um ser Despertado, como um ser de natureza Moroncial – ou seja, além da matéria, mas ainda sem a realidade última que nos aguarda, que é totalmente espiritual.
Sobre este estado intermediário, todos nós também iremos passar por ele, como o Mestre o fez, para assim, experimentar e compreender todos os aspectos da vida, da morte e da sobrevivência a esta, a qual todo ser mortal do tempo e espaço está fadado. Este é o resumo de nossa realidade: Somos um corpo dotado de uma Mente, que por meio da construção de nossos valores – nossa Alma –iremos algum dia evoluir, de modo a nos tornarmos um Espírito Puro, assim como é o Mayam'Horun, uma vez que o princípio de tudo o que nos cerca é espiritual.
Há muito sobre o Despertar de Yehoshua que ainda não compreendemos. Mas sabemos que ocorreu como declaramos e por volta destes momentos acima narrados. Podemos também registrar que todos os fenômenos conhecidos, relacionados com esse trânsito mortal, ou Despertar Moroncial, aconteceram exatamente ali no novo sepulcro do sacerdote Yosef.
Assim, podemos concluir que o corpo material do Mestre não é uma parte da personalidade despertada. Quando Yehoshua saiu do túmulo, o seu corpo permaneceu como antes ali se encontrava. Ele emergiu da tumba sem mover as pedras diante da entrada e sem romper os selos de Pilatus. Ele não emergiu do sepulcro como um espírito, nem como Mesha'al, o Arquiteto de Navadoh. Ele não apareceu na forma do Soberano Criador, tal como fora antes da sua encarnação à semelhança da matéria mortal em Yuransha. Ele saiu do sepulcro de José na forma semelhante das personalidades moronciais daqueles que, como os seres moronciais despertos, emergem nos Mundos Superiores deste nosso Universo Local.
A tumba amanheceu o dia vazia porque os Seres Superiores que acompanharam tal processo de Despertar decidiram dar ao corpo uma dissolução especial e única, um retorno do "pó ao pó", sem a intervenção das demoras do tempo e sem a operação dos processos ordinários e visíveis de decadência mortal e de decomposição material. Os restos mortais de Yehoshua passaram pelo mesmo processo natural de desintegração dos seus elementos que é característica comum a todos os corpos humanos em Yuransha ou em qualquer mundo, exceto que, do ponto de vista do tempo, esse modo natural de dissolução foi violentamente acelerado, chegando até mesmo a ser quase instantâneo, evitando, do mesmo modo, problemas de ordem futura, em relação à transformação dos restos do Mestre em relíquias sagradas – e perigosas – por parte de seus discípulos.
Não sei quando eu poderei concluir selar este Documento, pois no momento me encontro bastante ocupado com interminável registro dos acontecimentos em Yerushalayim e seus arredores. Por ordem dos Superiores fomos incumbidos dessa missão, tanto para possuirmos os registros em nossos Arquivos, como também para legarmos às demais civilizações a memória desse momento tão singular na história de nosso Universo.
A única certeza que tenho no momento é que muitas outras coisas ainda acontecerão, e espero estar vivo para registrá-las, pois fazem parte do legado, da vida e da história do maior Ser que já pisou neste mundo e no nosso Universo Local: Yehoshua, o nosso Criador e Arquiteto de Navadoh.
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Os Contos Perdidos de Yuransha: A Hora das Trevas
Short StoryO dia é 6 de abril do ano 30. A lua brilhava intensamente sobre Jerusalém, porém, lá embaixo, a cidade estava mergulhada nas sombras da noite. Após celebrar a Páscoa judaica com seus discípulos, Yehoshua ben Yosef - conhecido como Jesus de Nazaré...