Despi-me, dobrei minha roupa sinuosamente para ficar no devido lugar. Dobrei meu par de meias brancas, só restou minha cueca samba-canção em meu corpo. Sim, meus caros, samba-canção. Não leram errado, eu acho...
Eu estava prestes a me livrar de tudo, tudo mesmo. Mas, eis que aparece uma garota de camisa xadrez com os olhos inchados.
Desviei o meu olhar, olhei para o horizonte. Era simples, só alguns passos e fim. Mas a olhei novamente, ela ficou parada, esperando que eu continuasse, então eu continuei. Abri os braços e o vento bateu contra o meu cabelo e a imagem da garota – a qual tinha meu coração por toda eternidade –, apareceu quando fechei os olhos. Que coisa, não?
– Você não precisa fazer isso.
Olhei para ela e uma lagrima escorreu pelo meu rosto – mostrando o meu lado super covarde, como sempre –, respirei fundo antes de voltar a encarar minha morte.
Será que esse é mesmo o lugar certo? Esse é o lugar onde escolho morrer? É, acho que sim. – penso.
Ela começou a se despir, assim como eu fizera.
Arqueei as sobrancelhas.
– O que? – e – Você também está assim.
Sim, obvio, ela vai me acompanhar. Droga.
Olho de soslaio ela respirando fundo. Desço os olhos e paro nas suas cicatrizes.
A sua mão encontra o meu rosto, volto para a realidade com isso. Encaro-a, um tanto confuso, mas logo percebo o que fiz: a) ela odeia seu corpo; b) olhei para seu ponto fraco. É, sou um otário. Alguns tem de ser forte, mas como ela está aqui...Enfim.
A última coisa que vejo é ela me acompanhando.
Quando fico embaixo da agua, deixo meu corpo solto. Perco o controle do meu corpo, fecho os olhos.
A sensação de estar perdendo todo seu oxigênio, junto com a sensação de estar indo embora, mesmo que de um jeito covarde, todos os problemas vão ou dão um tempo. Agora, se vão me acompanhar, eu não sei.
Só há um problema: Eu sei nadar e muito bem, consigo voltar. Um empecilho. Mas a garota que me acompanhou...!
Volto para a superfície procurando-a. Não posso deixar ela fazer isso, sem ao menos saber o motivo, e mesmo quando eu souber não vou deixar.
Rolo os olhos por todo lado, mas nada. Não posso entrar em pânico e nem me culpar, ela está viva. Sei que está.
Volto a mergulhar com os olhos abertos, mantenho o folego mais do que eu consigo, em busca da garota que nem conheço.
Quando sinto que estou no meu limite, volto a superfície. Nada dela.
Minha respiração está pesada e meu coração acelerado.
– Buu! – e – procurando alguém? – sorri.
E ali está ela, sorridente, mesmo na situação em que estamos.
– Não, só um treinamento, talvez.
Não diz nada, apenas continua ali, olhando para algum lugar e pensando em outro.
– Vamos voltar para terra? – sugiro – vamos ver quem ganha, minha cara.
Salto por cima dela, me adiantando ou tentando, sei que vou ganhar. Mas, olho de soslaio só para conferir. Percebo sua dificuldade em nadar, parece que ela não sabe nada direito ou só de uma forma ligeira.
– Sou o melhor, eu sei, ei, ei, ei. – digo.
Paro de mexer os braços quando chego na parte rasa. Puxo a garota junto comigo.
– Não tenho nenhuma tolha. Que merda, hein?
Ela tosse com dificuldade, talvez, tenha engolido muita agua ou algum problema de saúde – o qual não tenho conhecimento.
Sento no chão, faço sinal para que ela sente ao meu lado e ela não protesta – nunca se sabe quando vai se encontrar uma garota receosa ou qualquer outro tipo de garota que há nesse mundo, ou sei lá como vocês chamam isso.
– E aí? – digo, tentando fazer com que ela falasse ou sorrisse outra vez.
– É, e aqui? – brinca, sorrindo fraco.
– Numa tarde como essa, o que a minha cara tentaria cometer?
– Suicídio? Ou, só um mergulho, sabe.
– My name is Jeremy, Jeremy. – estico minha mão para cumprimenta-la. – E teu nome?
Ela ri como da primeira vez que a vi sorrindo, um sorriso doce.
– É Fraya.
Percebo que brinquei de uma forma diferente, ora, ora. Deve ser alguma coisa do destino.
Destino, eca, eca. Esqueci que o odeio.
– Quer se aconchegar ao meu lado? – ela arqueia as sobrancelhas, achou um estuprador salva-vidas, ai essa vida. – Você está com frio – explico – Seus lábios roxos e corpo frio. – ela não responde nada, apenas fita o meu corpo, como se estivesse se perguntando se teria chances com um rapaz como eu, ou não.
Encosto minha mão no seu rosto, enquanto meu outro passa por trás do seu ombro.
– Você não disse nem que sim e nem que não. – digo, antes que proteste.
Continuamos conversando, sobre variados assuntos. Até esqueço do meu suicídio, quem sabe eu deixo para outro dia, ham?
– Suicídio – diz – hum.
– É, minha cara.
– Parecia só um mergulho, foi tão normal. – ironiza – E, desculpa a minha falta de consideração, não queria te atrapalhar.
– Ah, também quase atrapalhei teus planos. Pelo menos, não fomos encontrados e considerados como casal-suicida, que tal?
– Isso seria extremamente fucking.
– É mesmo?
Ela concorda e diz:
– Sim, tive um problema com a pessoa que eu gosto, ou acho que gosto, mas, depois de hoje, ela existindo ou não é indiferente. – fala séria, surpreendo-me com esse lado que acabei de conhecer.
– Boa observação, mas qual é seu motivo? – pergunto.
Ela abaixa a cabeça, deixando uma mecha de cabelo cair sobre seu olho.
– Não sei. Acho que como os outros, eu cansei. Meu estoque de esforços para manter-me viva acabaram, é isso. – diz, de um jeito indiferente.
– Por ela? – insisto, mas percebo a idiotice que perguntei.
– Por mim. Ela é, sim, um problema, mas não o meu problema. Não que eu me contente comigo mesmo, com o problema que sou, mas... Isso pareceria que o caso não é serio, para você talvez não seja, só para mim.
Ela respira fundo com os olhos marejados. Fico quieto, esperando ela começar a chorar, mas só escorre uma lagrima sobre sua bochecha rosada.
– Tenho que ir. – diz, levantando.
– Está de noite já, o que acha de ir comigo? – pergunto. – Não vai acontecer nada. Acho que já não teria te abusado ou algo do tipo?
Ela olha para lua antes de me responder.
– Talvez você queira um lugar confortável para fazer tal coisa – brinca.
– Ah, vamos... – insisto.
– Tá, Jeremy, vamos. – diz.
Fomos o caminho inteiro em silêncio. No começo, ela abraçou minha cintura de um jeito forte, mas logo sentiu a adrenalina de andar de moto.
E por fim, dormiu ao meu lado, sem malicia nem nada, apenas deitou-se.
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Just Breathe
FanfictionJeremy estava pronto para dar um fim a tudo, ou tentar. Assim como a garota que encontrou no meio disso tudo. Os dois se completam? Hum, talvez. Ele apenas encontrou ela no que seria o fim da sua vida, que se tornou apenas o começo.