I was left lost and lonely

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Que pessoa sairia do colégio para ir ao cemitério?

Pois bem, Fraya .

Hoje é terça, o dia em que costumo ir ao cemitério visitar o túmulo de Tony, mas de modo geral, como se fosse visita-lo. Sozinha. Único lugar que costumo frequentar, até penso em ir às festas do Fórum, mas apenas escrevo, tenho uma leve noção de como é ir lá e como é.

Por mais estranho que seja não é ruim ir vê-lo, como agora. Talvez eu chore quando chegar em casa, isto se eu chegar. Quem sabe? Ninguém sabe. Eu apenas caminho de um lado para outro, olho para os túmulos e me pergunto sobre história de cada um, como foram parar ali. E me deixa perplexa, sempre vem à mesma resposta: Só sei como Anthony foi parar ali.

Evidentemente acidente automotivo, ou qualquer outra coisa, pode ter trazido todos até aqui.

Apalpo o volume da mochila conferindo se trouxe mesmo as cartas que venho acumulando. E sim, estão ali, as malditas cartas, como minha mãe diz.

Fito a entrada do cemitério. As pessoas que estão ali não vão dar a mínima para a minha presença, nem eu daria. E o momento evita isso, evita a perda de tempo em olhar uma garota andando pelo cemitério em horário de aula e uniforme.

Atravesso a rua praticamente sem olhar.

Olho de relance para a família que está ali reunida e... Jonatas! Nossa, eu meio que o conheço de algum lugar.

Desvio qualquer atenção deles, e volto a caminhar. Recém passando pela entrada do cemitério.

Observo como meus pés quase se afundam na grama, pelo menos o senhor que perambula por aqui, José, não se esquece de cuidar e terrivelmente não deixa passar nenhum dia.

Aceno para o individuo qual citei, ele sorri, até me faz sorrir de canto como sempre. Único ser humano com quem gostaria de conversar.

Leio cada nome nos túmulos que deixo para trás ao caminhar, mas não esqueço o de Tony, e nem faço isso para passar tempo ou anula-lo. O tempo é o mesmo, talvez um lugar vazio que você preenche e enquanto preenche se distrai diferente de ficar parado o observando, talvez, tédio é o resultado ou até mesmo castigo que o tempo lhe dá por observa-lo. Não se observa o tempo, você o enche. Como observar uma pessoa triste, você não a observa, você a preenche, distraia enchendo qualquer espaço vazio com algo que a convenha.

Ergo o olhar ao perceber que o tumulo está perto.

Respiro fundo, sentindo a calma e o cheiro de grama verde e um pouco molhada me invadindo, mas eu gosto. É confortante.

Ajoelho-me a frente do tumulo e ajeito a mochila sobre a minha perna direita.

Leio seu nome como se fosse um ''oi'' e imagino em algum lugar ele a minha frente, mas focalizo que: Eu, Fraya, estou a frente do tumulo do meu irmão.

E na carta: De: Fraya; para: Anthony. Passo os dedos e penso inutilmente em como seria não precisar vir aqui, e sim entregar a ele.

- Anthony... - fito o horizonte - Eu sinto sua falta. - Repito.

Abaixo o olhar fitando meu sapato.

- Sabe que, eu entendo como se eu fosse o tempo, e outra pessoa sou eu quando me sinto sozinha e o tedio me consome. - faço uma pausa - Do que adianta me olhar morrer e não fazer nada? Não é pra você, meu caro. Até porque só fato de você ter existido me deixa bem, tenho medo de não reconhecer sua voz ou esquecer. Não quero reclamar, então voltarei a minha analise.

Suspiro.

- Eu sei que tem pessoas piores, mas não vou ficar feliz por isso, ficarei feliz pela infelicidade alheia? Ou serei feliz por um fardo? Você é feliz por ser mesmo, por estar cheio de borboletas coloridas, e francamente, morcegos se instalam dentro de mim.

Just BreatheWhere stories live. Discover now