Acho que todo mundo já ouviu falar sobre bloqueios criativos, aquilo que acontece quando nenhuma das suas ideias funciona e tudo parece dar errado de forma colossal. Bem, nesse exato momento eu estou começando a sair do maior bloqueio de toda a minha carreira - o que até explica a parada cardíaca que o blog sofreu e todos os meus outros compromissos literários. O bloqueio criativo é uma coisa muito comum e pode acontecer com qualquer pessoa que se dedica ao trabalho criativo. Pode ser que você acorde um dia e não consiga fazer uma linha, não consiga desenhar e passe a acreditar que tudo o que fez é uma porcaria enorme, desastrosa e fumegante. É também o sentimento de achar que ninguém vai ler ou ligar para o que você fez, que nenhuma editora vai se interessar ou que seu livro ou sua obra de arte não vai vender porcaria nenhuma. Uma coisa que atinge escritores famosos ou não, cantores do mainstream ou do indie rock - como o Gerard Way após o lançamento de "The Black Parade". Contudo, eu quero gastar o tempo de hoje dizendo que não precisa ser assim. Existe uma luz no fim do túnel - e para roubar uma piada de O Demolidor: Não é o trem. Vou falar um pouco da minha experiência com o bloqueio e espero que isso te ajude a sobreviver.
Depois do lançamento de "Rani e o Sino da Divisão" eu me encontrei num deserto de palavras - do tamanho do Saara. Desde maio de 2014 que eu não conseguia avançar mais do que 10 páginas de todos os livros novos que comecei. Eram várias tentativas e novas abordagens, mas nenhuma delas parecia me satisfazer e após um pico de entusiasmo inicial tudo descambava e eu nem conseguia reler um parágrafo. Também havia o meu pânico de que o livro fosse um fracasso absoluto e todo mundo odiasse e nenhuma cópia fosse vendida. Essa expectativa era outra coisa que me impedia de escrever. A operação se repetiu durante e depois das bienais e eventos de lançamento do livro, enquanto eu tentativa encontrar um plot para trabalhar enquanto palestrava em escolas para centenas de adolescentes que sempre me perguntavam: E o próximo livro? Essa era a pior parte porque a verdade podia muito bem ser: Não existe um próximo livro, apenas uma pessoa pensando em fugir e se esconder de todo mundo. A resposta que eu sempre dava era: Estou trabalhando arduamente nele.
O bloqueio criativo é isso: Um grande buraco negro que suga todo seu ânimo e que torna seu trabalho impossível. Depois de tanto bater a cabeça de um lado para o outro, não havia mais o que fazer, eu precisava começar a trabalhar e adotar medidas que me fizessem produzir, o tempo estava batendo e não havia mais tempo para esperar a Musa com uma narrativa embrulhada em papel brilhante. Eu precisava trabalhar, afinal, existem tantas tatuagens que preciso fazer. Sentei na frente do computador e comecei a trabalhar naquela história que já estava dentro de mim e que realmente pedia para ser escrita. A história que pessoas já haviam me dito: Essa não é vendável. Não é muito comercial. Está fora de moda. A tendência do mercado é outra. Ninguém liga para adolescentes esquisitos mais. Você deveria escrever uma distopia. Eu precisei encontrar um tipo de coragem para silenciar o mundo lá fora, separar minha consciência daquilo que era esperado, daquilo que era vendável e daquilo que era o mercado e não EU falando. Porque sua escrita - independente de sua qualidade como autor - só vai mostrar as caras quando você escrever aquilo em que acredita de verdade. E quando você parar de duvidar de si mesmo - e acredite, isso é a coisa mais difícil do mundo, eu duvido de mim mesmo a cada segundo de cada minuto em que estou acordado ou dormindo.
Uma coisa na qual eu tive sorte é que em todas as editoras com as quais eu trabalhei, as pessoas acreditaram o bastante no meu trabalho para embarcar neles. Fosse um panda mafioso, a filha da morte ou uma xamã straight edge que toca punk death metal. Sempre contei com o apoio de todas as pessoas, mas nem sempre é isso que importa. Precisamos contar com o nosso próprio apoio, aquele que nos faz sentar o traseiro e escrever - claro, se você escreve de pé como Hemigway ou numa banheira feito Flaubert, isso é outra coisa. O apoio de outras pessoas só te leva até parte do caminho, você precisa encontrar aquela força interior e colocar tudo para fora.
Eu não sei se isso funciona da mesma forma para todo mundo, mas vou deixar uma lista de coisas para ajudar a combater o seu bloqueio criativo:
1 - Fazer trabalhos domésticos.
2 - Ouvir um disco novo e de alguma banda nova.
3 - Escrever sem pretensão, sem esperar muito, apenas escrever.
4 - Ler bastante e assistir filmes e ir ao teatro - experimentar artes diferentes.
5 - Pesquisar sobre o assunto que você quer trabalhar.
6 - Dançar em casa e fazer coisas inusitadas.
7 - Conversar com amigos e sair de casa.
8 - Ignorar todas essas regras e fazer aquilo que funciona pra você.
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Palavras aleatórias - Dicas de escrita e inspiração para jovens autores
Non-FictionResolvi juntar nesse livro, uma porção de textos sobre escrita criativa, dicas de escrita, textos sobre inspiração e o que mais der na telha sobre a profissão do escritor, contando o que aprendi durante os anos de trabalho e compartilhando com vocês...