Prólogo

68 10 2
                                    

Quando o telefone tocou,  mal havia amanhecido.  Ainda com os olhos  fechados peguei o fone e o levei até a orelha.
        — Alô?
        — Aqui e da emergência. Chamada para o tenente Lavelle. Provável homicídio, a vítima é um homem, corpo nos fundos do número 19 da rua cento e oito. Dirija-se ao local imediatamente.
       Senti meu estômago se contorcer de nervoso. Eu não estava de plantão não deveria ter sido chamado.
       — Causa da morte? - perguntei ele.
       — Aparentemente, foi espancamento.A vítima ainda não foi indentificada devido à desfiguração do rosto. Código cinco.
       — Compreendido. Droga!– joguei as pernas para fora da cama e pisquei ao ver que minha esposa ainda estava dormindo, não queria acorda-la então apenas depositei um beijo em seu rosto.— Logo estarei de volta.
        Peguei o coldre com a arma que estava sob a cômoda e sai.

        A vizinhança era miserável. Havia vários prédios decorados com pichações indecentes, vidros quebrados e as faixas que a prefeitura colocava para anunciar que eles estavam condenados. Mesmo assim, ainda havia gente morando ali, pessoas amontoadas em cômodos imundos, evitando os carros- patrulha e se drogando com qualquer substância que desse ligação.
        Havia lugares como aquele em todo o mundo, pensei, estacionando o carro. Se havia uma coisa que eu  compreendia bem, era a vida ali, a desesperança, os negócios escusos, da mesma forma que compreendia a violência que me levava até ali.
        Desci do carro passei pela barreira da polícia e caminhei até o corpo. Aquilo não era o corpo de um homem, era o que restara de um.
        — Que sorte a imprensa ainda não ter aparecido.- comentei, colocando as luvas.
        Hope olhou para cima.
        — Um assassinato neste bairro não desperta muito interesse, pelo menos as informações sobre o modo como foi morta a vítima chegarem a mídia.- as mãos de Hope, com luvas já estavam manchadas de sangue e ela continuava ajoelhada ao lado do corpo. — Já peguei todas as imagens. – acenei com a  cabeça,ela enfiou as mãos por baixo do corpo. — Vamos virá-lo de barriga para cima, John.
         O homem caíra ou fora deixado com o rosto para baixo, e uma grande quantidade de sangue e pedaços de cérebro escorriam pelo buraco do tamanho do tamanho de um punho que havia na parte de trás da cabeça. A parte da frente não estava mais bonita do que a de trás. Senti meu estômago revirar.
          — Sem identidade.– comentou . — Maison está dentro do prédio, batendo de porta em porta para ver se consegue achar alguém que o conheça ou tenha visto algo.
    Olhei  para a parte de trás do edifício. Havia algumas janelas,com vidros sujos e grades pesadas. Passei a mão pelo piso de concreto, junto ao onde Hope e eu estávamos agachados. Havia uma lata de reciclagem amassada, um saco de lixo amarrado, detritos diversos e pedaços de metal enferrujado.
        — A vista daqui não é muito bonita.– comentou Hope.
        — Já conseguimos descobrir o nome dele?
        —  Tirei as digitais. Um dos policiais está pesquisando no sistema. A arma já foi encontrada e etiquetado. Um cano de ferro que estava jogado embaixo do latão de reciclagem.- com os olhos apertados, Hope continuava olhando para o corpo. — O assassino deixou a arma porque queríamos que a encontrasse. É óbvio o motivo de o criminoso ter abandonado a arma. O que você acha desse cara aqui?
       Deixei escapar um gemido. O cadáver estava vestido na última moda. Calças jeans largas e tênis de mola. Camiseta regata com um moletom que devia ser branco.
        — Ele tinha dinheiro para gastar com roupas de mau gosto... –  olhei novamente para o prédio.— Se mora aqui é sinal de que não investia esse dinheiro em imóveis.– uma última olhada no cadáver.— Traficante.– decidi . — Um traficante nível médio. Morava aqui porque fazia negócios nessa área.– me virei no momento em que um policial se aproximava.
          — Conseguimos confirmar as digitais, tenente. A vítima foi identificada como Ross Lamont, mais conhecido como Cobra.Tem uma ficha bem comprida. A maior parte dos registros é de envolvimento com drogas. Posse, produção com intenção de distribuição, alguns assaltos e teve uns envolvimentos com pedofilia que não foram confirmados por falta de provas.
         — Alguma outra informação?
         —  Não,senhor.
         Olhei  para Hope, que deu outro gemido, concordando com o meu pedido silencioso. Ela ia pesquisar e descobrir ao certo.
         — Muito bem.– suspirei.— Vamos ensacá-lo e despachá-lo. Quero relatório toxicológico. Podem chamar os técnicos agora.
        Mas uma vez registrei tudo em volta de toda a cena mais uma vez, até ouvir gritos. Eram lamentos longos e esganiçados capazes de fazer um buraco em uma parede de aço. Uma mulher quase totalmente nua usando apenas calcinha vermelha que se lançou do edifício. Passando pelos dois guardas que estavam tomando café,derrubando-os no chão.
          — Ai cacete!– murmurou Hope, e correu para interceptar a mulher. Ela saltou e agarrou a mulher no ar em um vôo que lançou as duas emboladas no chão de concreto.
          — Aquele é o meu homem!– a mulher gritava enquanto a agredia.
No interesse de preservar a cena do crime intacta e por uma questão de autopreservação, Hope levantou o punho com toda a força, atingindo-a embaixo do queixo.
          Agarrei a cintura da mulher e a levantei sem o mínimo esforço. Logo os dois policiais a imobilizaram.
         — Tenente, desculpe ela apareceu de repente!
         —Desculpe?- senti meu sangue ferver então os repreendi com seriedade.— Desculpe! Seus bobalhões apalermados! Mais um segundo e teriamos comprometido a cena do crime. Da próxima vez que vocês forem enviados para tomar conta de alguma coisa que não seja um engarrafamento de trânsito, não fiquem parados feito dois manés coçando o saco. Chamem os paramédicos para dar uma olhada naquela mulher idiota. Depois arrumem algumas roupas para ela e mantenham-na detida. Conseguem fazer tudo isso?

          Entrei na Central da Polícia e fui direto para a sala de interrogatório. Como evitei passar pela minha sala, consegui escapar das mensagens do comandante Dwight que exigiam relatos sobre homicídio. Tinha a esperança de que, no momento em que fosse encará-lo, já tivesse alguma nova informação.
          Evelyn Tompson estava assustada e eu reconheci isso. Os olhos vermelhos e inchados, os policiais arrumaram para ela uma camisa enorme. Agora, ela parecia calma e controlada.
          — Tenente , eu sinto muito eu apenas...
          —  Sinto muito por sua perda.- fechei e tranquei a porta.
         A sala de interrogatório não tinha uma atmosfera das melhores. E não era para ter mesmo. A mesa no centro e os espelhos de dupla face. Obviamente transparente de fora para dentro, feito para intimidar. Então recitei todos os dados necessários.
          — Você pode solicitar um advogado ou alguém que representante legal para este interrogatório.
         —Eu estou disposta a cooperar.
         — A senhorita era casado com a vítima?
         — Sim, senhor. Éramos casados há dois anos.
         — Então, a senhorita tinha conhecimento dos atos ilegais de seu marido?
         —  Ilegais? Ele era garçom em uma boate, era o que eu sabia.
         — Por favor responda sim ou não.- baixou os olhos para o papel.
         — Não, ele me disse que trabalhava na boate Zig-Zag. Ele me disse que recebia por noite e que também tinha as gorjetas.
         — Onde ele estava ontem à noite?
         — No trabalho. Ele se envolveu com drogas?
         — Ele traficava. A senhorita sabia que alguém que tinha algo contra ele ou feito alguma ameaça?
         — Sim ele vinha reclamando de uma mulher.
         — Sabe o nome?
         — Krystal Grigori.
         — Tem certeza?
         — Sim, senhor.
         — Obrigado, mais uma vez Sinto muito pela sua perda.

        Me levantei e sai da sala de interrogatório avaliando minhas anotações.
        — O que conseguiu? - Hope caminhou à passos largos para manter-se em meu ritmo.
        — Quero que descubra tudo o que puder sobre Krystal Grigori urgente.-  entrei no elevador e pedi o quarto andar. — Estarei em minha sala.
Hope assentiu. Fechei os olhos e deixei um pouco da dor de cabeça sumir. Krystal, esse nome não era estranho ele já havia ouvido falar em algum lugar.

--_---------------------------------------------------_--
Bom é isso por enquanto! Espero que gostem deixem seu voto e seu comentário e queria agradecer a MarcellyWalker pela capa maravilhosa.
Obrigada e beijos.
Até a próxima!

SilenceOnde histórias criam vida. Descubra agora