Capítulo Três

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      Me estiquei pela cama a procura do corpo que me aquecia e me vi sozinha novamente , abri um olho e vi apenas que a pouca luz do dia entrava pelas persianas.
      — Bom dia, meu amor. – sorri ao ouvir aquela voz grave atrás de mim.
      — Bom dia. – me virei a tempo de ver o sorriso que havia me cativado. — Pensei que já tivesse ido para o trabalho.
       — Daqui a pouco. – olhei para a toalha em torno da sua cintura, os cabelos pingavam pelo corpo e as gotas desciam pelo abdômen plano e definido. — Hoje eu quero tomar um café tranquilo com a minha esposa.
      Suspirei e empurrei as pernas para fora da cama. Apliquei um beijo nos ombros largos de John e segui para a cozinha. Coloquei água para ferver enquanto olhava para a neve que caia calmamente pelas ruas, tornando cada lugar em uma fortaleza de gelo.
        — Estranho. – sai de meus pensamentos e olhei para o envelope branco na mão de John .— Não diz quem enviou, não tem nada .
        Meu coração sacolejou.
        — Deve ser alguma brincadeira. – supus sentindo meu estômago revirar com a lembrança do rato.
        — Vamos descobrir.– assim que ele abriu o papel me olhou curioso. — É para você.
        — Deixe-me ver.
        " VOCÊ VAI PAGAR PELO O QUE FEZ."
        Coloquei a mão sob o peito assim que senti uma agonia me atingir em cheio. A ameaça foi feita com colagens  de letras de revistas .
          — Meu amor, deixa isso comigo. – puxou o papel da minha mão e me puxou para um abraço. — Vou pedir para que uma viatura vigie nossa casa  e vou levar isso para alguns amigos. Talvez eu possa encontrar algo....
          — Talvez isso não seja nada demais.– suspirei e forcei um sorriso.
          — Clarice, como não? – John já estava deixando se levar pela raiva e eu podia ver isso em seus olhos. — Isso aqui é uma ameaça.– apertou o papel entre os dedos. — Não posso deixar que ninguém te ameace , você é minha prioridade e minha responsabilidade. Sua segurança depende de mim então, não me diga que isso é uma brincadeira por que não é!
          Senti meu estômago aquecer ao ouvir aquelas palavras, podia sentir novamente a segurança ao meu redor.   Me joguei em seus braços e abracei sua cintura com toda a força que pude .
          — Eu te amo, jamais permitiria que algo ruim te acontecesse. – depositou um beijo no topo da minha cabeça e me fez sorrir.
          — Vá se arrumar, o café está quase pronto. – avisei quando ouvi o assovio da chaleira avisando que a água estava no ponto. — Você me dá uma carona até a editora?
           — Achei que teria que ir até lá só daqui uns dias. – sim, John conseguia se manter a par de tudo que acontecia sobre a minha vida. Apesar de tudo que acontecia.
           — Sim, mas a Srª Roberts vai dar um jantar em sua mansão e pediu a nossa companhia. – comentei enquanto coava o café. — Acho que ela quer saber se farei outro livro como os outros.
           — Inspirados na violência de Nova Iorque?
           — Isso. – apoiei as mãos sobre a mesa e sorri. — Acho que somos uma inspiração romântica, Lavelle.
           — Já te falei o que acontece comigo quando me chama assim? – murmurou em meu ouvido, já abraçando meu quadril .
           — Lembro de algo. – me virei passando os braços sob seus ombros.
           — Então vou ter que fazer com que você lembre. – abafei meu riso em seu pescoço quando suas mãos ergueram meus quadris até a mesa .
           — Você vai se atrasar para o trabalho. – comentei quando senti sua ereção pressionar minha virilha.
           — Nova Iorque sobrevive sem mim.
           Dito isso puxei ele para um beijo lento e molhado, não precisamos de urgência. Apenas um do outro.

           A neve caía com calma pelas ruas, milhares de pessoas não se deixavam abater pelo frio, muito menos pela fina nevasca. A Srª Roberts apenas me orientou sobre novas idéias para o livro o que me deixou bem feliz. Eu já estava esperando uma de suas caras de negação quando lhe contei sobre o capítulo que havia acabado de escrever.
           — Ora se não é minha escritora favorita!
           — Tom. – tentei esconder a surpresa em mim, mas falhei. — Meu Deus quanto tempo.
           — Realmente faz muito tempo. – me puxou para um abraço apertado. Tom era um homossexual que eu havia conhecido na faculdade, não o via já fazia uns 3 anos. — Tem um tempo para tomar um café com um velho amigo?
           — Claro que sim. – sorri empolgada.

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