Capítulo Um

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Clarice pov.

      
        Acordei com as primeiras luzes da manhã que conseguiam atravessar a persianas, me estiquei sobre a cama até notar que estava sozinha. Então me sentei imediatamente, esfreguei meus olhos antes de levantar e observar a cidade. Nova York , a cidade que nunca dorme. Fazia alguns anos já que eu havia me mudado para cá e já estava acostumada com o ritmo da cidade.
        Graças a faculdade e a boa história que tive em minha vida consegui dar vida a um best sellers e outros livros considerados os melhores segundo o New York Times. Há exatamente dez anos atrás eu havia reencontrado John Lavelle, e quando precisei de ajuda para escrever um romance policial ele estava lá. Me ajudou com algumas informações, me deu dicas e me convidou para jantar.
         Sorri ao lembrar do desastre que fora aquela noite, às pessoas davam muita importância a nossa diferença de idade. Mas John sempre foi um cavalheiro, sempre se comportou e jamais tentou algo contra minha vontade. Houve química entre nós desde o início, sempre me senti confortável e segura ao seu lado, e com o passar dos dias fui notando coisas que até então não havia notado. O que me fez lembrar do nosso primeiro beijo.
        Eu havia acabado de sair de uma entrevista, todos queriam saber a minha inspiração para escrever Fatal. Ao final da entrevistas ele estava lá, me aguardando sorridente. Meu coração quase saltou pela boca só de vê-lo.
         — Me sai bem?– indaguei nervosa e ele abriu um sorriso maravilhoso, me fazendo focar em seus lábios.
         — Você estava incrível, seu pai ligou também. – passou os braços pelos meus ombros e me guiou até a saída. — Disse que estava orgulhoso de você.
         — Vou precisar ligar para ele mais tarde.
         — Sim. – suspirou.
         — Como anda o trabalho, John?
         — Nova York sempre me surpreende. – e era verdade, haviam crimes ali que eram absurdamente assustadores .
         — A todos nós. – me encolhi contra seu corpo quando saímos na rua.
         Olhei para seu sorriso e senti vontade de pular em seu pescoço e mostrar o quanto eu apreciava aquela benção de lábios que ele tinha. Fazia muito tempo que eu não sentia nada por um homem.
          Mas que mal poderia haver numa paquera? E, quem sabe, se eu tivesse sorte eu poderia descobrir o sabor daqueles lábios antes de a noite acabar. Era bastante provável que ele me dispensasse, afinal ele era um homem de trinta e cinco anos , dez anos mais velho que eu. Mas idade era o que menos importava.
           — Vou te pagar um jantar. – ainda sorrindo para mim com sua boca perfeita e olhando em meus olhos.
            — Mais que aceito.
          A ideia de me agarrar ao corpo dele e não soltar mais passou pela minha cabeça. Loucura demais? Talvez, mas definitivamente, eu me sentia atraída por ele. Eu adorava sair e conhecer pessoas novas onde quer que eu fosse, mas John me mostrou que a ideia de me afastar dele era um erro. Então, mantive contato com ele.  
           — Pensando melhor, que tal me levar para a casar eu cozinho algo para nós?– sugeri, já que ele sempre frequentou minha casa e fazia parte do meu círculo de amigos.
           — Já aviso que não vou lavar a louça. – brincou e abriu a porta da Mercedes para mim e logo me acomodei no assento.
          Respirei fundo, quando ele se sentou tive a impressão de que o banco se ajustou automaticamente ao seu corpo.
           — Hoje vai ser uma noite fria. – comentou, dando partida e ligando o rádio a tempo de ouvir a notícia sobre uma tempestade que se aproximava.
           — Não estou psicologicamente preparada para uma noite fria.
           O silêncio preencheu o espaço entre nós, mas ele não era embaraçoso muito menos estranho, ele pareceu não se importa em quebrá-lo com algo além de nossa respiração. Minha lista mental de como era natural estar ao lado de John havia acabado de ganhar mais um ponto.
           O fato de não precisar me esforçar para pensar em algum assunto aleatório era reconfortante.
           Assim que ele estacionou o carro em frente ao Plaza respirei fundo.
          — O que faremos para o jantar? – perguntou para mim, caminhando ao meu lado
          — Não faço ideia.
          — Tem certeza que não prefere pedir algo?
          — A ideia de cozinhar algo e comer uma refeição decente e fresca me agrada muito mais.
          — Tudo bem.
          Chamei o elevador e fiquei ali parada, aturdida, meio impressionada, observando sua boca enquanto ele encarava distraidamente o elevador. Minha atração por ele já estava beirando o ridículo.
          Quando o elevador chegou nós entramos. Assim que as portas se fecharam eu apertei o botão do meu andar e encostei na parede espelhada do elevador, os olhos de John brilharam intensamente, tentei em vão adivinhar o que de passava em sua mente.
           — Tenente? – chamei receosa.
                John riu.
           — Você sabe o que eu acho de ser chamado assim. – perguntou se aproximando de mim e olhando em meus olhos.
           — Sei. – sorri e novamente me peguei olhando em seus lábios. — Eu estou a um passo de te dar um beijo, e não quero que você me veja com mal olhos por isso. – falei impulsivamente e atribuí a culpa ao seu sorriso, que me deixava completamente boba.
           Sem dizer uma palavra , John deslizou a mão para a parte de trás da minha nuca e me segurou com força aproximando nossas bocas.
            Eu não consegui esconder a ansiedade que estava sentindo. Quando senti o toque de seus lábios, meu cérebro deixou de lado todo o pensamento racional. Seus lábios eram tão macios. E quentes. Enquanto nossas bocas se moviam em perfeita sincronia, aquele beijo me inflamou. Uma única faísca e o fogo acendeu por completo.
            Suas mãos seguravam minha cintura, puxando-me mais perto. Abraçados , nossos corpos se fundiram e a sensação de estar em seus braços me fez acender em desejo. Eu queria tê-lo por inteiro. Se o elevador demorasse mais um pouco para chegar ao meu andar , eu me entregaria para ele ali mesmo.
             Quando o elevador parou com um leve solavanco, John se afastou de mim com relutância, deixando minha boca formigando e um pouco entorpecida.
             — Vamos. –  segurei sua mão e o conduzi pelo corredor, encaixei o cartão na fenda e a luz verde se acendeu.
             — Já tem em mente o que fazer para a janta, já te aviso que estou morto de fome. – me virei para ele ainda sorrindo e ansiosa para experimentar seu beijo novamente.
             — Que tal lasanha? – perguntei, puxei meu cachecol e o joguei no sofá.
             Ele riu.
             — Para mim está ótimo.
             — Você me ajuda? – observei curiosa ele se aproximar.
             — Ou eu posso esquecer essa lasanha e me dar ao trabalho de te beijar o resto da noite. – sugeriu colocando uma mecha de meus cabelos atrás da orelha.
             Meu estômago se contorceu de nervosismo.
             — Primeiro a refeição. – afirmei, sem convicção.
             — Você é linda, sabia?– ele afirmou, enquanto aproximava meus lábios dos seus.
             Com as mãos em sua nuca eu o puxei ainda mais para mim, convidando-o a se aprofundar ainda mais no beijo.

      
           A campainha tocou me obrigando a sair de meus devaneios, ainda sentindo aquela emoção toda me dirigi até a porta de entrada. Não havia ninguém do outro lado, então a pequena caixa no chão me chamou a atenção.
          Peguei o pequeno embrulho e olhei curiosa para as ruas , a procura de alguém. Mas não havia ninguém.
          — Admirador secreto.– era o que dizia o cartão na caixa.  Sem remetente, sem endereço, sem nada. Apenas uma caixa qualquer de sapatos.
         Abri com receio a caixa e a joguei no chão, olhei assustada para o que seria um rato cortado em milhões de pedaços. O sangue do pobre animal , escorreu pelo chão e então senti uma náusea muito forte me envolver.
         Mas que merda seria aquilo!?
         Abri a porta e olhei assustada para as ruas, nada nem ninguém passava por ali. 
          Peguei meu celular e liguei para um número que já sabia de côr.
          — Vamos, John, atende. – murmurei assustada, ele atendeu no quarto toque.
          — Bom dia, amor. – podia ver o sorriso em seu rosto só pela sua voz. — Tive que sair mais cedo hoje, houve uma emergência e...
          — A que horas você vem para a casa? – tentei não parecer tão assustada.
          — Algum problema?
          Olhei para a caixa e esfreguei as mãos em meus cabelos, podia se tratar de uma brincadeira de mal gosto. Algum pirralho bagunceiro ou alguém tentando tirar uma onda com a minha cara.
           — Não. – menti. — Eu só quero saber se chega para o jantar. – meus olhos encheram de lágrimas.
           — Sim, querida. – ouvi o som de algum teclado . Levei a mão sobre o peito e procurei me acalmar. — Logo estarei em casa.
            — Está bem.
            — Amo você. – deixei um sorriso fraco escapar.
            — Também amo você. – desliguei.
            John não precisava saber daquele incidente. Então decidi que limparia tudo e não tocaria nesse assunto.
            Ao abaixar para recolher a caixa , um papel caiu, estava grudado no lado interno da tampa da caixa. Estava escrito em letras grandes e legíveis.
            " VOCÊ VAI PAGAR."

        
        

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