A lua dos mortos

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A Via Láctea
Cintila um funeral
Em cada galáxia
Acende um castiçal
Iluminando os caminhos
Que levam os mortos
Para o Planeta Terra.
A água extinta de cada corpo
Coagula o sangue dos canais
Que solidificam a rede da vida
De modo frio e absorto.
A sede aumenta a dor do mundo
Na mesma proporção que santifica
O entendimento do moribundo
E ensina o desapego para quem fica.
A Lua dos mortos passeia
Nos jazigos abandonados pelas mentes
Por calafrios e ranger de dentes
No despertar de cada ceia.
Da sombra dos seus pecados
Os defuntos acordam machucados
Com sua altivez profunda
Sabendo que não há mais segunda.
No vale das trevas
Ecoa o canto da coruja negra
Anunciando para as brumas
Abrirem ampla passagem
Nas alfombras das veredas
Onde nascem as violetas.
As estrelas caem do céu
Chorando a saudade
Dos que ainda estão vivos
Cobertos por um véu.
Velas acesas, flores de plástico,
Rezam o terço com tristezas
Diante da fotografia.
Sepulcros mistificados
Onde tudo é fantástico
Continuando o fim
Do show da vida.

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