Quando colocou os pés sobre o assoalho daquele motel, sentiu um grande arrepio sobre sua pele.
Ignorou.
Lembrou de uma ambulância que passara minutos antes, o alarde desta a fazia lembrar de tantas coisas... provavelmente a tal ambulância já estaria no hospital.
As escadas debilitadas faziam barulho enquanto se aproximava de um quarto avulso, o longo corredor parecia interminável, mas algo chama sua atenção.
Fumaça está saindo por debaixo de uma das portas.
Ela olha para os lados na esperança de encontrar alguém, nada.
Aproxima-se da porta, o calor e cheiro forte fazem com que pense em recuar, mas ela força a tranca na tentativa de a mesma ceder.
A porta abre com estrondo.
As chamas e a fumaça impossibilitam sua visão, mas ela consegue distinguir um braço estendido no piso.
Havia alguém lá.
Ela grita por ajuda muitas vezes e sem obter nenhuma resposta decide entrar no quarto sozinha. Pula por entre as poucas partes concretas do assoalho até chegar a um garoto caído.
A princípio, não dá muita atenção às suas características.
Ela tinha que tirá-lo de lá.
Ela carrega o rapaz inconsciente, o que se tornou uma tarefa um tanto complicada considerando a situação. Depois de muito se esforçar, ela finalmente consegue atravessar o fogo e levá-lo até o saguão do motel, ainda vazio.
Era como em um filme de terror.
Ela coloca a cabeça do garoto sobre seu colo e passa a mão pelo seu cabelo, seus dedos acabaram por tocar a pele fina e altamente marcada pelo fogo. As queimaduras tomam-lhe o corpo.
Mas ele respira.***
-tranquilo. -ela o observa enquanto ele abre levemente os olhos. Ele olha para os lados rapidamente, assustado, força seu corpo para levantar, mas estava fraco e dolorido o que o faz chorar e bater a cabeça muitas vezes sobre o travesseiro da maca onde estava.
-calma, calma! -ela põe a mão sobre a testa dele. Ele a fita confuso, ela não parecia uma enfermeira e ele também não a conhecia.
-Relaxa, só vai doer agora. - ela injeta algo em no braço do garoto.
Ele pisca algumas vezes antes de cair no sono.
Esse mesmo processo acontecia várias vezes por dia, ele acordava assustado, tentava se levantar e caia no sono.
Involuntariamente forçado.
***
-A senhorita que está acompanhando o rapaz?
-Sim - ela se levanta da poltrona onde estava.
-qual seu grau de parentesco com ele?
-Nenhum na verdade, o resgatei de um incêndio, nem sei o nome dele...
-Nossa, sério? Você passou tanto tempo aqui que jurei que era da família.
-Eu...senti que deveria ficar. - ela tentou parecer convincente.
-Tudo bem, ele se chama Min Yoongi, 22 anos e isso é tudo que conseguimos descobrir até agora, ele insiste em não falar... Mas isso é normal já que se tratou de uma tentativa de suicídio.
-Suicídio? -ela encara o médico surpresa.
-Sim, de acordo com o corpo de bombeiros o incêndio foi intencional, eles encontraram um isqueiro e um galão de combustível no quarto daquele motel.
-Eu não sabia. - sentiu um enorme interesse nas palavras do médico, tentou transparecer preocupação.
-Bom, em todo caso, vou deixá-lo sob sua responsabilidade por hora, ele está debilitado por conta das queimaduras, o que lhe provoca dores muito intensas, estou receitando alguns calmantes, mas o que ele realmente irá precisar é, acima de tudo, do apoio psicológico. Você me compreende?
Ela fez que sim com a cabeça e soltou um sorriso de lado, um tanto suspeito.
Pegou as instruções escritas entregues pelo médico. Encostou os papeis sobre o peito e abaixou a cabeça, sorrindo de modo sombrio a todo momento no corredor frio do hospital.
Algo rondava sua mente.
Ela foi até o leito de Yoongi e o observou respirar fundo demais, ele estava acordado.
-Qual é a sua cara? -ela sussurra sem esperar resposta.
-Me deixa em paz. -ele disse ainda de olhos fechados. Ela se espantou ao ouvir a voz dele.
-Vamos. -fala sem expressão.
-Vamos pra onde sua idiota? não basta você se meter aonde não é chamada e ainda quer me dar ordens? Eu nem conheço você!
-Você pode apodrecer aqui então, porque parece que ninguém se importa com você o suficiente para te ajudar, pra mim tanto faz. Eu sou a sua única salvação.
Ela se senta na poltrona ao lado da cama com as pernas cruzadas puxando uma revista e abrindo em uma página qualquer. Ele abre os olhos e respira fundo outra vez, quase bufando, com os braços enfaixados ele retira os fios que o envolviam, desligando os aparelhos.
-O que você está fazendo? -ela se levanta.
-Fique onde está! Eu vou fazer isso sozinho! -terminando de arrancar os fios, ele põe a primeira perna enfaixada para fora da cama, fazendo seus pés tocarem no chão gelado. Ao colocar a segunda perna para fora ele tenta se manter em pé, mas seus membros se encontram frágeis, o que o faz se desequilibrar e cair.
-Você é um otário. - Ela se levanta e corre até Yoongi, que chorava em silêncio para disfarçar sua dor, mas ela sabia. No fundo ela sabia o motivo daquela dor. Ela o ajuda a sentar na cama e declara:
-Que se dane você, se não quer a minha ajuda, mas eu vou te ajudar, e mesmo que você me odeie, você vai ter que aguentar porque eu não vou desistir de você.
Ele abaixa a cabeça e ela se afasta para pegar a cadeira de rodas, ele agarra o braço dela e questiona sem olhar a mesma nos olhos:
-Por quê?
Ela simplesmente mantém o silêncio por um minuto.
-tenho uma dívida a pagar. -sorrindo de maneira macabra.
Ele fica confuso e um pouco assustado mas aceita a resposta, e involuntariamente, senta-se na cadeira e passa pelo corredor de onde começaria sua nova vida.
Ou fim dela.

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Together
Разное"14 de maio , Eu não sei por que me sinto desse jeito,por que tenho que sofrer tanto e ninguém ser capaz de ajudar,eu sinto meu corpo desfalecer de tantas maneiras diferentes,como se vivessem pessoas dentro de mim e eu pudesse sentir suas angústias...