Dirty skin

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Dois dias se passaram desde que Yoongi voltara do hospital, não direi, por que estaria caluniando, que foram tempos fáceis. Suga se expressava de maneira teimosa e ofensiva aos atos de Eve, que por sua vez o ignorava de maneira indiferente.

Ela costumava colocar "calmantes" (numa dose um pouco maior, para mantê-lo apagado) em sua bebida.

De certa forma ela só queria retardar algo que poderia o ferir: ver a própria imagem.

Mas por pior que pudesse parecer, o dia finalmente havia chegado, Eve teria que tirar as bandagens do corpo de Suga. Em seu interior, ela sentia uma profunda "tristeza" de ter que participar de tal ato, mas era preciso.

Algumas horas antes, Eve havia colocado um remédio para dormir no chá de Suga, isso porque, seria bem menos doloroso com ele desacordado.

Tanto para ele quanto para ela.

Ela começa desde as pernas até o resto do corpo, cada parte descoberta pelas ataduras revelam a pele morta e avermelhada sobre o que já havia sido de um tom pálido e de um toque macio.

A princípio, ela se sente um pouco de "vergonha" de o ver despido, mas a "preocupação" com a reação dele era maior. Ela tira de uma gaveta, uma larga camisa branca masculina e um calção de moletom, que com uma incrível habilidade consegue o vestir sem que este acorde.

Era como se ela já tivesse feito isso antes.

De repente, se lembra da recomendação do médico por alguns cremes tópicos para as queimaduras, Eve aproveita que Suga dorme para sair.

***

O silêncio é quebrado, Suga açorda.

Ainda meio sonolento e perdido pelo efeito dos remédios, demora a perceber que não está mais enfaixado, contudo, sua pele começa a arder e ele a sentir as dores do que seria sua pele em contato com os lençóis.

Ele grita por Eve. Nada.

Por já não aguentar mais ficar deitado ele se esforça e senta na cama, sua visão deixa de ser turva e ele finalmente consegue ver as pernas. As pernas reais, por debaixo das bandagens.

Toda vez que seus olhos tocam a visão do próprio corpo, Suga desespera-se, virando o rosto como se tivesse medo de ver novamente.

Por mais doloroso que isso pudesse ser, ele queria ver o resto de si.

Com dificuldade, se levanta e entra em equilíbrio. Pela primeira vez percebe o que está vestindo, não mais as "vestes de hospital", mas com roupas normais, "Como ela conseguiu me vestir sem eu perceber? " ele pensou pelo milésimo de segundo que se deslocou da cama ao móvel do lado esquerdo e assim por diante.

Ele se arrastava até o banheiro. Chegando na porta, seu corpo enrijeceu e ele se arrepiou, procurou manter a cabeça abaixada enquanto posicionava as mãos paralelamente sobre o mármore frio da pia.

A necessidade de olhar seu reflexo era extrema em relação a sua coragem.

Mas assim o fez, o cenho amedrontado e desolado do rapaz agora presenciava algo que realmente lhe fez lembrar da sensação sentida durante a tentativa de tirar a própria vida.

O espelho esfaqueava seu coração.

Sua respiração e batimentos aceleram. Ele recua e bate as costas na parede do banheiro.

Parte de seu rosto apresentava uma grande marca vermelha que percorria desde sua testa até seu queixo. Ele toca a queimadura, mas a sensação terrível de dor o faz arrancá-la com rapidez.

Ainda em estado de choque, levanta a blusa que revela lentamente a parte onde os ferimentos haviam sido mais violentos, a carne rachada e escurecida repleta de cicatrizes o faz soltar o tecido e de seus olham começam a escorrer lágrimas.

Lágrimas do mais sincero sofrimento.

Ele se agacha com dificuldade, estalando suas juntas comprometidas, colocando a cabeça sobre os joelhos, suas costas contra a parede.

E chora. Não mais em silêncio.

***

Eve chega e logo percebe que Suga não dormia mais, o que lhe faz largar as compras e seguir rapidamente o rastro dos móveis desorganizados até o banheiro.

A cena era aterradora.

Suga encolhido no chão, com a respiração descompassada, soluçava.

Eve não esperava tal choque, principalmente levando em consideração que Suga não demonstrou nenhuma preocupação aparente sobre como estaria sua pele.

Talvez ele só estivesse tentando esconder.

Todavia, ela se abaixa e junta-se a ele, mais precisamente a sua frente, onde tenta desgrudar o rosto molhado de choro dos joelhos machucados.

-Suga, me escuta, tenha calma, isso vai passar!

-Sai de perto de mim! Se não fosse por você, já estaria morto agora e não precisaria viver esse inferno, Você me deixou assim, VOCÊ! - Ele grita de forma cruel.

Ela tentou, como tinha feito ultimamente, ignorar o comentário, mas não conseguiu.

Tais palavras a fizeram desabar.

-Eu sinto muito.

Se levantou e deixou Suga sozinho.

Ele tremia.

Talvez tenha sido o fato de nunca ter visto alguém chorar na sua frente daquele jeito, ainda mais porquê ele era quem havia causado aquelas lágrimas; Suga sentiu um extremo remorso.

Um remorso do tamanho da dor que sentia.

Mas por que ele sentia uma necessidade tão grande de se desculpar sendo que ele tinha razão?

***

Eve tinha um jeito diferente de demonstrar sentimentos, costumava ir até o atelier e pintar ou esculpir algo. Desta vez ela simplesmente sentou-se no chão, em frente a "parede dos quadros", segurando um retrato nas mãos.

Suga aparece de súbito e senta-se ao lado de Eve, meio sem jeito demais para falar a verdade.

-Às vezes eu sou meio mala.

-Eu perdoo você. -ainda sem olhar para ele.

-Então... você tirou toda a minha roupa? -ele questiona mais embaraçado do que curioso.

Isso a faz rir.

-Nada que eu já não tenha visto. - aquilo soava como provocação.

Os dois riem e trocam o primeiro olhar de caráter interessante.

***

Suga se levanta sorrindo para buscar alguma coisa.

Eve desmancha o cenho de felicidade forçada e solta seu sorriso cínico, limpando com uma flanela o vidro do porta-retratos, tirando a foto que ele portava e jogando no triturador de papel. Ela acenava para ele como se fosse uma pessoa.

Se levanta e coloca o objeto em cima da sua mesa, seja quem estivesse estampando aquele porta-retratos, acaba de perder tragicamente seu lugar.

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