Falling

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-Quantas séries hoje?-um colega da academia me observava levantar os pesos em frente ao espelho,aquilo me deixava nervoso.
-Várias.
Ele solta uma leve risadinha e me deixa só,do que ele ria?

O espelho passava seus olhos cruéis sobre mim,e da cabeça aos pés ele me julgava.
Eu queria não me importar,mas é sempre assim,quando eu sinto que está tudo bem,aparece algo para me lembrar de quem eu sou.
***
As ruas são quentes,minha casa não ficava muito longe da academia,mas acho que eu teria que mudar isso,talvez uma corrida antes da academia me ajudasse a perder gordura abdominal.
-Oi filho,como foi hoje?-minha mãe cozinhava algo.
-Bem.-sorri meio que prendendo a respiração.
-Deixei um lanche no seu quarto.
-Ok,obrigado.-soltei um sorriso meio falso,mas ela pareceu não perceber.

Eu subi as escadas até meu quarto,melhor lugar do mundo para mim,meu pequeno isolamento.

Minha mãe tinha mesmo deixado um lanche no quarto, dois sanduíches, uma caixa de suco e uma maçã.

Passei a mão pelos cabelos me questionando sobre o que faria.

Tirei o canudo do verso da caixa e furei o buraquinho da caixa,fui até o banheiro e despejei o suco ralo abaixo.
Coloquei os sanduíches e a maçã dentro da mochila,não podia me livrar deles em casa.

Quase 12:30 h. O inferno me aguarda.

Minha escola era simplesmente um campo de batalha,eu era a isca que eles davam aos leões. Minhas tardes eram tediosas,inconstantes e cheias de inquietação,o que havia se tornado normal para mim,tudo que tinha que fazer era sentar na última cadeira da classe e esperar cinco horas até o sinal de liberdade.

Passo rápido pelos corredores próximos da minha sala,pego os livros no armário,entro na sala ainda vazia e vou até minha carteira, e como ainda era cedo,eu tinha que esperar Soo chegar.

"Vou me atrasar pirralho"-12:56
"Vem logo"-12:56
"To indo!"-12:57

Soo era minha melhor amiga desde o jardim de infância,ela era a única que me entendia...ou pelo menos eu acho que sim. Fazíamos excepcionalmente tudo juntos.

-Boa tarde rolha de poço.-uma voz grossa fala sobre minha cabeça,empurrando minha carteira.

Merda.merda.merda.

-Você pode pelo menos um dia me deixar em paz, Chin-Hao?

-Talvez quando você parar de meter esse seu dedo escroto na garganta.

Já havia pessoas na sala,ele falava alto de propósito,queria que todos soubessem.

-Cala essa boca.- eu me levanto furioso na carteira,sinto ele se assustar.

-O que é seu maromba de merda?vai me bater?Será que você tem força? A quanto tempo você não come?

Eu não consegui me segurar,ele estava brincando com algo delicado demais,pulei em cima dele e enchi cada milímetro daquela cara de socos. Por mais que eu mesmo não me achasse forte,eu tinha uma incrível habilidade em lutas.

Mas quando perdia o controle da raiva,me tornava imprevisível...

Alguém aparta a briga,puxando meus braços.

-É isso que acontece quando te deixo sozinho?-era Soo.

-Esse cara é doente,se mata idiota! -ele falava arfando enquanto os amigos dele o ajudavam a levantar.

Soo toma minha mão e me leva até o banheiro.

-Você não pode entrar aqui Soo.-eu olho para os lados checando se alguém nos via.
-Desde quando você passou a mandar na noona ?-ela sorriu demonstrando poder.
-É nesses momentos que me odeio por ser mais novo que você.

Soo passa os papeis molhados nos meus lábios,segurando meu rosto como se eu fosse uma criança pequena,ela sempre fazia isso porque sabia que me irritava.

-Por que você perde o controle tão fácil?-ela perde o sorriso.
-Ele me provoca.Ele vêm me provocando desde que ele me viu...
-Eu sei. Sinto muito por isso.

Eu desço da pia onde estava sentado e então voltamos para sala,o professor ainda não havia chegado.
***
Apenas duas pessoas no mundo sabiam do meu problema,Soo e Chin-hao.Ela soube por que quando fazíamos dança juntos,há alguns anos atrás, eu acabei induzindo o vômito e ela me assistiu,desde então ela tem ajudado nas minhas recaídas. Chin-Hao, por outro lado soube durante uma aula de educação física...E desde então ele me inferniza.

A aula passou rápido aquele dia,Chin-Hao me encarou por toda tarde,eu o ignorei claro,mas eu sentia a sua raiva.Seu rosto inchado gritava por vingança.

Era como se todos tivessem raiva de mim,eles faziam questão de dizer o que tinha de errado comigo...

Mas o pior de tudo,eu sabia disso.



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