CAPÍTULO 01

8.3K 667 32
                                    

ATENÇÃO!

ESTA OBRA ESTARÁ DISPONÍVEL ATE DIA 23/6/18.

APÓS ESTA DATA A HISTÓRIA SERÁ RETIRADA DA PLATAFORMA.

------

ARTHUR

2 meses antes...

O balançar da barca estava me deixando enjoado, ver as paredes dela subindo e descendo me deixava tonto. Nem sempre fui fresco assim, esse é o reflexo de anos sem visitar minha terra natal, o lugar onde nasci e fui criado, o lugar onde minha mãe morreu ao me dar a luz: Ilha Grande em Angra dos Reis, Rio de Janeiro.

Durante minha infância e parte da adolescência, madrugada era dia e enfrentava um barquinho para pescar com meu pai. Eu adorava pescar. Meu pai era pescador, mas hoje era dono de um das maiores empresas do ramo pesqueiro do país. Começou com um barquinho, depois uma frota pequena e assim foi até construir a empresa e enriquecer.

Nós dois éramos inseparáveis, meu pai era meu amigo, meu herói. Ele não se casou depois que mamãe se foi, então era apenas nós dois. Mas depois que a empresa começou a crescer ele esteve cada vez mais ausente, sempre ocupado e isso foi nos afastando cada vez mais.

Meu casamento está marcado, mas não sei se quero me casar. Meus avós moram na ilha e faz muito tempo que não nos vemos. Nos correspondemos por cartas ou telefones quando o sinal da operadora permite. Eles não esperam por mim, então será uma surpresa.

Deixei tudo no continente, pois precisava pensar, pensar na minha vida. Esse casamento seria vantajoso para meu pai e para os pais da Thalita. O casamento seria a consolidação da sociedade entre as famílias Bitencourt e Mendes. Renderia muitos cifrões às duas famílias e eu estava no meio disso tudo. Não que meu pai tenha dito com todas letras que era obrigado a me casar, mas as palavras estavam implícitas todas as vezes que comentava sobre essa união.

Quando meu pai resolveu se mudar para o continente, tive que deixar amigos importantes para trás. Não sei como andam as vidas, ou se ainda moram aqui.

O enjoo estava forte, então era melhor dar uma volta pela barca. Algumas pessoas estavam sentadas pelos corredores, o que dificultava minha passagem, mas precisava de ar puro. Escolhi esse tipo de embarcação, pois não sei se conseguiria ir em um taxi-boat, ele era pequeno demais. Pois é, só há uma forma de chegar à ilha: pelo mar. Lá não havia pontes nem balsas para transportar veículos e muito menos eles eram permitidos.

A ilha já podia ser vista. Ela era enorme. De repente me bateu uma saudade imensa da vida que tinha nesse lugar. Eu tinha uma namorada, amigos, uma vida. O que será que foi feito dela? Será que se casou? Ainda continua morando na ilha?

Finalmente a barca ancorou. Foi uma confusão para sair dela. Muitas pessoas tentavam sair juntas e isso acaba dificultando a saída de todos. Pés em terra firme, graças a Deus. Quase me ajoelhei para a gradecer a para fazer um agradecimento.

Vila do Abraão estava lotada e bem diferente de quando a deixei. Já havia uma fila quilométrica para quem estava deixando a ilha para entrar na embarcação.

Será que ainda me lembro onde é a casa dos meus avós? Está tudo tão diferente por aqui. Olhei para um lado e para o outro tentando me localizar. Puxei minha mala de rodinhas que se acabaria com aquele chão cheio de pedrinhas e segui por uma estrada de chão, virei à direita e parei em frente a uma casinha amarela com janelas de madeira pintadas de branco. Segui totalmente meu instinto. A porta de entrada estava aberta e suas janelas também.

- Dona Celina, seu Augusto? – Chamei por eles e aguardei uns segundos.

Uma senhora baixinha, rechonchuda, de cabelos brancos e rosto marcado pelo tempo apareceu na varanda. Dona Celina, minha vozinha que estava tão velhinha. Ela veio andando com dificuldade em minha direção, estreitou os olhos, colocou a mão no peito e pronunciou meu nome:

- Arthur, é você meu filho?

- Sim vó!

Ela veio em minha direção e me deu um abraço apertado.

- Que saudades menino. – Minha avó meu deu um tapa no peito. – Nunca mais abandone essa pobre velha.

- Ai vó, isso dói. - Ela ainda tinha força.

- É para doer mesmo.

- Não vai me convidar para entrar? Cadê o vô?

- Claro, claro. Vamos, entre. Sei que não é o palácio que está acostumado, mas aqui tem muito amor. – A segui.

Realmente a casinha deles era muito velha, mas jeitosinha. Não pense que os deixamos à sorte. Meu pai tentou leva-los para morar conosco, mas eles se recusaram e também rejeitaram qualquer tipo de ajuda que tentamos dar.

- Seu avô está pescando.

- Ele não está muito velho para isso não?

- Fale isso para ele quando chegar. Augusto anda muito teimoso.

- A única teimosa aqui é você Celina. Não ligue para o que ela diz, meu neto favorito.

- Neto favorito, vô? Sou o único que o senhor tem.

- Vem dá um abraço nesse velho que está morrendo de saudades!

Fui até meu avô para abraça-lo. Recebi um abraço apertado de volta.

- Como você está vô? – Vovó nos deixou e foi até a cozinha. Provavelmente foi pegar algo para comer. Eu vivia me empanturrando com as coisas gostosas que ela fazia.

- Melhor agora filho. E como vai o Bernardo?

- Meu pai? Melhor impossível.

- Recebemos o convite.

- Pois é vô. Quem diria, vou me casar. – Abri os braços.

- Está feliz? – Pensei por um instante. Por que não contar a eles a verdade?

- Na verdade não. Vim pra cá para pensar sobre isso. Thalita é alguém importante, mas não é quem eu amo.

- Casamento é uma coisa difícil, sem amor então... – Ele coçou a barba branca.

- Cristiane agora administra a pousada da família. – Vovó entrou na sala trazendo consigo bolo de fubá que eu tanto amo, café e a novidade.

- É mesmo vó? – Meu coração acelerou só de ouvir seu nome. Deve ser a saudade.

- Sim, ela perdeu a família, você soube? – Como? – Em um acidente de barco. Ela sofreu muito Arthur.

Pensar na menina que um dia eu amei que era tão falante e alegre sem a família, era de cortar o coração.

- Queria vê-la. Mas ficará para depois. Primeiro quero comer essa broa, que está me dando água na boca.

- Talvez hoje. Hoje temos a Festa das Três Bocas.

- Já cheguei em festa? O que a senhora preparou?

- Essa broa que está comendo, mas não se preocupe, tem mais.

A Festa das Três Bocas era oferecida pela comunidade da ilha, que se reunia para oferecer comida para os turistas.

Será que estou preparado para encontra-la? Depois de tantos anos. Será que esse meu coração será um traidor e revelará tudo o que ficou guardado à sete chaves, durante tantos anos?

####

Por favor, me contem o que estão achando. 

Como será esse reencontro? Duas pessoas que não se vêem há tanto tempo...

Beijos da Mari! <3

Recanto do Amor - DEGUSTAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora