Capítulo VIII

482 38 8
                                    

Olha para mim e não pronuncia nenhuma palavra. Fico um pouco furiosa com a situação, mas acredito vivamente no sentido dele e nas suas escolhas. Levantamo-nos e despedimo-nos do restante pessoal da banda e saímos do hotel. A noite está quente aqui no Porto e as pessoas começam a aparecer mais pela zona. Vamos por uma rua paralela ao Teatro S. João e chegamos a um elevador, o "Elevador dos Guindais" segundo o que diz numa placa aqui colocada. O Miguel Coimbra avança, começando a descer umas escadas que parecem não ter fim e nós vamos atrás. Agarro a mão do Francisco e desço com ele. Chegamos a um local amplo e que tem uma espécie de elevador.

-Aqui têm os bilhetes. Guardem-nos bem! - explica o Cristovinho para nós, enquanto nos deslocamos até ao elevador. Nunca andei numa coisa destas, mas parece que vai ser interessante.

O Francisco mete o braço nos meus ombros e entramos para o elevador. Esperamos um pouco e, entretanto, ele começa a funcionar. Mal olhamos para trás de nós, começamos a deslumbrar o rio Douro e a sua paisagem circundante. É simplesmente fantástico! Parece saído de uma tela pintada cuidadosamente a aguarelas! Um misto de escarpas com as luzes da ponte D. Luís e de Vila Nova de Gaia. O rio espelha a luz do céu e conseguimos ver os barcos que por ali passam, levando centenas de turistas a dar uma volta pelas pontes. Demoramos uns largos minutos a acabar a viagem e aproveito para tirar mais fotos para recordação e eles também. Saímos do elevador e vamos em direção á ribeira, porque, segundo eles, a comida é fabulosa e pelo que já deu para entender, a vista também. Entramos por um arco antigo, subimos umas escadas e sentamo-nos numa esplanada de um restaurante mesmo em frente ao rio Douro. Vemos alguns turistas a jantar também, outros a comprarem recordações para levarem para as suas terras natal e outros a sentarem-se na beira da ribeira, simplesmente a apreciar a vista. Descansamos um bocado e o Francisco aproveita para ler o jornal que estava ao pé. O Coimbra pegou num sumo e sentou-se na beira da esplanada e por fim o Cristovinho atacou os petiscos que nos trouxeram. Eu fiquei pelo copo de sumo de laranja, enquanto espero.

O jantar corre com a normalidade habitual e com a dose correta de conversa e partidas, típica destes três rapazes.

-Vamos passear a seguir ou nem por isso? – pergunta o Miguel Coimbra com vontade de ir para a noite do Porto...estes rapazes são todos iguais!

-É melhor não... estamos bastante cansados já com isto tudo! – exclama o Cristovinho já a levantar-se da mesa. – Vamos para o hotel que amanhã temos que ir para estúdio!

Levantamo-nos logo a seguir a ele e seguimos no sentido contrário ao que viemos, desta vez já completamente de noite. O trajeto parece demorar mais, talvez porque as minhas pernas já estão bastante cansadas, mas lá conseguimos chegar.

-Então não havia um caminho mais rápido? Estou a morrer quase! -pergunto, cansada de tanto andar.

-Não querias conhecer a cidade? Nada melhor que irmos a pé! - explica-me o Coimbra, porque é o único que está a subir as escadas comigo. O Cristovinho já vai mais à frente com o Francisco ainda mais à frente dele, porque tinha de ir ao quarto de banho...

Finalmente chegamos aos nossos quartos e vemos o Francisco e olhar parado para lá para fora. Estava de costas para nós, mas dava para entender que estava preocupado. Ele vira-se devagar e ainda assustado e olha para mim.

-Francisco? - pergunto.

-Que se passa, mano? - pergunta o Coimbra.

-Não sei bem! - diz-nos e larga um envelope vermelho-sangue da mão esquerda. Ele está mesmo muito assustado. - Quando cheguei aqui, eu entrei aqui e tinha isto em cima da cama! Eu não sei o que se passa, mas alguém entrou aqui!

-Deixa-me ver isso! Não seria alguma fã? - exclama o Miguel Coimbra a olhar para o envelope.

-Uma fã não escrevia isso! – Exclama o Francisco para nós, sentando-se na beira da cama com uma expressão muito triste, pensando no que se está a passar.

O Coimbra decide abrir o envelope e eu e o Cristovinho ficamos atrás dele, tentando ler o que diz. As letras eram grandes e a mensagem era fácil de ler:

"ACABO COM A TUA VIDA SE CONTINUARES COM A MIÚDA! VAIS MORRER ASSIM COMO MORRERAM AQUELES QUE EU MATEI ANTES DE TI!"

Por uns momentos ficamos parados a olhar uns para os outros a tentar perceber a razão daquela mensagem e, acima de tudo, tentar perceber quem a mandou... Não é normal isto acontecer, principalmente quando o Francisco nem publicou fotos comigo e eu não estou assim tantas vezes com ele. Vou até ao pé dele e tento acalmá-lo, mas não está a ser fácil. O Coimbra e o Cristovinho decidem dar privacidade e despedem-se de nós, dirigindo-se cada qual para seu quarto.

Ficamos só nós: ele parado, com as mãos encostadas à boca, parecendo estar a rezar, mas está a pensar na vida e eu a olhar para ele, tentando perceber a razão que causou isto tudo...

-Quem será? Suspeitas de alguém? – Pergunto, sentando-me perto dele.

-Não faço ideia! Além disso nunca tinha recebido nada igual! – Explica aterrorizado.

-Isto não é normal! – Digo. Ele olha para mim seriamente e assusta-me.

-Sofia, o que isto quer dize: "assim como morrera aqueles que eu matei antes de ti"? – Pergunta-me.

-Não sei, Kasha! Sei que nunca mais vi nenhum ex-namorado meu, apesar de ter tido só dois, mas deve só para assustar! – Afirmo.

O Francisco agarra-se a mim e liga a televisão para vermos uma série. Os minutos passam e eu não consigo prestar atenção a nada. Este bilhete faz-me lembrar tudo o que passei quando era mais nova, aliás, parece que quem o entregou sabia exatamente que eu nunca mais me encontrei com nenhum deles. Acredito que não morreram, este anónimo foi longe de mais, mas que nunca consegui amar ninguém como o Francisco, isso é verdade. Agora, o que mais me preocupa é: será que isto vai continuar se eu estiver com ele ou vão esquecer-se da nossa relação e deixar-nos em paz?


Amar, sonhar, sorrir e chorar ||D.A.M.A (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora