Capítulo VI

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                São onze da noite quando chegamos a minha casa e começamos a fazer as minhas malas. As do Francisco já estão no carro dele, prontas para amanhã colocarmos na carrinha que nos vai levar ao Porto. Ainda não vamos todos para lá, apenas uma parte da banda, até porque o concerto será só em setembro e agora é mais para acabar de gravar o álbum e passar férias.

Estou mais feliz que uma criança quando recebe um brinquedo novo no natal. Fico por uns momentos sentada na minha cama enquanto ele fica a tentar descobrir a passe do cadeado que tranca a minha mala. É uma sensação incrível ser namorada de alguém como este rapaz tão talentoso! Sei que muitas fãs davam tudo para poder estar na minha posição neste preciso momento. Mas não vou deixar que elas se sintam mal por ele ter namorada. Quero que elas o possam conhecer, o possam tocar, como eu posso; que o possam abraçar, como eu o abraço. Enfim... que por uns minutos sejam a namorada que gostavam de ser.

-Kasha, podes despachar isso, por favor? – peço, visto que ele não consegue adivinhar a passe do cadeado.

-Aqui está, meu amor! Desisto! -diz-me, enquanto me passa a mala maior, cor-de-rosa... - Tens assim tanta coisa para ter três malas e uma delas assim tão grande. Vê-se logo que és rapariga!

Ao ouvir isto eu viro-me para trás e atiro-lhe com umas sapatilhas rasas e brancas que tinha na mão e estava a arrumar. Quase que lhe acerto na cara, foi mesmo por pouco e a sorte foi que ele se desviou a tempo.

-Não vamos falar disso Senhor Francisco, pois não? É que caso não se lembre, é muito mais chato a escolher roupa que eu. E eu sou rapariga, tenho mais para vestir. - digo-lhe ao cruzar os braços. Ele faz uma careta de chateado e deita a língua de fora. - Se ajudasses a meter a roupa nas malas e não estivesses aí a "tocar viola" era muito melhor!

-Está bem! Posso atirar as tuas roupas para dentro das malas? -pergunta-me e eu começo a rir da maneira com que ele fala, mas abano com a cabeça a dizer que não.

Continuamos então os dois a preparar as minhas malas. Lá trocamos um trocadilho ou cantamos uma canção ou outra e assim se passa grande parte da noite. Ao fim de umas horas já não restava roupa no quarto. Estava tudo tão vazio, como a primeira vez que lá cheguei. Cansados, sentamos na beira da cama.

-Tens uma almofada fofinha? -pergunta-me.

-Não, porquê?

-Vais precisar na carrinha, quando quiseres dormir! -diz-me e eu abano a cabeça. - Lembra-me que eu tenho na minha mala.

-Obrigada- digo-lhe ao dar um beijo na testa.

Ele começa a aproximar-se de mim e a mexer nos meus cabelos com bastante carinho, acabando mesmo por me beijar.

-Kasha, para. Isso agora não! – Exclamo calmamente.

-Mas está tudo bem? – Pergunta-me preocupado.

-Sim, mas preciso que me dês tempo! Desculpa. – Digo um pouco nervosa e envergonhada com a situação.

-Já te disse para não te preocupares. Se não queres eu tenho mais é que compreender! Gosto muito de ti e o amor não é só isso! Amar é saber respeitar! – Diz-me cravando um beijo na minha testa.

Por momentos fico a pensar no que ele acabou de dizer. O seu apoio para mim é mais do que importante. Tê-lo conforta-me imenso.... E sabe lá ele o que já passei à custa disso, mas não é uma conversa para ter com ele agora, ainda não sou capaz de tal.

Acabamos por adormecer em cima dos cobertores, com uma grande espectativa sobre a nova aventura que vamos viver a partir de amanhã. Só espero que amanhã o Francesco tenha tudo em ordem para seguirmos viagem.

São dez da matina e eu acordo com os raios de sol que vêm da varanda e entram alegremente no meu quarto. O Francisco, como sempre, está a dormir como nem uma pedra e ainda não acordou. Está um dia maravilhoso e só anseio conhecer uma cidade nova e pelo que ouvi falar é bastante interessante e convidativa.

-Kasha, acorda! São onze e meia! Estamos muito atrasados!! – Exclamo em cima dele para o assustar. Ele acorda atormentado e acaba por cair abaixo da cama de tanto aflito que estava. Quando recupera da queda, coloca os braços em cima da cama, vê as horas e olha na minha direção ainda com o cabelo bastante despenteado.

-Eu vou-te matar! Nem dez e um quarto são e tu já me queres matar de susto? Mau! - diz-me com uma certa vontade de dar cabo de mim por lhe ter mentido.

Descemos as escadas depois de nos vestirmos e prepararmos tudo para a viagem que se segue. Rapidamente comemos qualquer coisa e seguimos até à entrada da casa do Francesco que tem a carrinha em que vamos para ir até ao Porto.

-Bom dia! - diz o Francisco aos amigos que já estão à nossa. Como sempre, o Miguel Cristovinho está atrasado... Aquele rapaz fica muito tempo a dormir, pelo que o Francisco me conta.

-Estão preparados para a ida ao Porto? - pergunta o manager para nós. - São mais ou menos 3 horas de viagem. Sofia, é a tua primeira vez no Porto, correto?

-Já foram mais horas de viagens! - diz o Francesco. Todos se riem.

A verdade é que eles já tiveram vezes, segundo o Francisco, que tiveram de viajar da ponta norte de Portugal até ao sul de uma noite para a outra. Chega a ser muito cansativo tantas horas seguidas sempre sentados numa carrinha.

São quase doze horas e o Miguel Cristovinho aparece ao fundo da rua, com as suas duas malas laranja metalizadas. Vem com o seu típico andar descontraído, sem querer saber se já estamos todos sentados na carrinha ou não. Eu rio-me com a situação e cumprimento-o antes de me sentar ao pé do Francisco.

A viagem começa bem. Uns mandam 'snaps' a dizer que já estão em viagem, outros vão vendo as redes sociais uns dos outros. Tiram fotos para gozar e assim se passa a viagem até Fátima. Aproveitei para dormir um pouco, com a almofada que o Francisco me emprestou e só acordei porque a fome já aperta. Estamos mesmo no meio da autoestrada, sem áreas de serviço perto, sem uma casa nas imediações, sem uma única saída possível. Tento procurar comida dentro da minha mala. Tiro os meus fones para facilitar a procura e o Francisco coloca-os para ver a música que eu estava a ouvir. Dou uma trinca numa bolacha de chocolate e a carrinha vai abaixo. Ficamos todos alerta com a situação e olhamos uns para os outros.

-O que se passa, Zé? – pergunta o Francisco alarmado ao Manager que é quem está a conduzir a carrinha.

-MEOLIiii!!!- grita o manager. O Francesco muda completamente para uma feição muito assustada e só lhe apetece sair o mais rápido daquela carrinha. Olho para o Francisco e para o Miguel Cristovinho e nenhum consegue perceber o que se está a passar.

-Afinal, o que se passa? -pergunta o Miguel Cristovinho. E todos começam a falar entre si a lançar hipóteses sobre o que terá acontecido.

-Sabem, o senhor Meoli não foi inspecionar corretamente a carrinha e agora ela não funciona! – grita, irritado, o manager, direcionando o seu discurso para o Francesco. A expressão deles piorava a cada segundo e a verdade é que ninguém sabe no que isto vai resultar.

Os restantes rapazes ficam preocupados por estarmos ali parados no meio do nada, com a carrinha avariada... Nunca tinha acontecido antes e tinha logo que acontecer comigo aqui, sorte a minha.

Amar, sonhar, sorrir e chorar ||D.A.M.A (Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora