{ Chapter Ten }

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Fiquei no meu quarto a descansar e a ler alguns resumos que tinha feito no dia anterior. Estava sem cabeça para estudar a sério, embora precisasse. Combinei com o Luke que iríamos estudar juntos na quarta feira à tarde, aqui em casa, visto que nenhum de nós tinha aulas nessa altura. O exame era na sexta feira. Ele ia ajudar-me, e caso eu tivesse dúvidas podíamos voltar a encontrar-nos na quinta feira. Ele era mesmo um querido. Não sabia como podia agradecer-lhe por ajudar-me com os estudos. Ao menos Calum não embirrava comigo por eu me dar com ele. E continuava imensamente intrigada com aquilo que o Calum me dissera. Ou melhor, não dissera. Deixou-me pendurada novamente, impedindo-me de perceber porque não poderia ser amiga do Ashton. Ele parecia ser tão querido e simpático, como o Luke. Não era capaz de o imaginar de outra maneira.
O dia seguinte decorreu normalmente. Estive na companhia de Megan durante quase todo o dia. Viemos juntas para casa, como todos os dias. Contei-lhe que no dia seguinte ia estudar com o Luke, e ela ficou doida. Literalmente. E esse dia tinha chegado. Luke vinha ter a minha casa por volta das duas e meia. A minha mãe tinha arranjado uma pausa no trabalho para vir a casa almoçar comigo. Teve de comer um pouco à pressa, mas gostei que tivesse feito um esforço para me fazer companhia. Adorava a minha mãe mais do que tudo.
Depois de arrumar a cozinha e deixar tudo impecável na divisão, saí e fui ao meu quarto buscar o meu portátil, os meus livros e uma resma de papel caso fosse necessário fazer mais resumos ou fazer novos, e um estojo com lápis e canetas, para escrever. Seguidamente, olhei o relógio. Duas e quinze. Ainda tinha alguns minutos. Prendi os meus cabelos num rabo de cavalo, certificando-me de que estava direito, e liguei o meu portátil, para adientar algumas coisas. Íamos estudar na mesa da sala de jantar, para estarmos mais à vontade e mais confortáveis. Pouco após ter ligado o meu portátil, ouvi o som da campainha. Era o Luke, quase de certeza. Fui até à porta, e espreitei. Sim, era ele. Abri a porta, e olhei para ele, acabando por sorrir, quando o vi sorrir também.
"Olá, Sasha."
"Olá, Luke..."
Sorri-lhe, e ele aproximou-se, com uma mochila às costas. Dei-lhe espaço para entrar, e assim que o fez, fechei a porta, respirando fundo de seguida.
"Estás tudo pronto, na sala."
Murmurei-lhe, num tom de voz ligeiramente atrapalhado e envergonhado. Nunca tinha estudado com um rapaz, os dois sozinhos. E nunca nenhum se tinha oferecido para me ajudar. Estava um pouco nervosa, não sabia como as coisas iam correr. Mas tinha de estar calma, ou não ia ser capaz de estudar e assimilar as coisas. Foi até à sala, atrás de mim, e pousou a mala numa das cadeiras, e sentou-se na cadeira ao lado. Sentei-me ao lado dele, e respirei fundo, o que chamou a sua atenção.
"Tem calma... Vais conseguir. Eu vou ajudar-te, e vais tirar uma nota ótima neste exame. Vais ver."
Ele sorria, enquanto me olhava. Meu Deus, quem me dera estar nervosa por causa do exame. Mas o que me estava a deixar ansiosa era a presença dele. Aqui, ao meu lado. Não sabia explicar porquê. Mas ele era giro, mesmo giro. E eu nunca pensei que algum dia nos iríamos aproximar. Há anos que ele e o meu irmão eram amigos e isso nunca tinha acontecido.
"Eu sei... Obrigada por me ajudares."
"Não precisas de agradecer, Sasha. Não me custa nada."
Ele sorriu novamente, e virou o portátil para si, e em menos de nada, tirava com ele todas as minhas dúvidas sobre a obra Hamlet, de Shakespeare.
O tempo passava sem que nenhum de nós desse conta disso. Deviam ter passado umas três horas desde que o Luke tinha chegado e começámos a estudar. Tudo me parecia muito mais fácil agora. Ele era bem melhor a Inglês do que eu pensava. E a ajuda que ele me estava a dar era absolutamente preciosa. Já tínhamos visto tudo aquilo que ia sair no meu exame, na sexta feira. Estávamos a rever as coisas todas, mas ambos já meio que a custo. O Luke pousou algumas folhas sobre a mesa, ao lado do portátil e olhou para mim.
"Estou a morrer de fome. Podemos fazer uma pausa, e comer qualquer coisa?"
"Claro. Também estou a precisar de descansar um bocado, e já estou com fome."
Sorri-lhe, e puxei a minha cadeira para trás, podendo depois levantar-me. O Luke fez o mesmo e ambos fomos até à cozinha. Ele ficou junto da bancada central, enquanto eu me dirigia à despensa.
"O que é que te apetece?"
"Aquilo que tiveres por aí. Só quero comer."
Falava num tom de voz divertido, o que me fez rir. Virei-me para as prateleiras da despensa, e peguei em dois pacotes de bolachas. Voltei-me de novo para o Luke e mostrei-lhe os dois pacotes de bolachas de chocolate.
"Agrada-te?"
"Muito."
Ele riu, e ambos nos sentámos, na mesa da cozinha. Dei-lhe a escolher entre os dois pacotes de bolachas, e depois disso ambos começámos a comer.
"Então... O que é que pensas fazer quando acabares o secundário? Ir para a universidade?"
"Sim. Gostava muito de trabalhar numa editora, ou algo do género. Parece ser interessante. Também gosto imenso de fotografia, mas tenho quase a certeza de que não vou ter sorte nisso. E tu?"
"Não tenho muitas ideias para o futuro... Não sei, acho que ia gostar muito de ser professor de guitarra, ou algo assim. Ensinar aos outros aquilo que eu sei parece-me ser interessante."
Retirei uma bolacha do pacote e levei-a à boca. Depois de a comer, olhei-o.
"Parece-me bem. E não há nada melhor do que fazermos aquilo de que gostamos, não é?"
O Luke sorriu, e isso fez-me sorrir também.
"Tens razão... Hm, vamos mudar de assunto."
Tossiu e passou uma das mãos pelos cabelos loiros, levando uma bolacha à boca com a outra mão.
"Hm, Sasha... Eu... Gostavas de sair comigo no fim de semana?"
Notei que as bochechas dele estavam a corar, e de repente as minhas também.
"Não é um encontro. Bem, mais ou menos, mas como amigos. Não é nada de especial. Eu não costumo convidar raparigas para sair. Não tenho jeito..."
Notei que estava muito envergonhado, e isso acabou por fazer-me sorrir um pouco, embora estivesse um pouco atrapalhada também.
"Sim... Pode ser, parece-me bem."
A minha voz tremia muito ligeiramente, mas tentei disfarçar. E o Luke também estava demasiado envergonhado para reparar, felizmente.
"Boa. Hm, no sábado?"
Respirou fundo, enquanto brincava com os próprios dedos, e me olhava, com um ar nervoso.
"Sim. No sábado."
Sorri-lhe, e ele sorriu também, já mais descansado. Continuámos os dois a comer, enquanto conversávamos. Acabei por roubar-lhe uma bolacha ou duas, e ele a mim. Os dois pacotes acabaram vazios. Depois de os colocarmos no lixo da cozinha, voltámos para a sala, para a mesa onde estávamos a estudar.
"Podemos só rever mais algumas coisas? Depois podes ir embora."
Ele olhou-me e apenas sorriu, sentando-se de novo.
"Vamos lá então. Vais ter uma nota excelente neste exame."
Sentei-me ao lado dele, e gastámos mais alguns minutos até sentir que já não tinha mais dúvidas . Quando Calum chegou a casa, por volta das seis e meia, eu e o Luke já tínhamos terminado. Estávamos no sofá a fazer tempo, a ver televisão. Como seria de esperar, ele estranhou o facto de o Luke e eu estarmos sozinhos, mas não disse nada. Pelo menos a mim. Os meus pais chegaram também. A minha mãe subiu até ao quarto para tomar um banho e descansar um pouco, e o meu pai foi para a cozinha começar a tratar do jantar. Depois disso, Luke teria de ir para casa. Calum levou-o à porta, e eu fui atrás dele. Fiquei perto da porta da cozinha, a olhar o Calum. Quando Luke se foi embora, aproximei-me dele. A nossa conversa ainda não estava concluída. Ainda precisava de saber o porquê de ele me querer longe do Ashton. Está bem que não nos falávamos desde o dia em que nos tínhamos cruzado aqui em casa, mas eu queria saber, de qualquer maneira.
"Calum?..."
Ele olhou-me quase que de imediato, e sorriu.
"O que é que se passa?"
"Podes, por favor, concluir a nossa conversa? Do outro dia?"
Não foi preciso dizer mais nada. O seu sorriso desvaneceu ligeiramente, e respirou fundo.
"Vamos para o meu quarto... Falamos lá."
Suspirou, e fez um sinal com a mão, para que eu o seguisse até à escada, e depois até ao quarto dele. Entrei, e ele fez o mesmo, fechando a porta atrás de si de seguida. Sentei-me em cima da cama do meu irmão e olhei-o, com uma expressão meio "curiosa" no rosto.
"Podes começar. O que é que ele tem de mal?"
"Ele é um otário, Sasha. Ele está constantemente a atrair raparigas para perto dele, e acaba a iludi-las. A última suposta namorada dele era tudo uma brincadeira. Ela tem problemas, e ele não sabia. Fê-la apaixonar-se por ele, esteve com ela uns meses e depois deixou-a. E agora ela está obcecada e não o deixa em paz e é bem feito. Não te quero perto dele por essas duas razões. Por ele ser um palhaço, e por causa da maluquinha da Chloe, não quero que eles os dois te façam mal. Ele não quer nenhuma relação. Só brinca com os sentimentos das raparigas por diversão. Ele não é capaz de pensar no quanto magoa os outros."
Tudo isto me parecia tão esquisito. Ele tinha-me falado da ex namorada. E tinha-me dito que a tinha deixado, exatamente por ela andar obcecada por ele. Nada disto me fazia sentido. Porque eu sabia da história da namorada. E agora estava muito confusa, mas não queria fazer mais perguntas. Não sabia se devia afastar-me mesmo dele. Parte de mim dizia-me para dar ouvidos ao meu irmão, mas por outro lado não queria fazer o que ele me dizia. Eu tinha idade para saber defender-me sozinha. E não era estúpida nenhuma. Sabia perfeitamente se deveria afastar-me dele ou não. Levantei-me da cama do Calum, sem nada dizer, e saí, descendo de novo as escadas até à cozinha, para ajudar o meu pai com o jantar. Queria concentrar-me nos meus estudos, e pensar no que faria com o Luke no nosso "encontro". Não queria problemas com um rapaz que poderia vir a partir o meu coração.

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