Capítulo 2

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Amy

Cheia de autoconfiança, cheguei às sete da manhã, com uma hora de antecedência, na editora Martin Claret. Com um vestido tubinho preto clássico na altura dos joelhos, acompanhado com casaquinho, bolsa e sapatos escarpim na mesma cor. Eu realmente me sentia profissional, era a primeira vez que me vestia assim. E meus cachos loiros, agora bem claros, amarrados em um rabo de cavalo, completavam o visual.
A editora se localizava em um prédio mediano de cinco andares, em ladrilho vermelho e branco, no centro da cidade Portvill. Para amantes de livros como eu, era um lugar inspirador. Ao entrar, vi que tudo era metálico com paredes brancas. A recepcionista, uma jovem morena linda e sorridente que atendia pelo nome de Cibelly, me explicou que cada andar era um departamento com suas respectivas salas. Quando disse que estava ali para preencher a vaga de assistente, seu sorriso, antes receptivo, se tornou malicioso. Ela então me informou que minha sala era no último andar, número 17. Caso eu quisesse, poderia esperar na recepção ou na própria sala, que antecedia a do sr. Bryan. Por fim, ela sorriu e advertiu:
— Cuidado, querida! As assistentes costumam ter um tempo curto por aqui.
Mesmo com a curiosidade eminente de perguntar o porquê, apenas sorri e dei de ombros. Mantendo em mente que eu precisava do emprego, entrei no elevador e subi até o meu destino.
Chegando ao quinto andar, entrei na sala indicada e me animei com o que vi. A sala que antecedia a do sr. Bryan tinha uma estante com livros, quadros de arte retrô e uma mesa metálica com várias gavetas, em cima um computador de última geração e um vaso de flores. Era bem arejada, com janelas enormes que me permitiam ver o centro da cidade, e podia-se dizer que a cadeira era a mais confortável que eu já havia sentado até então. Uma típica sala de secretária, mas, aos meus olhos, era a mais perfeita de todas. O que me incomodou um pouco e ao mesmo tempo me deixou curiosa, foi o fato da porta da sala do sr. Bryan ser de vidro transparente, parecia que eu seria vigiada a todo tempo por ele, mas logo afastei essa insegurança da minha mente. Era o meu primeiro dia e eu tinha a intenção de fazê-lo inesquecível.
As horas passaram, e mesmo meio perdida e já tendo imaginado mil maneiras de me portar ao conhecer meu chefe pessoalmente, ao ouvir um burburinho no corredor, respirei fundo para tentar passar uma falsa tranquilidade. Que caiu por terra ao me deparar com Bryan M. Claret entrando em minha sala.
Fiquei surpresa ao confirmar como Helen o descrevera muito bem. Cabelo castanho liso mediano, olhos da mesma cor, corpo atlético e sorriso extremamente sedutor. Ele era encrenca, e das grandes. Um homem muito atraente foi a primeira frase que veio à mente. O tipo que com certeza era o centro das atenções, e julgando estar entre os seus vinte e poucos anos de idade, ele parecia gostar disso. Engoli em seco quando Bryan parou em frente à minha mesa e, com um sorriso charmoso, me disse:
— Bom dia, srta. Karter. Eu sou Bryan Claret, seu chefe. — Sorriu novamente, e que sorriso. Ele era lindo e sabia disso. — Vejo que você já se instalou, que bom. Isso mostra que tem atitude e é isso o que me impressiona em uma mulher. Espero que possamos nos completar aqui, já sabe o que fazer?
Eu estava paralisada. Tudo bem que já havia me deparado com alguns homens bonitos, mas ele ia bem além disso, talvez fosse seu perfume tão delicioso, ou o fato de ter uma beleza muito atrativa. Juro que demorou uns dois segundos para conseguir responder. Bryan parecia ser tão espontâneo, e toda a sua pinta de galã me fez lembrar de como Helen foi certeira em suas palavras, mas logo fui interrompida de meus pensamentos pela voz sedutora do meu chefe.
— Algum problema, srta. Karter? Você me entendeu?
— Não, tudo bem, entendi sim, sei... sei sim, eu acho... — Sorri sem graça e, rapidamente, um pensamento bobo me invadiu. Parabéns, Amy! É assim que você quer impressionar no seu primeiro dia? Debochei de mim mesma.
— Bom, vamos à minha sala e eu lhe explicarei em detalhes como tudo funciona aqui — Bryan concluiu, com um sorriso que fez minhas pernas tremerem.
E somente quando notei que ele me aguardava, que minhas pernas finalmente resolveram se mexer. Eu sei, para um primeiro dia era um mico atrás do outro. Merda!
A sala, que era bem ampla e branca, como todo o prédio, tinha uma decoração moderna, com uma estante contendo muitos livros, quadros na parede que seguiam a mesma linha retrô, os vários prêmios que a editora ganhou emoldurados em quadros, uma mesa grande com computador, cadeiras confortáveis, uma janela enorme e, ao fundo, uma mesa para pequenas reuniões. Bryan explicou que eu teria que revisar os livros em sua última fase antes que fossem para edição final. Lógico que havia uma grande equipe para efetuar a demanda, mas eu daria a última conferida geral, para que assim ele pudesse aprovar, além, claro, cuidar da sua agenda e reuniões.
Após explicar como tudo funcionava, ele me entregou alguns projetos em fase final, e com essa pilha me dirigi para a minha sala e iniciei o meu trabalho.
As primeiras semanas foram as mais difíceis, mas como Helen previu, com o tempo comecei a tirar de letra, conferindo todas as etapas como: edição, diagramação, revisão de provas e, por fim, impressão. E o melhor, ele me deixava ficar com um exemplar dos que estivesse entre meu gênero favorito. E como eu preparava o lançamento junto a equipe da editora e autor, ao final, tinha meu exemplar autografado e com dedicatória. É, eu realmente amava esse emprego.
E com isso as semanas se tornaram meses, e, apesar de chegar ao serviço no horário certo e sempre sair depois, todos os dias eu me apaixonava ainda mais pelo trabalho. Com o passar dos meses, apesar de todo o charme e encanto do meu chefe, acho que todos entenderam que comigo seria diferente, mesmo o achando um pedaço de mal caminho.
Bryan era um galinha, o típico que dorme com mais mulheres do que pode se lembrar e, claro, as constantes ligações que eu recebia de mulheres cujos corações foram partidos pela ausência de atenção e retorno de ligações do meu chefe após um encontro, me fez ter ainda mais a certeza de que eu seria só sua assistente e que a relação sempre seria profissional. E isso nos fez ter uma conexão bem melhor em termos profissionais, e meus colegas de trabalho, que antes fizeram até apostas de quanto tempo eu duraria, ao me conhecerem melhor, não ficaram surpresos por eu ser a primeira assistente que durava mais que cinco meses.
Mesmo com as brincadeiras, eu não poderia pedir um chefe melhor, o humor de Bryan sempre era o mesmo, salvo nas segundas — dias esses que ele sempre chegava de ressaca —, mas na maioria das vezes ele chegava às dez da manhã, com um sorriso tão radiante que deixava até o sol meio sem graça, com a mesma pinta de galã, o perfume viciante e com as brincadeiras sem graça de sempre. Lembro-me até do dia em que resolvi deixar meus cachos soltos, e ao chegar à sala, antes de me cumprimentar, ele exclamou:
— Amy Karter! Admiro mulheres como você.
Quando ia agradecê-lo achando ser um elogio, Bryan continuou:
— Tem tanta liberdade de expressão, que até seu cabelo entra na onda. — Sorriu, cheio de gracinha. Como viu que eu não correspondi ao manter meu semblante sério, rapidamente ele desfez seu sorriso. — É brincadeira, eu acho lindo. — Apontou para a própria cabeça. — Cachos volumosos, eu gosto, realmente, me desculpe se...
Essa era umas das qualidades de Bryan, diante da possibilidade de magoar alguém, ele rapidamente voltava atrás e se desculpava.
— Está tudo bem, estou só brincando. — Após ver meu sorriso, aliviado, ele retribuiu e foi para a sua sala.
Esse era o Bryan, que ainda que fizesse observações nada convencionais, era um bom chefe e começava a desconfiar que poderíamos ser grandes amigos.


 

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