Prólogo

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“A história será gentil para mim, pois pretendo escrevê-la

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“A história será gentil para mim, pois pretendo escrevê-la.”
WINSTON CHURCHILL

A frase dita por minha professora de história ainda ecoava em meus ouvidos. E apesar dos meus seis anos de idade, não pude deixar de sorrir ao me imaginar escrevendo a minha própria história.
Enquanto o ônibus cheio de crianças barulhentas cumpria sua missão de nos levar de volta para a casa, sentindo o vento gélido soprar pela janela aberta, eu pensava no que me aguardava lá. Quase como um sussurro, a voz da professora soou novamente em meus ouvidos, me fazendo questionar quem poderia estar escrevendo a minha história, fosse quem fosse, provavelmente não era um bom escritor. Eu deveria encontrá-lo e dizer que estava errado, que não era aquela história que eu queria para a minha vida, mas antes que permanecesse em meus sinceros pensamentos, ao olhar para a rua já tão conhecida, percebi que havíamos chegado ao meu destino. Peguei minha mochila e, timidamente, após agradecer ao motorista, desci do ônibus, que seguiu com as outras crianças. O rosto familiar de minha mãe não me despertou sorriso algum. Não houve beijo ou um caloroso abraço. Lado a lado, seguimos. E antes de sequer pronunciar uma palavra, sua voz já tão conhecida quebrou o gelo entre nós quando estávamos próximas à porta de entrada da nossa casa.
— Querida, tenho uma boa notícia. — Olhei para o seu rosto cansado, ciente de que nada que poderia sair da sua boca parecia realmente bom. — Você terá um irmãozinho. — Encarei a mamãe, sem conseguir entender se havia algum sentido nisso. Realmente era necessário mais alguém vivendo naquele inferno? Sem mesmo esperar por uma resposta, minha mãe continuou: — Será nosso segredo, contarei ao seu pai no momento certo, espero contar com você. — Ela sorriu.
E bem oposto àquele sorriso, ao entrar em casa e escutar a voz do papai ao telefone, às pressas, eu corri para o quarto antes que pudesse ser notada por ele. Como em todas as outras vezes, ajoelhei-me próxima à cama e, entre sussurros, implorei a Deus para me tirar daquele pesadelo, mesmo já não acreditando que isso aconteceria. Mas antes que eu conseguisse terminar a minha prece, a voz que gritou meu nome me lembrou a qual história eu pertencia. Era certo que mesmo fazendo mil preces, não havia como mudá-la. Pelo tom áspero na voz do meu pai, eu já sabia que ele não estava em seu melhor dia, e, como de costume, eu também sabia como isso terminaria.

Trapaças do destinoOnde histórias criam vida. Descubra agora