Capítulo 2

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Quão terrível uma mulher pode ser quando se esteve no inferno e sobreviveu?

— As faces da Senhora da escuridão, de Ruthadel.

— As faces da Senhora da escuridão, de Ruthadel

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Era uma criança sob um céu negro como a morte.

Acima, a luz da lua, pálida e brilhante. Abaixo, as águas do Lago dos Espelhos, tão profundas quanto traiçoeiras, vermelhas como o sangue. E em meio ao completo silêncio, Katrina distinguia apenas o medo. O medo que assombrava seus pensamentos. O medo que tornara- se uma companhia indesejada, e que a garota depois de muito tempo começava a aceitar que jamais a deixaria.

Devagar, seus olhos percorreram a floresta iluminada pelo luar, sentindo uma aflição quase palpável martelar contra seu crânio. O vento balançava a copa das árvores que se esperramavam à sua frente, e a noite encobria o horizonte num manto de estrelas. O coração dela bateu mais forte. Aqueles bosques carregavam lendas antigas, histórias sussurradas diante de fogueiras sobre seres estranhos e perigosos que habitavam aqueles ermos, descendentes cruéis e amaldiçoados do esquecido Reino das Fadas.

Mas a Floresta de Daristorn ainda se lembrava dos seus filhos perdidos. Os pássaros se recordavam dos cânticos celestias que noutrotempo haviam sido entoados pelos gnomos, as águas cristalinas ainda reverberavam com os resíduos do poder que outrora dera aos rios uma beleza sobrenatural.

Uma coruja rasgou o silêncio, e Katrina aproximou-se do lago tremeluzente, sentindo os pezinhos latejarem em protesto. Não sabia para onde ir. Nunca havia saído de Ferassen antes e embora seu pai houvesse contado histórias sobre a região, jamais pensara que um dia precisaria delas.

Cansada demais, sentou- se à beira do lago e abraçou os joelhos, tentando segurar as lágrimas. Era pedir demais para uma garota só. A dor era mais forte, mais pesada e finalmente havia a vencido. Com o rosto entre as pequenas mãos, Katrina desatou a chorar, o peso dos últimos dias caindo sobre seus ombros. Levou um tempo para perceber que estava se balançando para frente e para trás, ora tentando manter seus pensamentos contidos, ora desejando apenas aquecer-se contra o frio. De sua boca, escapou uma antiga canção de ninar, uma que sua mãe costumava cantar em noites como aquela:

Sob a nuvem que jorra o fim do dia,
Eu me dirijo para o caminho que me leva de volta para a casa.
A estrada está chamando agora,
E sinto que devo partir.
Para o meu verdadeiro lar.
Para o lugar onde não estarei sozinho outra vez.

Katrina conteve um calafrio. Porque em algum lugar dentro daquela clareira, uma voz que não podia ser inteiramente humana ressoou em seus ouvidos, completando a sua canção. Era quase mágica. Parecia vir de todas as direções e ao mesmo tempo de nenhuma. Uma nota de sonhos e pesadelos. Tão feminina quanto podia soar.

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⏰ Última atualização: Mar 04 ⏰

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