Quinquagésimo sétimo dia

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Humanos também são animais.

Hoje a minha mente está clara como água. Estou imune. Fiquei imune a tudo o que me cerca e todo sentimento que vem de dentro de mim.

Já não sinto mais empatia, medo, angustia... Esperança. Sou agora como uma boneca. Com a mesma feição por fora e nada por dentro. Sem nenhum tipo de emoções.

O ser humano é tão incrível, tão perfeito. Eles são inteligentes, idealistas, realizadores de sonhos, desenvolveram fala e escrita, são capazes de criar e manter laços, proteger, viver. Como também são capazes de matar, destruir e corromper.

E o melhor. São dominantes. Sim, são grandes manipuladores, da natureza e dos de sua mesma espécie. Eles sempre conseguem o que querem graças a sua capacidade de se recriar para atingir seus objetivos. São animais na luta pela sobrevivência.

Eu achei que pudesse ter um animal dentro de mim também. Um que fosse tão forte e dominante quanto o dele. Um com o qual eu poderia lutar pela minha sobrevivência.

Mas eu sou só uma submissa. Ele é o dominante, esse é o seu território. Sou sua presa, e ele está me domando. Seu animal é mais forte que o meu, não é uma luta justa.

Mas como humana, descobri minha capacidade de ser fria, de não sentir. Não vou lhe dar o gostinho de ver o medo em meus olhos. Ele não me verá implorar.

O animal dele não terá o que quer de mim. Se ele quer desespero, não o darei isso. Vou ajudá-lo a encontar sua humanidade. Talvez ainda haja algo de bom nela. Não vou tentar lutar como um animal.

Porque eu sei que vou perder.

E de certa forma, ele também.

A menina do cativeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora