A menina do cativeiro

Último dia

Só mais um suspiro.

Apesar de tudo, eu quero agradecer. Agradecer pela força que me foi concedida todo esse tempo, eu não imaginava tamanha capacidade de superar os meus limites. A cada dia eu tinha ar preenchendo os meus pulmões, sol e vento acariciando a minha pele, água e alimento nutrindo o meu corpo.

Apesar de tudo, eu tinha minhas lembranças, elas me renovavam todas as manhãs e enchiam meu coração de esperança, para que eu continuasse, pois no dia seguinte eu me agarraria a ela novamente. Até que finalmente chegasse ao fim.

Quero celebrar a vida, do jeito que ela é. E as pessoas que desistiram no último minuto, de tomar aquele veneno, de colocar aquela corda no pescoço, de pular daquele prédio ou na frente daquele carro. Essas pessoas tiveram uma escolha. Vamos celebrar porque elas escolheram a vida! Essa escolha não foi dada a mim, mas eu não lamento, não mais.

Que tudo o que foi bom vire memória, eu tudo que foi ruim vire aprendizado. Não há mais "e se" e nem "porquês" apenas o conformismo, de que tudo o que aconteceu deveria acontecer, é assim que a vida é.

E é assim que ela termina também. Minhas páginas chegaram ao fim, não restaram lágrimas e nem sorrisos, não houve mais esperança. O preto se tornará branco. A luz vencerá a escuridão enfim. E eu já posso vê-la, posso senti-la, ouvi-la me chamar.

Estou pronta. Essa é minha libertação.

Meu último suspiro.

Enfim, estou livre.