Quinquagésimo quarto dia

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Eu devo estar pagando pelos meus pecados.

Quais coisas terríveis eu devo ter feito? Não dá para imaginar. Ou talvez eu não esteja pagando. Ainda.

Hoje eu orei pela primeira vez em anos. Eu não sabia bem como fazer, não sabia para quem orar e nem como pedir. Então me lembrei que uma vez alguém me disse que orar era como uma conversa. Uma conversa com Deus.

Foi bom fingir uma conversa. Me dava a impressão de que havia alguém aqui comigo. Então eu começei assim:

Deus, se estiver mesmo me ouvindo, me desculpe por não ter... conversado com o Senhor antes.
Eu preciso de ajuda, creio que o Senhor esteja vendo. Então te peço que ao invés de apenas ver, que me ajude. Me ajude a sair daqui, com vida.
Não mais ninguém aqui que eu possa pedir ajuda. Então eu preciso confiar que alguma ajudar possa vir dos céus. É a minha única chance agora.
Se eu estiver pagando por algum pecado, me perdoe. Eu me arrependo, de coração. Faça isso por mim.
Me ouça, dessa vez.

O gosto das lágrimas nunca foram tão reconfortantes. Ao dizer essas palavras eu senti meu coração se abrindo. Eu tinha fé. E agora podia senti-la, forte como nunca. Perder a fé talvez seja a única coisa capaz de destruir uma pessoa.

Lembrei também que quando pequena a minha mãe me ensinou a orar o Pai nosso. Orei novamente, acho que me esqueci de algumas partes. Mas fiz o meu melhor.

Tentei imaginar se ele estaria ouvindo as minhas orações. Me perguntei se ele também orava. Provavelmente não. Talvez nunca tenha orado na vida, ou nunca lhe ensinaram.

E mesmo assim, se ele orasse, quantas vezes teria que fazer para que Deus o respondesse?

O que teria que fazer para pagar por seus pecados?

Ainda havia perdão para ele?

A menina do cativeiroOnde histórias criam vida. Descubra agora